sexta-feira, 30 de setembro de 2011

DEMORA ( Escrito para o mote proposto)


A duração da pausa

é aleatória.

Para mãe que gera

 é a espera.

Para fruta verde

é primavera.

Para amor ausente

é a cautela.

Para filho doente

é um redemoinho.

Para alcance do sonho

é passarinho.

Para mudar as coisas

é no jeitinho.

Para o certo poema

é um versinho.

A duração da pausa

é pura ilusão!

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

ÁTIMO


Não quero

Não almejo

Não vejo

Não necessito

Não desejo

Não beijo

Não bebo

Não minto

Não omito

Não culpo

Não aspiro

Não aspiro a

Não discrimino

Não descrimino

Não sonho

Não sei

Não arrisco

Penso, penso!


quarta-feira, 28 de setembro de 2011

TABUADA


Hoje vou me atrever a falar de um esporte que sou fã apaixonada e nem mesmo sei explicar o motivo. Futebol para mim é coisa séria. Desde a adolescência assistia aos jogos de várzea do Desafio ao Galo; os caras rolavam na lama e eu achava tudo mágico e interessante. Com uns sete anos, conheci o Rei Pelé na escola em que minha mãe trabalhava e achei que seria maravilhoso ser Santista; não me arrependi.

Com o passar dos anos passei a entender um pouco mais, hoje sei regras, posições, tabelas, e gírias desse confronto entre vinte e duas pessoas, sem contar a equipe de arbitragem; o que me habilita a discutir e comentar a desordem em que se encontra o Futebol Brasileiro. Hoje além de ninguém mais suar a camisa, a tecnologia inovou os tecidos “anti-transpirantes”, os malucos correm de lá para cá, e o esporte em si perdeu o sentido, não vejo ninguém jogar com raça, com graça e paixão.

Zagueiro quer ser centroavante e os meias caminham para as laterais, os times não jogam o coletivo. Sim, o hiperônimo do Futebol é a coletividade, usurpada do meio futebolístico, porque o que conta é o valor monetário do passe e não mais o prazer do gol. Com o nono ataque especulado pelo nosso ilustríssimo técnico atual, o tal Mano, trocam-se os nomes e ficam-se as derrotas, chacotas, de um time que não é time, de um grupo que está longe de ser grupo.

Para os aficionados por uma pelada, como eu, fica a esperança da tabuada, as operações elementares das duas vezes dois, dos onze vezes onze, das tabelinhas, dos passes certeiros, do troca-troca, da bola sendo levada pelo grupo todo, num desenho tal qual Chico Buarque traçou em sua melódica canção. Assisto hoje ao Brasil e Argentina, na expectativa da sorte, na ilusão da camisa verde e amarela, no saudosismo dos canarinhos e com um enorme aperto no coração.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

BELESARAH (Para Sarah, minha doce menina)


Quem disse que essa

Moça precisa de

Vestido ou calçado.



Quem falou que essa

Menina precisa de

Brinco ou penteado.



Beleza Sarah tem rara

Feita assim só dela

Vestida de lua usa

Brincos de aquarela

Tem olhar de cinderela

A beleza é toda ela

Ninguém pode com

Esta donzela cujo

Príncipe amarela

Toda vez que sonha

Com ela descoberta

De toda a primavera!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A BABADA (Para André Aguirra)


Tem gente que

Nasceu para babar

Baba pela esposa

Por aquele que canta

Talvez pelo que declame

Baba no tal saxofone

No Baden e no clarinete.



Mas não tem nada

Melhor do que

Babar de prazer

Prazer de beber

Beber e sorrir

Cantar e grunhir

Babujar até a

Madrugada cair!

domingo, 25 de setembro de 2011

MILISSEGUNDO II (Dedicado ao declamador oficial Mestre Carlos Barbosa)


O tempo da espera é o mais assustador, porque não dimensionamos o quanto cada segundo provocará em angústia e agonia, a devastação em nossa alma.

Mas...

A esperança e a certeza nos fazem transitar no tempo e nos teletransportamos ao acaso e as tentativas, de simplesmente ir vivendo.



