quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

PAS SA TEM PO

e não é que o tempo passou
sem que eu olhasse tanto
com inveja da meninice
do frescor do dia que antes
era tão longo e inusitado
corria de pega-pega e
se escondia atrás da noite
eu sempre fui café com leite
passa mais devagar
passa mais devagar
passa mais devagar

domingo, 22 de dezembro de 2013

QUINHENTÃO


Caro leitor não comece essa leitura se não estiver com ânimo, visto que a matéria é longa e requer parte de seu tempo e talvez nada de grande te acrescente, considere apenas um desabafo, se é que pretende seguir.

Hoje comemoro quinhentas publicações nesse Blog Valsa Literária. Para mim mais que um feito, é uma conquista. Comecei a escrever com exatos quarenta anos, isto é, escrever algo de literatura, se é que posso chamar assim, escrever de verdade tantas mentiras, publicamente e agora aos quarenta e três, olho para esses poucos três anos com olhos de satisfação. Por que demorei tanto para começar a escrever? Simples, não sei ainda dizer; não sei se quero escarafunchar a temática, ou ainda, saiba lá no fundão e não queira ver; pouco importa agora. O que sei é que por analogia, peço a vocês que imaginem uma banheira a se encher e que de repente quase por transbordar, alguém venha e destampe, deixando que o líquido escorra gradativamente, porque é da sua natureza fazê-lo. No início, um grande amigo provocava-me com e-mails, solicitando mais do que respostas, repentes literários, pequenas quadras, poemetos. Nessa troca inusitada, a água estava por esvair-se ralo abaixo, e eu já não tinha mais o controle; gostei e senti como algo escandalosamente bom e necessário, queria escrever, timidamente, claro, no começo, mas depois a vazão aumentou, e a minha necessidade era a pulso, de chofre, vital. Sofria diariamente com minhas duras e próprias críticas, depois de feitas minhas escrituras, lia com olhos de leitora e não gostava de grande parte, não achava o estilo, percebia a falta da gramática normativa, errava nas vírgulas, construía subordinadas desconexas. Como sofria. Bem pouco tempo, em conversa com esse meu essencial amigo, poeta, escritor e compositor da melhor qualidade, debatíamos sobre a temática escrever e ler, escritor e leitor, e fui vencida pelas suas palavras que tomo por empréstimo aqui transcrito: “O escritor existe sem os leitores. Já que, desde que ele escreva e seja portador de um ou mais globos oculares, terá fatalmente que ler o que escreveu, então, será via de regra leitor também. Logo, existirá como leitor de si, justificando a existência do escritor, que é. Já o leitor, sem o escritor não pode ser leitor, a não ser que estejamos falando de um leitor de código de barras, o que equivaleria a um carcerário de prisão de segurança máxima despopulado. Marili existe porque existe. Jairo existe porque seu nariz. André existe porque o nariz do Jairo existe apontando para a existência de Marili. Fábio existe porque senão eu não existiria. E eu existo porque sim.”

Não sofro tanto mais, agonizo se não escrevo, porque tudo sai pela culatra como se cuspido fosse e não me pertencesse agora, ontem e nunca; se leio já não se parece comigo, não fui eu quem escreveu, tomou parte em universo que hoje desconheço e que tento caminhar ao lado sem qualquer expectativa de entendimento. Que delícia poder deixar o ralo destampado, sem a culpa do gasto. Que bom poder desatarraxar os nós da literatura e dar uma banana ao estilo. Que sensação única poder agora rasgar os tomos da gramática. Isso não mais pertence a essa escritora. Que venha a eternidade!

           

 


 

 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

LAGARTAS


Gente chateia

Gente é bicho

É mau humor

É invejinha, rancor

Gente é palha

Aparece e fogo

Fala e flutua

Gente oscila

Maldosa finge

Gente é humana

Poesia de escárnio

Narrativa sem fim

Gente é tese, artigo

É comentário e opinião

Gente assusta, afasta

Gentarada sem conclusão

Animais em transformação!

domingo, 15 de dezembro de 2013

A GATA


Ela contempla

Rosas, orquídeas

Que lhe sorriem e

Soltam perfume da

Manhã orvalhada

Não teme espinhos

Teria suas garras

Apenas...

