Capítulo 5
Acordou
assustada e com medo, pensou que estava apanhando, mas não o homem continuava
imóvel no sofá, olhou devagar e desejou que não respirasse, mas a coberta caiu
e mais que depressa ela passou a mão nas coisas e rumou para o trabalho. Nesse
dia chegou cinco para as sete. E pensou que hoje era dia de lustrar as escadas
e isso lhe daria muito trabalho. A outra mulher da faxina que a chamava de
amiga perguntou se ela estava melhor da queda e das dores no olho. E ela disse
que sim e que sim.
Durante
a faxina da escada a mulher teve uma ideia tão estranha que não conseguia mais
lustrar um corrimão sequer. Quando uma boa ideia surge, que parece boa mesmo,
os miolos ficam a todo vapor e parece que o corpo não responde, e a ideia fica
balançando feito uma bola na frente da cesta, girando para cair, piscando em
alerta para que não se perca nenhum fragmento dela. Joana. Ouviu seu nome ao
longe. Fazia tempo que não ouvia nome seu pronunciado. A amiga da faxina
perguntou se ela estava bem, pois ia caindo da escada novamente, e aquela
mentira do passado quase vira verdade no presente.
Não
conseguiu responder Joana. Abanou as mãos em sinais de que estava tudo certo.
Foi para o almoço e pediu arroz e feijão, porque por mais que hoje fosse um dia
para se comemorar, já havia gastado metade de seus vales e era preciso esperar
mais de metade do mês. Enquanto comia, remoia ideia junto. Engolia ideia boa a
cada gole, a cada garfada. Não sentia prazer havia tanto tempo que aquela
sensação deixou-lhe confusa e constrangida.
Ficou
toda tarde em devaneios. Aquilo tudo era imenso e assustador, porém parecia a
coisa certa a se fazer. Na saída pensou em como faria para levar sua ideia
adiante. Pensou em cada detalhe. Parou na praça e ficou em tamanho êxtase que
não conseguia se conter. Por que não havia pensado nisso antes? As perguntas e
conclusões ela não tinha. Só tinha certeza de que faria isso mesmo e que era a
coisa certa a se fazer. Não sabia traçar em sua cabeça os motivos e talvez
naquele momento nada disso importava mais.
Naquela
noite apanhou um pouco. Levou dois socos, um no estômago e o outro pegou no
braço. Mas ela estava tão ausente que o homem estranhou de bater em uma mulher
que tinha o olhar diferente do que ele acostumado estava e não sabia como
avaliar, não sabia o que fazer. O bater parou. O homem ficou tão confuso que
decidiu ir dormir. A mulher também decidiu ir dormir, só que naquela noite ela
conseguiu sonhar, ainda bem.