ERRATA: De acordo com a nova ortografia milissegundo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

RÉQUIEM PARA JOSÉ SARAMAGO


Faz pouco mais de um ano que meu escritor preferido morreu. Lembro-me de que no dia de sua morte, um amigo mandou por celular a seguinte mensagem: “Nosso Saramago morreu!”. Li a mensagem e comecei a chorar. Nunca tinha chorado por alguém assim tão distante de mim enquanto pessoa conhecida, mas chorava pela proximidade que sua obra enquanto escritor havia produzido na minha alma.

Nessa época, de sua partida, eu tinha acabado de ler um de seus últimos escritos A Viagem do Elefante e mais do que nunca minha certeza era imensa em reconhecer o senhor de Lanzarote como o meu eterno escriba; suas singelezas, seu paroxismo, sua perplexidade diante das tamanhas injustiças do homem, esse homem cruel e ruim que além de tudo produziu um Deus.

Sim, José era ateu convicto, para ele “Deus é o silêncio do universo e o ser humano, o grito que dá sentido a esse silêncio”.  E prosseguia em mais críticas, adocicadas de ironias ao proferir: “Há quem me negue o direito de falar de Deus, porque nele não creio. E digo que tenho todo o direito do mundo. Quero falar de Deus porque é um problema que afeta toda a humanidade. Não sou implacável com ele, mas com a espécie humana, que inventou o Senhor”.

Mas, não era esse Senhor Saramago, crítico e ranzinza pelo qual me apaixonei por completo. Entreguei-me ao outro José, àquele das ilhas desconhecidas, das intermitências, dos ensaios, dos homens duplicados, enfim das pequenas memórias. Certa vez perguntaram-me, estupidamente, e claro nem me lembro de quem era a pergunta infeliz, como que uma professora de Língua Portuguesa gostava de um escritor que não usava corretamente as pontuações, respondi: Leia Saramago e depois nós conversamos sobre isso, às favas com as pontuações!

A minha profunda tristeza gira obviamente em torno de sua morte sim, porém muito mais, refere-se a minha impossibilidade de nunca poder ler aquilo que José Saramago não teve tempo de escrever. Vou ler novamente cada linha dos antigos, como se fossem novos e inéditos para mim, quem sabe minha saudade por ele diminui... “Não é ilusão do escritor que, ao concluir sua leitura, alguém alce voo e continue a expandir a constelação que viu impressa.”

terça-feira, 20 de setembro de 2011

AMANHÃ


O dia deu em triste! Foi mesmo de repente. Ele ficou triste mesmo com o Sol aberto em larga profundidade, soltando raio para todo lado. Deu em tristeza por toda á tarde, nem o passarinho piando para flor rosa e linda, a borboleta arrastando a asa multicor, os gritos das crianças felizes brincando de pega-pega foram suficientes para afastar a melancolia do dia tristonho. Continuou esse dia, por toda a noite, largamente transtornado sem alegria alguma.  Nada da lua gorda e acesa suavizarem as angústias e sofrimentos. A madrugada permaneceu tristonha também, afora, no silêncio vazio, sentiu o dia mais tristeza ainda e acabou dormindo e chorando baixinho, para o dia seguinte não ouvir nada.

domingo, 18 de setembro de 2011

MADREPÉROLA (PARA MARLY BARROSO)


Reparei que em todos esses anos os quais escrevo, nunca havia escrito nada para minha mãe. E pensando nas razões, atentei para o fato de que Marly é tão única, tão infinitamente especial para mim que não caberia num poema qualquer, numa trovinha sem graça ou ainda em qualquer outro gênero. Marly é mãe em tempo integral, legítima em sê-la, nas suas manifestações de amores, carinhos e quereres bem.

Na sua fé inabalável, ora por todos nós e tem ligação direta com Deus e com seu anjo da guarda, cujos pedidos são sempre aceitos. Marly é um ser simples, querido; por coincidência ou não, adora o mar, sua imensidão e profundidade, o que a torna por osmose semelhante a ele.