Olha e passeia

Admirada

Pelo seu jardim

sábado, 14 de dezembro de 2013

MEIO DIÁLOGO


- Você devia ter vindo.

- Por quê?

- Porque sim.

- Você deu a entender o contrário.

- Claro que não, joguei várias indiretas.

- Não tenho que entender isso.

- Claro que tem, eu é que não podia ser explícita.

- Por que não?

- Porque cabe ao homem esse papel.

- Quem falou?

- Eu falei.

- Ah!

- Perdeu.

- Você também, então.

- Eu não.

- Lógico que sim.

- Não, as mulheres sublimam mais essas coisas.

- Verdade?

- É.

- Então, tudo bem. Não vou hoje também.

- Como não, ah... Tenha dó.

- Sublime.

 

 

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

APOTEOSE

Adoro ver gente
que passa pelo
abismo, dor e
provação e tudo
tudo de mais
agressivo e
mesmo assim
sabe o que é viver!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Hoje foi um daqueles dias...


Olhei para o Ipê sem cor definida que foi plantado em frente da minha casa, não sei que cor tem ainda, está com brotos, lindos e verdes, apostei no amarelo tradicional e fiquei muito emocionada, parecia uma idiota, vai brotar, vai brotar, desci do carro e tirei uma foto.

Depois, logo depois, acabei magoando uma pessoa que eu amo; coisas que fazemos toda hora com quem amamos, porque sabemos que essas voltam para gente, porque relevam e perdoam as grosserias e os maldizeres. Agi como uma uma idiota.

Esse foi um dia idiota; daqueles que saímos de nós mesmos, que perdemos o prumo, que escapamos de nós, do que acreditamos, que vemos de longe o quanto somos vulneráveis, humanos, idiotamente humanos, fugimos do que amamos; um dia que serve apenas para brotar na gente a ideia da mudança e do reconhecimento real dela.

domingo, 8 de dezembro de 2013

LEVANTE

Nasceu torto
o Sol, estava
confuso e morno
ainda havia um
pequeno fragmento
da Lua no oeste e
isso o irritava, muito;
ainda estava bêbada,
cantarolava e suava, e
insistia em ficar ali
no dia claro que dele
era.

sábado, 7 de dezembro de 2013

ASSIM


Tenho matutado tanto por esses dias, e me veio assim uma vontade escandalosa de viver. Não que não viva; vivo. Estou aqui ora essas, porém, sinto que é necessário que sorva todo instante. Comi hoje canjicas salgadas, o gosto da infância remeteu-me às doces, dos sacos rosa e transparentes em que se via e se sabia o que íamos comer, após rasgá-los estupidamente. Queria poder ver a minha vida meio assim, rosa e translúcida, sabendo por um fragmento do olhar o que ia ser logo agora e sorver e comer e viver, tão despreocupada quando o fazia ainda criança.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

POEMETO MAL ESCRITO


 
 
 
Nem sei se escrevo...
Escrevo?
Ou escriba?

Sou a quem escrevo

Subscrevo-me
De noite escrevinho
Nos finais escrituras
Quem eu?
A mim
Em si
Nem sei mais!
 
 

 
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Bulbo


Escapei do ninho, e vejo que a primavera nem ainda acabou, mas é assim, o escape deve ser rápido. Nesse mesmo instante senti que o vento é mais brando na primavera, minhas expectativas eram outras, porém o que se há de fazer com a brisa? Senti-la, apenas. Enquanto dormitava fora do ninho pude saber o que está do lado de cá e há certa angústia nisso tudo, porque se vê ao longe o que você era e o que tinha. Mas a brisa bate generosa em mim e diante desse diferente prazer, é mais certo que eu não volte. Minhas intenções eram tantas outras e nem sei mais se as tenho; que me importa? Tenho que não pensar é no sentir e é só.

sábado, 30 de novembro de 2013

FRAMES


Beija-flor ali doce

Meu olho bate em

Frames desajustados

Olho quadro a quadro, pulso

Sigo o coração do bicho

Que lateja e acelera a glicose

Meu peito me abandona e me entrego

Ao vento meio brisa, das asas

Que batem.

