sexta-feira, 1 de setembro de 2017

PRAZERES

Como 
Como você
Como você está
Como você está nesta
Como você está nesta manhã
Como você está nesta manhã ensolarada
Como você está nesta manhã ensolarada e azul?

terça-feira, 29 de agosto de 2017

ESQUINA

na dúvida,
mantenha-se

na cegueira
estúpida
daquela frase
diz-se
o que
não quer
esquiva-se
foi
senão
então
foge dali
que o amanhecer chega logo.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Como ser um bom professor?

Perguntaram-me o que seria um bom professor. Assim de chofre, titubeei e não soube ao certo responder, disse um "sei lá", um outro monte de frases feitas, " uma pessoa com boa formação", e resumindo não respondi. Não sei dizer ao certo porque não soube responder a uma pergunta aparentemente óbvia, afinal sou professora. Mas, o fato é que aquela pergunta ficou ecoando em meus pensamentos e mais, a ausência de uma resposta imediata, ou mesmo de uma resposta bem elaborada, também geraram um enorme mal estar em mim. E depois de muito pensar, não cheguei ainda a uma conclusão; não sei dizer o que é ser um bom professor, talvez porque não tenha mesmo uma resposta, ou talvez porque não seja tão simples assim. Um bom professor não se resume em uma resposta, em um diploma, e é claro que há necessidade de tudo isso, formação mais estudo mais capacitação mais um montão de coisas que o tornam professor, porém, não é só isso. Tem algo de maior, que é subjetivo, diante de tantas objetividades de uma aula, de um conteúdo, de uma lousa. Tem algo muito maior que é o ver além, ouvir além, porque tem um outro ali que te olha querendo que você dê conta de explicar para ele o mundo todo e até quem ele é. Tem algo muito maior que não se explica, que se sente. Saberia eu dizer o nome de vários bons professores, contudo não saberia dizer o motivo, porque o que me faz lembrar deles talvez não tenha explicação, apenas sentimentos bons.

CALÇO

corpo mole
alma vazia
solidão
qual o calço do mundo?
seria o amor?
então...

sexta-feira, 12 de maio de 2017

VOLUME ÚNICO

compactada
sem prefácio sou
um único
ensaio 
de mim
leia que quer
na página
aberta 
sem vírgulas
sem revisão
sem nova publicação
página escrita 
foi-se
em vão

terça-feira, 4 de abril de 2017

PEQUENA HISTÓRIA ou Historinha

Vinha catando seus pensamentos enquanto caminhava até o ponto de ônibus distraidamente, nem viu que a moça lhe sorriu, perdeu o rumo.

sexta-feira, 31 de março de 2017

MERETRIZ DA PALAVRA

Se por acaso dão-me a
alcunha de ser vadia
e mais ainda de não
me terem criado para isso
pouco caso faço da vida e
não mereço o tal crédito
da confiança do mundo
que me enche de fadiga,
e com tanta safadeza
sou afastada da nobreza

Assumo total vadiagem
vendi meu corpo a poesia
sou vagabunda do Gênero
pulo todas as vírgulas
me entrego somente às metáforas
e nada cobro por isso
nem me protege a gramática
que se dane a etimologia
sou meretriz da palavra
abaixo tanta hipocrisia!

quarta-feira, 29 de março de 2017

FLOR-LETÍCIA

Se no orvalho da vida
Abre-se aquela flor
Quem não sabe olhar
Perde tamanho esplendor

Se a menina tal a flor
Insistente em aflorar
Como posso não admirar
Ouvir, pensar e gostar?

Faz meu dia alegria...
Mas, a pequena flor
Não entende seu valor
E se esconde no andor

Mal sabe ela, que o poeta
Assiste sua pétala surgir
Observa quieto e feliz
Bela Flor-letícia se abrir!



sábado, 18 de fevereiro de 2017

O JARDINEIRO

Senhor tal não fala
não tem os dentes da frente
grunhe e não se entende
arranca a flor junto ao mato
não distingue beleza de acúmulo
se oferece um prato de comida
só come sanduíche e não tem dentes
quebra os vasos de cerâmica
na rudeza é mestre do arrancar
uma rosa lhe sorri e ele não vê
que tristeza ver o mato crescer
que tristeza não ver o homem
não há nada no homem
só sabe que tem que arrancar 
homem daninho 
a rosa abriu

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

ARREGO

Na verdade há tanto medo
de tudo, da vida, da morte
do desejo e das dúvidas

Tem-se medo de amar
das baratas e bichos
dos bichos metafóricos

Há medo disfarçado de
culpa, medo do medo
travestido de coragem

Só não se pode fracassar,
pedir arrego jamais...
engole esse medo e finge que é gente!