 O que mais dizer da minha mãe não será nunca suficiente, apenas o fato do meu amor por ela!

sábado, 17 de setembro de 2011

FAIR-PLAY


          Sou assim, meio verdade, confesso que minto engano, e produzo inverdades. E daí? Você é correto? Ou também me engana? Será que nos entregamos por um sim? Não, você é assim meio torto, como eu. Alisa vez em sempre, persuade, omite. Tenta dizer as coisas por inteiro e acaba dizendo metades, agradáveis e fúteis. Somos todos meio assim, falazes, falácias, ilusões de certezas. Quebremos todas as regras, então, aceitemos que as coisas são falsas, diplomáticas. Coloque sua máscara daí que eu coloco a minha daqui, e fantasiados nos encontraremos prontos para uma nova mentira. Só não se esqueça de disfarçar bem... Eu disfarço sempre!

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

MILISEGUNDO


Muitas das vezes o tempo não dá conta de apagar todo nosso sofrimento. E assim fingimos que esquecemos, disfarçamos, substituímos e até nos enganamos.

Mas...

Ali, quando nos encontramos conosco ás avessas é que enxergamos que o tempo não foi suficiente, os segundos foram curtos e a vida passou meio que despercebida por nós.


terça-feira, 13 de setembro de 2011

domingo, 11 de setembro de 2011

PARÁFRASE DE DRUMMOND SOBRE O PODER ULTRAJOVEM


Diante da desobediência excessiva do filho de oito anos, o pai decide resolver a questão filosoficamente e diz:

– Pare já com isso, você tem que respeitar a hierarquia!

– O que é hierarquia?

É simples: eu mando e você obedece.

Pois então, eu prefiro a revolução!



Ps. Qualquer semelhança com a vida real é mero fato...


segunda-feira, 5 de setembro de 2011

OBSESSÃO AO GOSTO DO FREGUÊS ( PARTE FINAL)


FINAL ROMÂNTICO

Ricardo estava sentado e ainda segurava o telefone, meio atônito pela situação vivida instante antes. Percorreu na memória e formou uma espécie de linha do tempo, recordando os fatos, costurando acontecimentos, recuperando as mágoas, revivendo alegrias. Todo esse movimento foi intenso e de profundo desgaste.

Escutou a fechadura da porta e cravou o olhar naquela direção. Eleonora entrou silenciosa e linda. Os dois cruzaram os olhares. Ricardo fotografou a mulher e congelou a imagem: bela, simples, companheira. Eleonora caminhou para perto dele e sentou-se no outro sofá.

Tudo bem?

Por que não dormiu aqui?

– Achei melhor ir lá para Claudinha. Conversamos, foi ótimo. E você?

– A louca e chata da Maria Cristina ligou hoje, agora pouco. Estive pensando se não era melhor mudar o telefone, mudar daqui, sei lá, quero ficar em paz com você. Não quero que durma fora. Vamos casar? Isso, nós já moramos juntos há tanto tempo. Nos casamos e mudamos sem telefone...

– Que deu em você?

– Certeza.

– Certeza?

– É. Do meu amor. De você. Certeza total.

– Que coisa.

– O quê?

– Não sei... tudo isso. Loucura.

– Você não respondeu.

– Não sei o que dizer. Fiquei surpresa. Criei uma expectativa tão ruim, que confesso que agora não sei o que responder.

– Sim.

– E a louca?

– Que se dane. Mando o convite de casamento, pior, a Laura conta como uma fofoca e aí batemos o telefone na cara dela, rasgamos todas as cartas que chegarem...

– Seu doido...





FINAL REALISTA



Ricardo estava sentado e ainda segurava o telefone, meio atônito pela situação vivida instante antes. Percorreu na memória e formou uma espécie de linha do tempo, recordando os fatos, costurando acontecimentos, recuperando as mágoas, revivendo alegrias. Todo esse movimento foi intenso e de profundo desgaste.

Pegou o telefone e decidiu ligar para Maria Cristina.

– Oi.

Sabia que ia ligar.

– Por que a certeza?