 

sábado, 16 de novembro de 2013

ACALANTO


Era bem cedo quando a velha senhora separava as gemas das claras, uma a uma, jogando na vasilha de ágata as preciosas, amarelos-ouro. Ao todo eram doze somente gemas. Arrastava as chinelas para cá e para lá, em movimentos deslizantes do chão recém-encerado. Pegou o vidro e mediu no prato fundo de sempre, do açúcar mais grosso, quase cristal, ajeitando as bordas com o dorso da colher de pau. Começou a bater as gemas com o açúcar primeiro lentamente, enquanto assoviava baixinho qualquer canção, depois o fremir era intenso; a melodia acompanhava agora os movimentos rápidos que nem a velhice havia ainda levado. Com a mão desocupada apanhava bocados de farinha de trigo que eram salpicados à mistura e assim, a massa ganhava o corpo que a boa e solitária mulher queria. O ponto era o mesmo de quarenta anos, nem um grama a mais nem um a menos de trigo. Chegou. A tábua longa disposta sobre a mesa esperava a mistura pronta para ser esticada, na espessura ideal e em seguida, ser cortada pela carretilha. Untou com manteiga bem gorda. Os sequilhos agora prontos descansariam o tempo certo de ela limpar o pouco que sujou. As pernas doíam demais e a saudade também.  Sentada. Vigiava. Há que se vigiar, pois assam muito rápido. O cheiro era doce e terno. Colocou a segunda fornada.

Ouviu o chamado lá de longe, eram os netos, eram os netos.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

BOSQUEJO DIMINUTO


 

Diminutivo, em gramática, representa o grau dos substantivos, adjetivos e alguns advérbios, que indica qualquer coisa de pouco tamanho, enfim, expressa uma ideia de diminuição; fato: algo é menor. O teor afetivo, irônico ou a intenção depreciativa atribuídos com o passar do tempo pelo uso dos diminutivos nesses casos, é que os tornaram os vilões das expressões escritas e faladas. Processo esse que se deve ao fato da nossa língua estar em constante dinâmica.

Nesse sentido, entender o uso dos diminutivos é fundamental, já que ele será por diversas vezes a representação física de vários sentimentos como a inveja, a bondade, o desprezo, a delicadeza. Há que se analisar o contexto. No complexo sistema de trocas entre falantes da língua é necessário que o valor representado pelo diminutivo ali mencionado, realmente seja compreendido em sua intenção.

Historicamente pode-se entender a mudança ou formação de alguns diminutivos, a palavra camarim, por exemplo, já foi diminutivo de câmara e hoje ganhou nova conotação; célula, dantes, era diminutivo de cellas, o mesmo que um pequeno quarto em mosteiros medievais; vírgula, diminuto de virga, vara, bastão; ou ainda outras situações mais cotidianas como camisetas, camisolas e camisinhas, até caixinhas como gorjetas, e estilete, que assustadoramente era diminutivo de estilo.

Os diminutivos, portanto, não designam apenas a diminuição de tamanho, são mais complexos, indicam metaforicamente sentimentos ligados às intenções e desejos de quem os usa. Waldeck e Souza dizem que se o homem é a língua que fala é todo ele que se coloca na linguagem e as frases então proferidas valem pela intenção do falante e pelo contexto da situação.

Excetuando-se os diminutivos sintéticos como estatueta, riacho, ou vilarejo, belos em sua origem, por exemplo, e também os eruditos tal qual óvulo, nódulo e película, adaptados pelo tempo do correr das línguas nas bocas do povo, cuidado, muito cuidado ao usar os sufixos inhos e zinhos, esses são os mais perigosos, eles certamente demonstrarão quem você realmente é.

 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

CONTRAFEITA


Depois do alvorecer

Assim como o céu

Muda o seu tom

Eu mudei

Troquei a plumagem

E sigo agora em novas

Cores, em outro corpo

Como os papagaios contrafeitos cores-de-bispo

Se agora ainda sou eu?

