quinta-feira, 18 de julho de 2024

CRÔNICA DA PRAIA

Estamos sós, porém estamos juntos.

As inseguranças são sempre familiares e em cada história, de cada pessoa, os temas são distintos, mas as dores, as dores, são geralmente parecidas. Chove fraco aqui na praia, e também o mar é agitado. Das histórias dos transeuntes que caminham pela areia suja da praia, que um dia foi limpa, esses humanos que caminham, em meio as pombas, as gaivotas que passeiam com suas pernas lindamente longas e finas, isso tudo junto, eu observo e penso, somos sós, somos juntos e caminhamos.

Assim, parada em frente à barraca de bugigangas uma vendedora me seguia, em cada coisa que eu pegava, e olhava, e vacilava, e recolocava, percebi depois, que ela ia ao lugar que eu havia tirado aquilo, visto e não comprado, a moça "rearrumava", do jeito certo, o dela. O jeito certo. Na vida temos que ter o jeito certo. O seu jeito certo, não é o meu jeito certo que também não é o dele. E assim, estamos sós e somos juntos.  Na última vista, “vou levar este”, a moça sorriu, e deve ter pensado que finalmente, depois do passeio pela loja a fulana compraria algo.

O mar é agitado, tem uma certa névoa e o dia está cinza. Para Camões, o dia deu em chuvoso. E depois de caminhar até a praia agora suja, que um dia foi limpa, ouvi o senhor da outra loja que estava me observando e pensando que eu não era dali, era uma forasteira, avisou “cuidado com o carro”, eu distraidamente, não havia visto,  pensei que ele poderia não ter dito nada, e fiquei pensando como seria a vida dele,  quando olhei, vi que ele estava sentado com uma senhora ao lado, que deveria ser a sua esposa ou não, e eu agradeci fraco, um obrigado como a chuva fina. Estamos sós, mas estamos juntos, vemos o outro, somos juntos e caminhamos.

Sentada em frente ao mar revolto, vi a garota corajosa que entrava onda a onda, com a água pelo joelho. Ela ia e voltava, sozinha, nem olhava para ver se estavam vendo como era um disparate o que ela fazia. Um dia frio, o mar bravo, a névoa quase garoa, e a garota-coragem ali, porque não era justo no seu único dia de praia, não ter vindo Sol. Talvez, ela pensasse isto, e eu digo isso, porque eu pensei nisso, nos reveses que a vida dá, não é justo, não é justo. Estamos tão sós, nos sentimos tão sós, contudo juntos, sobrevivemos.

E então, cada história de injustiça, de incompreensão, de divergência, percebo que no final de tudo isso, de todas as coisas, a moça da loja, o velho e sua sei lá esposa, as pombas, as gaivotas, a menina coragem, eu, você, eles; todos nós estamos aqui, com nossas histórias e casos,dores, manias, opiniões, pensativos, juntos, esperando o Sol.

  

QUADRINHA DA CIDADE ALAGADA

O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU DE TANTA VERGONHA FALHOU DE TAMANHO DESCASO RUIU BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!