– Senti na sua voz um desejo, como se estivéssemos juntos e próximos. Como se não tivessem passados os três anos.

– Por que me procurou?

– Arrependimento.

– Agora que eu estava bem, com outra pessoa.

– Se estivesse realmente apaixonado não estaria falando comigo agora. E também não é essa questão.

– Não é verdade. Só quero esclarecer as coisas.

– Vem para cá esse fim de semana. Preciso ver você. Fica aqui em casa. E assim podemos esclarecer o que quiser.

– Arrependimento do quê?

– De tudo. De não termos ficados juntos, da minha escolha errada...

– Fala isso agora, por que não me procurou antes?

– Ricardo, nossa hora é agora. Eu sinto isso, você tem medo de quê?

– Não tenho medo.

– Então vem!

– Vou ver...





FINAL INUSITADO



Ricardo estava sentado e ainda segurava o telefone, meio atônito pela situação vivida instante antes. Percorreu na memória e formou uma espécie de linha do tempo, recordando os fatos, costurando acontecimentos, recuperando as mágoas, revivendo alegrias. Todo esse movimento foi intenso e de profundo desgaste.

Ligou para Eleonora e conversaram por algum tempo. Eles discutiram e acabaram decidindo que era melhor mesmo cada um ir para o seu canto. Acabaram aceitando que a relação estava desgastada e que talvez, estivessem apenas adiando o que seria inevitável. No final da conversa que era mais amistosa acertaram os pormenores do quem fica com o quê.

Ligou para Maria Cristina e desceu o sarrafo. Vomitou os três anos de mágoa embutidos, pediu que ela evaporasse de sua vida, foi enfático, grosso, e perverso. Xingou de louca obsessiva, fez a mulher chorar, certificou-se que nunca mais ela o procuraria.

Um mês depois, Ricardo estava de malas prontas para a sua viagem. Levou bastante coisa. Talvez passasse aquele ano todo percorrendo os lugares que ele sempre quis. Nada de amores passados, de obsessões vividas. Levaria o dinheiro guardado para que pudesse trabalhar por lá um tempo. Fotografando a cultura dos povos, a paisagem toda, as belezas, os rostos e as almas...

Inclusive a sua.


sábado, 3 de setembro de 2011

OBSESSÃO ( Parte 7)


A obsessão surge na maioria dos casos do desejo reprimido. O desejo de ter algo, ou alguém, provoca o interesse excessivo em relação ao objeto desejado. Não passa por preceitos morais, não passa pelo lado consciente, porque é insano. Ricardo oscilava como um pêndulo, para cá e para lá. Do ponto de vista do amor, Eleonora preenchia todos os requisitos da companheira perfeita. Do outro, existia à vontade, a curiosidade, o ter por nunca ter tido, o maldito desejo, inexplicável e certamente efêmero. Isso tudo passou a girar em sua mente depois desse telefonema:

Ricardo?

Sou eu. Quem fala?

– Três anos foram suficientes para esquecer minha voz.

– Ah! Oi, Cristina.

– Você pode falar?

– O que você quer?

– Quero saber se pode e se quer falar comigo?

– Olha, Maria Cristina, você já conturbou demais as coisas por aqui. Respondi sua carta e achei que tivesse deixado claro...

– Não deixou.

– O quê?

– Claro. Você não esclareceu nada. Aliás, disse que me desejava. Por isso estou ligando, quero ver você.

– Por favor, não faça isso não. Eu vou desligar. Gostaria que...

– Tem certeza que não quer me ver? Viver o que não vivemos?

– Tenho. Boa noite.

– Espera!

– Fala.

– Me liga a hora que der...

– Tchau.

Certas obsessões devem durar o tempo da loucura a ponto de gerarem as dúvidas, os desejos e as buscas, sejam das possibilidades de um começo, ou das certezas de um fim...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

OBSESSÃO ( Parte 6)


Certas obsessões devem durar o tempo da espera a ponto de gerar a angústia, o sofrimento e a dúvida, quer seja da possibilidade do fim ou do início de uma nova conspiração...

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!