Bem sei que talvez

Tenha mudado a nuance

Bem sei provavelmente que o verde do vale está agora mais claro e límpido

Porém,

O rio que corre em sua pequena

Linha sinuosa...

Ainda é o mesmo, porque não deixou de ser rio.

 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Poemas Brabos!: Pródromos

Poemas Brabos!: Pródromos: Cena interpretada na IV Mostra Artística Temática da Turma Braba Texto: Leandro Henrique Cast: Marili Santos (paciente) e Leandro Henri...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TEORIA DO CAOS


Quanta falta de sensibilidade

Cabe no mundo?

Quanta incompreensão

Cabe em todos?

Quanta desordem e caos

Cabem nas pessoas?

Quanta inabilidade eu tenho

Para compreender isso tudo

É imensa a minha, a nossa ineficiência

Dor tamanha, se eu pudesse entender

Saber antes o depois, isso tudo

Seria muito mais fácil...

Mas sou apenas, uma aprendiz

Preciso hoje apenas chorar tanto

Minha dor é aquela, legítima e incompreensível

E sinto o vento como nunca havia sentido antes!

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

BUSCA-PÉS


Houve um tempo

Que eu buscava

Todo o barulho

Todo o folguedo

Que a vida me dava

Descalça sobre fagulhas

Pisava qualquer faísca

Nem sentia as ameaças

Rasteiras, ironias e falsetes

Houve tempo de foguista

E tenho não mais intenso é

Já que tanta queimada há

Houve tempo de busca

Busca-és!

 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

IDEIA INTELECTUAL DO AMOR ( Letra: Marili Santos; Música: Gabi Gabriel)


FIQUEI MUITO TEMPO

TENTANDO ESQUECER

PASSEI QUASE ANO

CANSADO EM SOFRER

FIZ SAMBA NO MORRO

PARA ME ACOSTUMAR

MAS NADA CONTORNA O AMOR

QUE TE FAZ PENSAR

 

ENTÃO, NEM MESMO A POESIA

NEM A FILOSOFIA

TRAZEM IDEIA DA DOR

QUE O AMOR

ESSE ARDOR QUE ME FAZ CANTAR

 

COMPREI ENCICLOPEDIA

PARA ME INFORMAR

FUI AUTO-DIDATA

PASSEI ATÉ A SAMBAR

MALDITA AURORA

BARAFUNDA DOS FATOS

SÓ CAREÇO DE UM VERSO

QUE ENFIM,

TE FAÇA CHORAR.

domingo, 27 de outubro de 2013

ANUNCIO


ANUNCIO

 

 P R O N U N C I O

    R E N U N C I O

        E N U N C I O

           N Ú N C I O

                 Ó C I O

                     C I O

                     C I O

                     C I O...

                                   SILENCIO!

 

 

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

NOVAS CONFIGURAÇÕES

Cortei calorias
pessoas, comentários
limpeza geral
na alma também
não quero vintém
de ninguém
nem açúcar, nem desafeto
nada salgado, oleoso, pegajoso
por obrigação
estou leve agora, bem mais leve, esperando, não sei o quê
algo novo
de mim
em mim há que se configurar Marili, em versão atualizada.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

ENTRE O SUJEITO E O VERBO


           Como é difícil ser gente, um desassossego imenso, uma luta diária, para não matar, para não pegar o que não lhe pertence, não falar mal daquele, ou disso; não desejar que se exploda. Grande dificuldade em controlar o sentimentozinho baratinho de alegrar-se diante da tragédia alheia, de fomentar aquele prazer incomensurável de rir daquele que um dia te fez chorar, saborosa-crua vingança. Sobre-humano controlar a inescrupulosa vontade de trair, de contar o segredo, de ferir, de ironizar, de diminuir, de machucar, de discutir, de apelar, e imputar a, de inventar, de mentir, de magoar. Árdua tarefa ser pessoa-da-boa, batalha insana contra a inconsciência, que torna permitido e justifica a injustiça, a selvageria, a brutalidade e a maldade gratuita. Estão todos arredios e confusos?  Os sentimentos estão arrefecendo e são já tão inúteis? Que delícia, tudo é permitido, viva a liberdade, a desculpa, a religião, o perdão, o sem querer, a ética e a filosofia, e mais ainda, a psicologia e a ciência, elas explicam o tudo. Entre o sujeito e o verbo há uma imensidão e na verdade falta a bendita da concordância, e nada há de se fazer.
Viva a literatura! Abaixo a gramática!

