Parte
4
Como
diria o ditado: a boca fala e... ele quem paga; ficou Bastos a ouvir o sinal
intermitente da ligação interrompida. Passou sua voz então a praguejar as mais
absurdas frases, resmungava, contava, lembrava, cantava, assobiava, discursava,
orava, discutia, papeava e dialogava consigo mesmo. “Eu penso, eu opino, digo,
juro, minto e menciono”. Estava em um estado absolutamente esfuziante, como se
sua garganta, ora dantes travada, tivesse desatarraxado num mar de arquixilemas
e arquifonemas.
Se a
voz dominara o homem ou se ambos haviam se fundido em um só não é coisa para se
pensar nesse momento da narrativa porque nada de filosófico há na mudança e o
que se é relevante dizer são os fatos, os fios condutores das ações; o caso é
que o senhor Bastos estava mudado e nem mesmo sabia onde tudo isso tinha
começado, acostumara-se com a nova maneira que a vida lhe impusera com a mesma
brandura que se habituara a barbas; agora era ser que cuspia fogo, deixava
marca por onde passasse, rasgava todos os verbos, espantava os bichos,
encantava e desencantava.