sábado, 4 de fevereiro de 2017

SONHO

             Tenho muita raiva quando gasto meus sonhos com alguma coisa besta. Aconteceu hoje que sonhei com uma tremenda baboseira. Acredito que sonhar tenha muito daquilo que passamos, vivemos e desejamos, então porque gastar os nossos sonhos com enredos tão precários? Para a Psicanálise os sonhos são ou deveriam ser as manifestações de vários desejos reprimidos. Já para a Ciência seriam uma experiencia do nosso inconsciente durante o sono. E, finalmente, para os estudiosos, místicos e adivinhas, as nossas quimeras noturnas são alvo de profundas análises e até de possíveis premonições.
               Agora que já divaguei um bocado sobre o assunto, sonhei que estava no Pão de Açúcar, não o belíssimo morro carioca, mas o supermercado mesmo, comprando besteiras, e gastando uma fortuna. Esse foi o sonho mais idiota que eu me lembro de ter sonhado. Espero mesmo que nessa noite eu possa conseguir sonhar com algo mais poético, romântico e significativo. Que maçada!

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

CULPA

Assim caminham
as crianças e os velhos
com uma culpa enorme 
de quererem ser os adultos
que não foram ou que ainda virão a ser.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CROSSOVER

Há um tanto de várias mulheres
que se misturam em mim
se o olhar de ressaca não é pela perda
é um tanto pelo marasmo da vida
não é que queira ver o pôr do sol
ou ainda trocar olhares com búfalos
há mais de mim que não se entende e
o cotidiano me aflige aos montes e não quero ficar calada
não há nada de depressivo a ponto de
me jogar diante de uma estrela
não é a hora, minha hora, meu instante
tenho muito a revelar
tenho a velhice por vir, atrasada nas lembranças de minha infância feliz
que se surpreende nas memórias de como me tornei
essa mulher
não posso ficar calada e tenho tido menos coragem em dizer
porque há também um complicado ou isto ou aquilo
que me angustia
porque o sentimento traz tanto pensar em tudo?
não sei responder ainda
tenho dúvidas da mulher que me tornei
tenho medo também da senhora que virá daqui a pouco
queria os poderes das mulheres maravilhas
das atrizes e amantes e escritoras e cientistas e lavadeiras e donas das casas
queria ter um pouco delas em mim
um tanto além do que apenas sou e do muito que queria ainda ser 

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

EQUIVALÊNCIA (Para Guilherme)

    Esse é o primeiro texto de 2017. Não sabia ao certo o que escrever e também estava sem grandes vontades, já que passei parte do ano passado tentando escrever e algo parecia que não se encaixava, ora tinha tema e nada de desejo, e assim não escrevia nada novo...

    O fato é que para tudo nessa vida há que se ter a troca, e assim nessa toada percebi que nem sempre que damos algo em troca, recebemos de valor igual outro algo. A lei da equivalência deveria ser de fato algo concreto, mas não é. Nem sempre o que perdemos volta, nem sempre o que parte retorna, e também não há certeza se tudo aquilo que amamos, da mesma forma nos amará. Embora saiba que longe de ser igual, a equivalência pressupõe uma relação mútua, cuja troca só acontece se ambas as partes acreditarem que aquilo é verdade, assim sendo a equivalência só reside no sentimento. O amor é talvez a única forma que transite na lei da equivalência e nem há garantias que ele resistirá por tanto, tanto tempo.

    Essa é primeira tentativa de escrever algo novo. Não sei que preço terei que pagar ao longo desse ano na esperança de que consiga escrever novas coisas; tenho tido menos coragem, nenos vontade, imaginação, inspiração. Talvez a troca seja entre a escritora que dormita em mim e a pessoa que vê a impossibilidade de continuar a escrever, ambas transitam na equivalência, só não sei qual delas é a verdade.

terça-feira, 24 de janeiro de 2017

URDIDURAS- parte final

        A vida é um capítulo inacabado, porque nossas lembranças ficam ocupando a memória de quem fica.

        A trama inacabada de nossas personagens foi colocada no tear do acaso. Não se pode dar um fim para isso. Os fios da vida dos dois, ela e ele, serão tecidos ou não pelo tempo, pelo seu tempo, na ação de urdir, entre os dedos de quem faz a trama.