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

CUBO MÁGICO


Quero ter toda a dúvida

Ela garante a serenidade

Não ter certeza de algo

Nem saber para que lado

Vou e qual deles é o certo

E será que há o lado certo?

E será que o canto existe?

Preciso eu de uma face?

Assim penso, antes de tudo

Assim sinto, depois do nada

Sem saber eu crio, no vazio

E sigo incerta...porém, livre.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

DESCOMPASSO


A moça olhava para a possibilidade do amor da mesma maneira que os comensais famintos olham para os quitutes deitados nas bandejas. Pensava em quando surgiria alguém que lhe completasse o corpo e com quem pudesse trocar tantas palavras que em nenhum dicionário coubessem; porque para a moça o amor era tanto feito de uma coisa como da outra.

Enquanto pensava, os moços todos a olhavam. Os que podiam olhar e os que não podiam também. A doce mulher era bela, quieta e também tão imersa em seus sonhos de romance, que não sentia os olhos cobiçosos de ninguém; porque para a moça o amor era feito mais do que de cobiça, era feito de uma coisa mais a outra.

E nessa toada o destino ainda não tinha certeza de quem reservaria para a moça dos olhos baixos, porque ela era tão distraída que não conseguiria ver o olhar daquele moço feito para ela, o mesmo moço que quer encontrar uma menina que lhe emoldure o corpo e com quem possa dizer todos os vocábulos do mundo.

Nessa toada o destino repousa, aflito e angustiado, pensativo, na espreita e de soslaio, esperando a hora certa de agir, para não haver equívoco algum; porque no grande amor desses dois, não pode haver enganos.

terça-feira, 15 de outubro de 2013

DIA DO PROFESSOR: COMO ASSIM??????


Nossa! Nossa! Nossa!

Nunca me senti tão valorizada, quantos parabéns pelo Dia do Professor, mensagens calorosas pelo correio eletrônico, frases panfletárias de valorização, tudo muito ufanista e hipócrita.

Às favas com tudo isso. Desculpem-me, mas...

Sou professora sim, diariamente, acordo professora e durmo professora, por decisão minha, por gostar mesmo, por pensar que posso transformar com o pouco que estudei alguma coisa em alguém. Que posso dividir e trocar meu conhecimento com tanta gente de maneira leve e alegre, sempre.

Sou professora sim, cotidianamente, quando tento encontrar as fórmulas para fazer da minha aula algo que realmente tenha sentido para quem me ouve, quando converso olho no olho com o aluno aparentemente perdido e mostro as tantas possibilidades dele poder escolher o caminho que lhe agrada mais e poder seguir sozinho.

Sou professora sim, amorosamente, quando vejo o olhar do entendimento, o prazer do ler, a dedicação do fazer, a transformação do caráter, a busca da autonomia e da liberdade, as manifestações verdadeiras de carinho, de afeto, o dez com louvor, a lista de mil exercícios resolvidos na raça; a busca, a busca, a nossa busca.

Sou professora sim, aos sábados e domingos, inclusive nos feriados, também nas madrugadas e nos alvoreceres, porque essa foi minha escolha e não há que mendigar salários justos, respeito e valorização, porque isso todo mundo já sabe e essa conversa cansa e cansa demais. Não careço de um só dia feliz, por favor, me perdoem, mas isso é ridículo.

Sou professora na alma e mais, sou professora de mim mesma!

 

 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

POEMA SEM TÍTULO


Nem tanta ideia cabe

Num mundo que é só verbo

A palavra dita já gasta de tanto uso

Sai em atropelos pela boca dos tontos

Que chega aos ouvidos dos já surdos homens...

A ideia passa assim meio desenxabida como o pássaro que pia baixinho.

