quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

PAS SA TEM PO

e não é que o tempo passou
sem que eu olhasse tanto
com inveja da meninice
do frescor do dia que antes
era tão longo e inusitado
corria de pega-pega e
se escondia atrás da noite
eu sempre fui café com leite
passa mais devagar
passa mais devagar
passa mais devagar

domingo, 22 de dezembro de 2013

QUINHENTÃO


Caro leitor não comece essa leitura se não estiver com ânimo, visto que a matéria é longa e requer parte de seu tempo e talvez nada de grande te acrescente, considere apenas um desabafo, se é que pretende seguir.

Hoje comemoro quinhentas publicações nesse Blog Valsa Literária. Para mim mais que um feito, é uma conquista. Comecei a escrever com exatos quarenta anos, isto é, escrever algo de literatura, se é que posso chamar assim, escrever de verdade tantas mentiras, publicamente e agora aos quarenta e três, olho para esses poucos três anos com olhos de satisfação. Por que demorei tanto para começar a escrever? Simples, não sei ainda dizer; não sei se quero escarafunchar a temática, ou ainda, saiba lá no fundão e não queira ver; pouco importa agora. O que sei é que por analogia, peço a vocês que imaginem uma banheira a se encher e que de repente quase por transbordar, alguém venha e destampe, deixando que o líquido escorra gradativamente, porque é da sua natureza fazê-lo. No início, um grande amigo provocava-me com e-mails, solicitando mais do que respostas, repentes literários, pequenas quadras, poemetos. Nessa troca inusitada, a água estava por esvair-se ralo abaixo, e eu já não tinha mais o controle; gostei e senti como algo escandalosamente bom e necessário, queria escrever, timidamente, claro, no começo, mas depois a vazão aumentou, e a minha necessidade era a pulso, de chofre, vital. Sofria diariamente com minhas duras e próprias críticas, depois de feitas minhas escrituras, lia com olhos de leitora e não gostava de grande parte, não achava o estilo, percebia a falta da gramática normativa, errava nas vírgulas, construía subordinadas desconexas. Como sofria. Bem pouco tempo, em conversa com esse meu essencial amigo, poeta, escritor e compositor da melhor qualidade, debatíamos sobre a temática escrever e ler, escritor e leitor, e fui vencida pelas suas palavras que tomo por empréstimo aqui transcrito: “O escritor existe sem os leitores. Já que, desde que ele escreva e seja portador de um ou mais globos oculares, terá fatalmente que ler o que escreveu, então, será via de regra leitor também. Logo, existirá como leitor de si, justificando a existência do escritor, que é. Já o leitor, sem o escritor não pode ser leitor, a não ser que estejamos falando de um leitor de código de barras, o que equivaleria a um carcerário de prisão de segurança máxima despopulado. Marili existe porque existe. Jairo existe porque seu nariz. André existe porque o nariz do Jairo existe apontando para a existência de Marili. Fábio existe porque senão eu não existiria. E eu existo porque sim.”

Não sofro tanto mais, agonizo se não escrevo, porque tudo sai pela culatra como se cuspido fosse e não me pertencesse agora, ontem e nunca; se leio já não se parece comigo, não fui eu quem escreveu, tomou parte em universo que hoje desconheço e que tento caminhar ao lado sem qualquer expectativa de entendimento. Que delícia poder deixar o ralo destampado, sem a culpa do gasto. Que bom poder desatarraxar os nós da literatura e dar uma banana ao estilo. Que sensação única poder agora rasgar os tomos da gramática. Isso não mais pertence a essa escritora. Que venha a eternidade!

           

 


 

 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

LAGARTAS


Gente chateia

Gente é bicho

É mau humor

É invejinha, rancor

Gente é palha

Aparece e fogo

Fala e flutua

Gente oscila

Maldosa finge

Gente é humana

Poesia de escárnio

Narrativa sem fim

Gente é tese, artigo

É comentário e opinião

Gente assusta, afasta

Gentarada sem conclusão

Animais em transformação!

domingo, 15 de dezembro de 2013

A GATA


Ela contempla

Rosas, orquídeas

Que lhe sorriem e

Soltam perfume da

Manhã orvalhada

Não teme espinhos

Teria suas garras

Apenas...

