segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

LUTHIER


               Na oficina o homem observava o contorno da madeira. Passou mais uma vez a lixa do lado direito, arredondando o corpo do violoncelo inerte. Fechou os olhos para sentir; com uma das mãos espalmadas alisou de uma extremidade a outra; mantinha os olhos cerrados, o perfume da mulher amada veio junto ao cheiro do pó amadeirado do abeto...

 

domingo, 27 de janeiro de 2013

SONETO SINGELO


Na clareira que o Sol surgia

Duas flores querem brotar

Tinham elas dormido ao luar

Na espera da luz desse dia.

 

Era maria sem melancolia

Esparramada sem pensar

Era rosa de alguém plantar

Grudada em terra de magia.

 

Quem pensa que é uma ofensa

Maria derramada e suspensa

Nascer mesmo sem ser havida?

 

Não sabe que flor se convida

Para ser tanto rosa e perdida

Embrenhadas na beleza imensa.

sábado, 26 de janeiro de 2013

FLAMBAR II


Nessa noite a moça precisava de algo mais forte, conhaque. Enquanto esquentava entre dedos a bebida, o jazz instrumental tocava ao fundo. Incomodada pela falta da letra e na impossibilidade de tradução, começou a esboçar a narrativa que daria contorno ao jazz. A mulher conformada com o fim daquele romance, não mais chorava, num movimento renhido, foi viver...

A vida passa muito rápido.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

FLAMBAR



No banquinho a moça degustava o vinho, doce e do Porto. O blues tocava baixo, melódico e dizia na letra que o homem precisava de outra mulher, a anterior tinha sido um porre na vida dele. A moça traduzia o blues mentalmente, enquanto seu pé balançava no groove da batida. Não pensava em nada, sentia tudo, assim é bem melhor, estar sozinha no vinho, na música.

A vida passa mais lenta.

 

domingo, 20 de janeiro de 2013

AMOSTRA


Há um misto de sensações em mim. Hoje o dia está assim também, ora chuva fina com um meneio provocativo do Sol. Estamos confusos e num dilema. O passarinho começou um canto suave que aos poucos foi virando um sibilo irritador, ele também é confuso. As palavras saem meio tortas e sem um grande sentido. Mas que sentido ei de buscar por aqui? Nenhum desejo de resolver nada, estou em férias de mim, nem quero entender o trecho que acabei de ler. Quero apenas soltar a fumaça difusa e sem forma e olhá-la contemplando o indefinido. Sim é isso!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

POESIA BANDIDA


O corpo dói e a fadiga

Envolve a minha alma

Mas se vai sair a pulso

Não julgo só me curvo

Diante do teu jugo!

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A rosa

Não sei nada.
Nem fé eu tenho.
Olho para a moça da limpeza com a mesma dúvida que miro o padre, o carpinteiro, o poeta e a criança.
Vejo que o balançar das folhagens é tão inseguro quanto eu e nos rendemos ao vento. Minha irremissível falta de certeza e do sim. 
Apenas sei daquilo que é quântico; sei das horas, sei do Sol, só. E nem sei se saber tudo isso é certo ou preciso para se saber.
Quero o amor.
Não conheço o amor. O amor me é indefinido, amorfo e amoral. Não quero é ser sozinha.
A única coisa sabida é que a semente plantada há alguns dias, ternamente regada e iluminada poderá virar ou não a minha rosa...

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

MALSINAR


Enxovalhada essa alma mal humana que acha que pode sair por aí dizendo e fazendo o que quer;   sem doçura, tato, ensimesmada em sua podre e triste solidão, egoísta de gesto, de olhar, cujas atitudes devonianas traduzem o que é sempre doentio...
Alma insondável; há que se humanizar!

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

TERNURA


Só resta-me escrever, essa doce e afável literatura. Meu banho diário de palavras limpam minha alma e acomodam meu cotidiano no campo dos sonhos.

sábado, 5 de janeiro de 2013

PAU-DE-ARARA


Três destinos

Presos ao Sol.

 

O passarinho

Canta baixinho.

 

Negro na amarra

Geme até aurora.

 

Retirante na boleia

Chora, chora, chora.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

CUSTÓDIA


“Quem guarda o que tem a pedir não vem...”

Guarda-chaves

Guarda-comida

Guarda-caráter

Guarda-costas

Guarda-florestal

Guarda-móveis

Guarda-mor

Guarda-livros

Guarda-freios

Guarda-marinha

Guarda-poesias

Guarda-amores

Guarda-feridas

Guarda-amigos

Guarda-sol

Guarda-pó

Guarda-só!

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

MANCOMUNAR


Não já me empresta

Um verso; modesta

A maldita se recusa

A lírica jaz confusa.

 

Que faço eu com

Essa intensa dor?

Emprazado amor?

 

Preciso da escritura

Partitura, armadura

Está mancomunada

Minha poesia danada.

JUAZEIRO


A noite já cochilava enquanto esperava a madrugada chegar.
O rapazote sentia pelo cheiro da alvorada que era hora de sair. Nem pegou a vela, sabia que o silêncio era para ser total. O caminho era por ele conhecido, e os passos tinham que ser lentos. O coração não batia, estava mudo de emoção e desejo. Postou-se atrás da arvorezinha que escondia partes de seu corpo já adolescente e suas vergonhas.
A moça então saiu do casebre, como sempre fazia, para o banho lá fora. Trazia nas mãos o vestido amarelo e o vidro de perfume, além da toalha e sabão da casca do juazeiro. Rumou ao banheiro, que era ao lado do poço e passou a banhar-se, com os mesmos movimentos de sempre, sabia que era admirada...

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

JEITÃO


Meu, único

Meneio só, Marilice

Agrada, não sei, tanto faz

Tom desagrada, sei lá, é assim

Enfim, meu modo, o ser é esse

Quer ou não, larga, pega, enfim

Apagar o meu jeitão, é que não dá!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

CARA NOVA


Mudanças são bem-vindas... As exteriores são melhores, mais fáceis de mudar, já as de dentro, diria... quase impossíveis.  Tentamos muitas vezes e até conseguimos, planejamos, mas há quem diga que as grandes mudanças só vêm acompanhadas da dor ou do amor. Chavão ou não, sou adepta às mudanças, elas me instigam, embora não tenha coragem de ficar loira, por exemplo, talvez mechas, já valem?

A cara do Blog é nova, quem escreve, parece igualzinha. Será?  Não sei ainda, mas tudo pode mudar...

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!