 

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

NO ESCURO


Experimento qualquer sensação

Porque agora mais do que nunca

Necessito bastante desse mistério

Não me importo mais seja ela doce

Ou bem ácida, eu gosto disso tudo

A sensação é bem-vinda, que venha

Tonta, ou torta, arrepiada ou se enoja

Só quero que venham todas, porque é

Assim que me sinto alguém no mundo!

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

POEMETO DA PRIMAVERA


Era para vir e não veio

O céu cinza ainda me deixa tristonha

Será que a rosa se abrirá?

Nem precisei regá-la, vinha a cântaros.

Um sabiá deixou cair, os ramos do ninho, do seu bico...

E eu fiquei mais triste ainda.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

BOSSA NOVA


Reunião na quarta-feira e na sexta-feira, você aluno comum faz o quê? Emenda à quinta-feira, como se nada restasse no mundo a não ser fazer isso, é óbvio. Eu faria. Diante disso, ouvi de um colega de trabalho a seguinte máxima: “Os alunos que vieram são àqueles que a mãe não aguenta em casa”!

Como nada a mim passa despercebida, a frase latejou na minha cabeça durante um bom tempo. Incomodada não sabia ao certo o porquê, passei a observar quais dos meus alunos haviam ido. Não sei mesmo dizer se a máxima proferida cabe nessa situação, não tenho competência para avaliar o gostar e amar das mães dessas crianças, mas o fato é que estavam diante de mim alunos que qualquer um chamaria de problema.

Eu mesma tive e tenho imensa dificuldade em lidar com eles, são inatingíveis, quer seja pela constante ausência, timidez, condições em que vivem, um mente demais, outro já esganou um colega, outro grita de repente na aula. Além de que como alunos são da espécie que não entregam atividades, fazem tudo pela metade, enfim, são alunos.

 Olhei para eles mais uma vez. Talvez quisessem a professora de forma mais exclusiva? Não sei. Talvez a escola fosse o único refúgio, o lugar mais legal, mesmo chato, que eles teriam para ir nesse dia frio e chuvoso? Não sei. Talvez suas mães tivessem os obrigado a ir para escola porque não os aguentam em casa, ou ainda porque não têm com quem deixa-los? Também não sei.

Não sei mesmo. Só sei que passei agora a olhar para eles de um jeito bem diferente. Não sei ao certo que jeito é esse, porque fiquei confusa demais, ando confusa demais com questões assim que eu não encontro respostas imediatas para as malditas. Penso. Que coisa. Mas que algo mudou, mudou, e disso eu tenho certeza.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

BOSSA


No final das contas, passamos o dia todo a tentar sublimar as pequenas avarias que a vida nos proporciona. Isso gasta um tempo enorme e sinto que deixo de viver um pouco mais quando passo a meditar sobre tudo o que acontece em minha volta. Queria ser meio desligada das coisas tão pequenas e inacabadas. Mas. Em mim há a torturante necessidade de enxergar quase tudo, de pensar sobre as palavras ditas, e não ditas também; de querer ver as sutilezas do mundo e já não posso mais dar conta desse olhar, ele vai em direção oposta aos meus desejos de cegueira momentâneos. E vejo. E penso.
E gasto um tempo gigantesco nisso tudo.

domingo, 29 de setembro de 2013

O MEDO DA ATRIZ

Há quem pensasse que o medo da atriz
era esquecer todo o texto
naqueles segundos que
antecedem sua entrada.
Outros achariam que ela guardava
uma síndrome de pânico
nunca mencionada, dos refletores;
há ainda quem diga que
a figura do diretor lhe enche de pavor.

O medo da atriz, de fato, era,
se apaixonar por alguma personagem,
tanto, mas tanto, a ponto
de nunca mais a querer largar.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

URGENTE


Não poderia deixar de escrever sobre isso. Necessito.

Na tarde de ontem, caminhava eu pelos corredores de um shopping, coisa que eu detesto, e já havia resolvido o assunto que tinha me levado para esse lugar que abomino, quando resolvi me dar um pouco de prazer e beber um café, curto e forte.

Pedi e paguei. Fiquei então, a esperar que a moça trouxesse a bebida. Quando recebi o prato que continha a xícara pequena, um copinho com água com gás e um fragmento de biscoito de maisena, achei delicado e bonito e confesso, eu merecia o mimo.

