quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A ESPERA DA PERSONAGEM

Maria Amélia, 52 anos, solteira, sem filhos, habita um apartamento de dois quartos no centro de São Paulo. Dona Amélia levava uma vida tão comum e inóspita, que não conseguia encaixá-la em nenhuma história.
                Como em sua vida nada acontecia, nem acontece, ela não podia transformar-se em matéria para a escritora. Não havia um sequer enredo que conectasse sua corriqueira estada no mundo, em tema literário.
                Não era de nenhuma prosápia conhecida, o leitor não encontraria nada, nem uma identificação qualquer, não havia amor, amigos, feitos, nem um ato inescusável, não tinha tentado suicídio, enfim... Pedi que Amélia esperasse mais um pouco. Talvez surgisse uma ponta em um romance, ou ainda, uma participação especial em uma crônica como a amiga ou vizinha da personagem principal.
                Foi então que Dona Maria Amélia Canto e Melo irritou-se. Disse que eu era escritora de quinta categoria, prosaica, “boi com abóbora”, que exibia certo preciosismo travestido de falsa erudição, prosa caótica e...
                Ia continuar se eu não tivesse lhe avisado que já era suficiente tudo aquilo!  Sua espera havia acabado:
“Maria Amélia
Canto e Melo
Língua afiada
como um martelo”.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

DECÍDUO

O que faz um poeta
quando o seu tempo acabou?
Quando o cotidiano engole vorazmente
o seu ócio criativo?
Quando seus papéis sociais são trocados
e ele, um qualquer, sufocado pelo dia-a-dia?
O que faço com a poesia trancada, guardada, pulvurulenta?
Onde está minha rede, a madrugada, o silêncio, o café, longas baforadas,
amigos do meu lirismo, agora dormente.
-Tragam meus versos, para eu lavá-los e passá-los!

A vida deu uma breve parada, eu sei!
É o fim do horário de verão, e,
certamente, o fim do horário da minha poesia...

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

DESCULPA DO POETA

ESSE BLOG FICARÁ SUSPENSO POR ALGUNS DIAS.
MOTIVO ONÍRICO: O POETA PIROU...
MOTIVO REAL: A MINHA INTERNET PIFOU!

sábado, 12 de fevereiro de 2011

TAUTOLOGIA

   O chão seco e quente queima os pés das crianças lavradoras no caminho longo para a escola...
   E mais de dez poesias são escritas sobre esse tema nesse exato momento.
   Salve-se da criança esperança!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

DAS INTERROGATIVAS, EXCLAMATIVAS E ESPARRELAS

O que te fazes gostar tanto assim da vida?
Por que te alegras tanto em retirar todos os caroços da melancia a ser comida?
Como consegues rir para o beija-flor?
Com que olhares submissos te entregas a lua cheia?
Você nem em Deus acredita!
O buraco é enorme! A água evaporou!
Seu time não foi campeão! E as mulatas não sambam mais!
A música não é mais honesta! A poesia é cega-e-surda!
...
Pare de sorrir, esconde esse dente, hão de te chamar de hipócrita.
E a cada novo sorriso teu, o amanhã reage diferente e provavelmente eu quero estar contigo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

AINDA SEM NOME

Julio apertou o passo e passou a correr, gritava, corria desesperado abanando o braço direito, porém o ônibus não parou e a sua maratona foi em vão.
Retomando o fôlego sentou por alguns instantes. Sentado na guia, inconformado, como podia ter perdido aquele ônibus. Num cálculo rápido imaginou o que aqueles dez minutos mudariam na sua vida.
Caminhou rumo ao ponto, logo adiante, umas seis pessoas aguardavam. Olhou para os rostos estranhos e pensou querer conhecê-los. Uma senhora abraçava uma sacola de supermercado com um cansaço indescritível. A mãe segurava o garoto vindo da escola e ainda irrequieto. Os moço, um branco e um pardo, trocavam confidências baixas e só aumentavam o volume das vozes nas gargalhadas. Restava uma garota feinha.
Uma lotação parou e a senhora da sacola ocupou o lugar da frente, seguida pelos rapazes. Julio, recuperado do fôlego imaginava as conseqüências do seu atraso. Pensou em várias desculpas, das reais às imaginárias e estava certo que dessa vez não haveria perdão.
Agradecido por sentar, ruminava seu anojo, tão inconformado, que a certa altura, a moça feia perguntou se ele precisava de ajuda. Diante de algo inopinado ele, abanou a cabeça que não e silenciou por alguns momentos antes de dizer que iria perder o emprego. A moça garantiu que não era possível. Um pequeno atraso, nesses dias de hoje, trânsito, acidentes, todo mundo tolera alguns minutos. O rapaz garantiu que era o terceiro da semana e que não haveria perdão. A moça certificou-o de que era pouco, não carecia de tanta angústia.
Julio levantou subitamente, apertou a campainha e desceu. Conforme o ônibus avançava desembestou a correr atrás dele. Gritava, agitava os dois braços, mas o coletivo acelerou na descida e desapareceu.
Já não pensava mais no emprego, nem nas desculpas, a angústia era outra, sem nome, apenas um rosto na cabeça e a esperança de revê-la novamente.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Que coisa!



Recolhi no jardim de minha casa alguns fragmentos do medo que havia enterrado por lá, outrora, e que hoje brotaram verdes e prontos para crescerem novamente.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

CONJECTURAS DA PRÓPRIA POESIA

      Preciso de mais um tempinho, visto que os lendo agora, mudaram totalmente meu querer, e creio ser injusta com algum deles. Logo mais retorno...dentro de mim.
    Depois de uma análise criteriosa, mudei radicalmente de opinião. Isso posto, diante de tamanha vulnerabilidade é melhor colher outras opiniões, noves fora, e pimba.
    A minha nova preferência ficou: consulte outras fontes, colha novos dados e reavalie. Consulte também um tal de interior, acho que ele é a melhor pessoa para tal tarefa. Que bom que de mim saíram só opiniões, é a idade, sempre fazemos só o suficiente. Parece que a minha poesia ficará para depois. Se alguém lê...parece traição de quinta categoria, muitos pensamentos nos outros, que cafajestes.
   Calmo é diferente de ansioso, estou calma, mas desejosa por um retorno.
Ah...Como seria bom se eu fosse gauche na minha poesia.

FRIAGEM

Quando está teimosa...
A invernagem egoísta
só traz interlúnios.

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!