Olha e passeia

Admirada

Pelo seu jardim

sábado, 14 de dezembro de 2013

MEIO DIÁLOGO


- Você devia ter vindo.

- Por quê?

- Porque sim.

- Você deu a entender o contrário.

- Claro que não, joguei várias indiretas.

- Não tenho que entender isso.

- Claro que tem, eu é que não podia ser explícita.

- Por que não?

- Porque cabe ao homem esse papel.

- Quem falou?

- Eu falei.

- Ah!

- Perdeu.

- Você também, então.

- Eu não.

- Lógico que sim.

- Não, as mulheres sublimam mais essas coisas.

- Verdade?

- É.

- Então, tudo bem. Não vou hoje também.

- Como não, ah... Tenha dó.

- Sublime.

 

 

 

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

APOTEOSE

Adoro ver gente
que passa pelo
abismo, dor e
provação e tudo
tudo de mais
agressivo e
mesmo assim
sabe o que é viver!

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Hoje foi um daqueles dias...


Olhei para o Ipê sem cor definida que foi plantado em frente da minha casa, não sei que cor tem ainda, está com brotos, lindos e verdes, apostei no amarelo tradicional e fiquei muito emocionada, parecia uma idiota, vai brotar, vai brotar, desci do carro e tirei uma foto.

Depois, logo depois, acabei magoando uma pessoa que eu amo; coisas que fazemos toda hora com quem amamos, porque sabemos que essas voltam para gente, porque relevam e perdoam as grosserias e os maldizeres. Agi como uma uma idiota.

Esse foi um dia idiota; daqueles que saímos de nós mesmos, que perdemos o prumo, que escapamos de nós, do que acreditamos, que vemos de longe o quanto somos vulneráveis, humanos, idiotamente humanos, fugimos do que amamos; um dia que serve apenas para brotar na gente a ideia da mudança e do reconhecimento real dela.

domingo, 8 de dezembro de 2013

LEVANTE

Nasceu torto
o Sol, estava
confuso e morno
ainda havia um
pequeno fragmento
da Lua no oeste e
isso o irritava, muito;
ainda estava bêbada,
cantarolava e suava, e
insistia em ficar ali
no dia claro que dele
era.

sábado, 7 de dezembro de 2013

ASSIM


Tenho matutado tanto por esses dias, e me veio assim uma vontade escandalosa de viver. Não que não viva; vivo. Estou aqui ora essas, porém, sinto que é necessário que sorva todo instante. Comi hoje canjicas salgadas, o gosto da infância remeteu-me às doces, dos sacos rosa e transparentes em que se via e se sabia o que íamos comer, após rasgá-los estupidamente. Queria poder ver a minha vida meio assim, rosa e translúcida, sabendo por um fragmento do olhar o que ia ser logo agora e sorver e comer e viver, tão despreocupada quando o fazia ainda criança.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

POEMETO MAL ESCRITO


 
 
 
Nem sei se escrevo...
Escrevo?
Ou escriba?

Sou a quem escrevo

Subscrevo-me
De noite escrevinho
Nos finais escrituras
Quem eu?
A mim
Em si
Nem sei mais!
 
 

 
 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Bulbo


Escapei do ninho, e vejo que a primavera nem ainda acabou, mas é assim, o escape deve ser rápido. Nesse mesmo instante senti que o vento é mais brando na primavera, minhas expectativas eram outras, porém o que se há de fazer com a brisa? Senti-la, apenas. Enquanto dormitava fora do ninho pude saber o que está do lado de cá e há certa angústia nisso tudo, porque se vê ao longe o que você era e o que tinha. Mas a brisa bate generosa em mim e diante desse diferente prazer, é mais certo que eu não volte. Minhas intenções eram tantas outras e nem sei mais se as tenho; que me importa? Tenho que não pensar é no sentir e é só.

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!