Tratei de cumprir a risca todas as regras de um bebedor oficial de café. Limpei o paladar com a água, meti o docinho que se desmanchava pelas minhas bochechas e engoli o café amargo. Prazerosamente sorri. Virei para a moça que me servira e disse que o café que ela havia feito estava uma delícia. Ela olhou-me estranhamente e não respondeu. Sua expressão era um misto de indignação e mau-humor.

Pensei. Mas eu havia elogiado. Pensei. Ela recebeu como um xingamento. Loucura total. Pensei. Ninguém mais está acostumado a ouvir elogios e delicadezas. Pensei. Insisti. Disse para a moça “o café que você tirou está perfeito, MARAVILHOSO, faz tempo que eu não bebia um café tão bom”.

Ela sorriu, meio que envergonhada, sorriso bem tímido, amparado por um meneio de cabeça lateral e sutil, e agradeceu baixinho. Pensei. Triste. Só escuta o nada, o vazio, a ordem, a mecanização do pó moído e o chiado da cafeteira, ela só escuta isso.

O café mesmo delicioso desceu mais amargo do que eu queria e a vida me deprime cada dia um pouco mais.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

AS MENINAS QUE DORMIAM


          Diz-se por aí que duas meninas eram conhecidas por inventarem demais. Passavam parte da vida, imersas em sonhos e construíam histórias muito boas de ouvir, mas que ninguém ouvia, porque já se sabia que tudo era uma inverdade. As meninas, então, resolveram que era melhor ir vivendo, do jeito mais idiota e sem graça mesmo, porque dava muito trabalho nadar contra toda a corrente que viam e ouviam. Tanto diz-que-diz-que enche.

         Durante muito tempo as meninas se olhavam com tristeza e até esboçavam uma historieta qualquer, porém, ao se lembrarem de toda enxovalhada, preferiam dormitar. Passaram tantos anos dormindo que as suas cabecinhas já não sabiam mais sonhar. As cantigas haviam sido esquecidas, nem poetar dava mais, muito menos historiar.

         Dormentes, as mãos das meninas estavam, e iam carregando a vida vazia, sem peso, graça e sem emoção. As duas meninas, então, sentadas, esperavam algo da vida quando se deram as mãos. Decidiram que era hora de partir, naquele lugar ninguém saberia mais delas. No meio do caminho, se abraçaram, os pequenos corações começaram a bater novamente e se despediram.

         Uma foi pelo caminho da Lua.

         Outra foi pelo mar.

        

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

MIRANTE

      Eu tinha a certeza, enquanto olhava para a casca quebrada da árvore que se desmanchava em tronco novo, que era necessário abraçar a mudança e acolhe-la em meus braços incertos, assim como acalentamos o filho pequeno que nasceu, porque temos por lá no canto da alma a ideia de que nada mais depende de nós. Agora é somente o mirar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

terça-feira, 20 de agosto de 2013

VILANCETE IMPERFEITO


MOTE

Escrever é um fardo

Se não há mais valor

O verso sai debalde

 

VOLTA

Se o verso já é bastardo

Minha poesia sem ardor

Já não possui mais ledor

Que faço eu com o fardo

Quando verso é debalde

Escrevo noutro arrabalde?

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ELEGIA MODERNA


Estar triste

Não é ser

É ter um aperto

Necessário que

Impulsiona a alma ao vento

Triste é a chuva fina que olho pela janela, que embaça

Triste é a rosa que acabou de lançar a última pétala ao chão

É ter um lamento

É provocar o coração ao desaperto

É procurar o lirismo das bocas caladas

Não é ser tristonho ou medonho

É estar a contemplar a feiura das coisas, o gesto inacabado e a pobreza de tudo

O tal aperto

Que leva, me leva, enleva.

quinta-feira, 15 de agosto de 2013

BROCARDO


Com essa vida idiocotidiana
que levo,

ter calma, tempo e inspiração
para conseguir escrever algo
é muito mais do que um mero

ato de coragem,
é uma baita sacanagem!

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!