URDIDURAS-Um conto inacabado

Capítulo 9
A estradinha de terra ainda cheirava o úmido orvalho da noite anterior. Antônio ia por ela mais pensativo que de costume, pois a visita do filho, a imagem das folhas secas e todos os acontecimentos últimos, haviam tomado uma forma estranha em sua cabeça.  Forma de nuvem em pequenas bolas, que ora dispersavam, ora eram para chuva.
Na cancela, que abria e fechava, um hóspede puxou certa conversa enquanto tentava um entrosamento com o cão bege. Perguntou se sempre morou na região, se tinha filhos, se o cão tinha nome. Investigou o que queria e se foi. Mas o estopim daquela conversa não foram as perguntas sabatinadas feitas ao homem da cancela e sim, como Antônio se sentiu ao respondê-las. Se antes sua cabeça girava em turbilhões, agora eram imensas tempestades de dúvidas, desejos, e vontades estranhas.
Desejou ter sido jardineiro, e relembrou todas as plantinhas que haviam sido enterradas no quintal de sua casa. A mãe chegava com a muda no saco preto e entregava para o menino, que já não era mais ele, o moleque tirava com o maior cuidado, porque havia aprendido com a mãe essa delicadeza do plantio, arranhava os dedos na terra e fazia o buraco. Guardava a raiz lá dentro e ajeitava a terra ao lado, em montinhos. Sentava ao lado e ficava olhando para a mudinha verde e quieta. Ficava a manhã toda ali, até o pai chegar com um safanão a lhe pedir que fizesse alguma coisa ao invés de ficar ali plantado.
Na volta, pela mesma estrada de tantos anos, de imensas idas e vindas, de tanta poeira levantada o homem sentiu uma profunda e irrefutável sensação de mudança. Como se quisesse trafegar em novas terras e caminhar por outros rumos. Plantar novas mudas. E assim, desses rompantes é que surgem as ações que nos levam para lá ou para cá. São essas dúvidas somadas às angústias da alma que nos fazem agir. Não estava ainda bem certo o que o homem faria, porém alguma coisa ia mudar. O cão bege vinha ao seu lado no mesmo compasso de sempre.





URDIDURAS- Um conto inacabado

Capítulo 8
Acordou do sonho bom que há tanto tempo não lhe faziam as noites mal dormidas. Sabia apenas que era bom porque o coração lhe dizia isso, mas não se lembrava de parte alguma. Fez o café em silêncio e tentou coordenar as ideias para ter a certeza de que continuaria com tudo que havia determinado para si mesma de que faria. Sim. Fez o café e esquentou o leite. Fez mais barulho que o normal e o homem acordou.
Joana esperou que reclamasse e assim que o marido botou cara na sua, disse que estava grávida. Não estava. Disse segunda vez ao marido que estava grávida, que finalmente ele seria pai, disse que ainda era começo, que não sangrava havia pouco tempo. O marido perguntou se ela estava certa e se estava passando bem. Ela respondeu que sim e que não, enjoava. Disse tudo isso com tanta certeza que a mentira virou quase verdade na palavra da mulher. O marido abriu a boca e ia dizer qualquer coisa. Apenas chorou, jurou, chorou, jurou que não batia mais em nem um fio do cabelo dela, e chorou. Nem viu que a mulher já havia saído para o trabalho.
Sacolejando no ônibus os pensamentos de Joana iam ao infinito. Sentia uma combinação estranha de euforia e tristeza sem entender ao certo aonde tudo isso a levaria. Só conseguia lembrar-se de que não apanharia mais e essa era toda a certeza que tinha tal qual a mesma certeza, que se não passar o pano seco sobre o lustra-móveis a madeira não fica brilhando. O tempo era mais largo e esperançoso. Era isso: o tempo havia lhe emprestado a possibilidade de um amanhã.

No almoço comeu tanto que não conseguia espanar nenhum lustre. A colega de serviço perguntou se estava bem e ela disse que não porque tinha comido demais. Nessa noite antes do marido chegar, a mulher comeu em casa tudo que havia. Esperou o marido chegar para vomitar na sala, quase aos pés dele, que ao invés de bravo, achou graça no vômito. Ela disse que limpava, ele disse que fosse descansar, que ele mesmo limpava. Disse que o filho era só dele e dos brabos igual ao pai. Não apanhou a Joana mais, apenas sonhou com um menino que nem existia, porém com uma cara igual a dela.

URDIDURAS-Um conto inacabado

Capítulo 7
Passou a manhã lembrando-se da cena que imaginara e sentiu-se muito mal. Era homem de matar formigas, mas quem diria matar a sua mulher, inda mais com folhas secas. Ficou por ali entre uma cancela aberta e outra, comanda preenchida com letra e número, pensando em tudo. Pensou no filho, se estaria ainda por lá, pensou também no jardim de pequenas árvores arredondadas por ele com uma imensa tesoura de poda. Eram tantos pensares que olhou certa hora para o cão bege que roía um graveto de pau e tentou concentrar-se apenas no olhar, no som do ranger de dentes do cão.
Teve a fiel companhia canina na volta para casa. A fidelidade de um cão é inexplicável, gratuita, dava-lhe comida isso é verdade, mas eram restos do que lhe sobrava de jantar, e isso não tinha juízo para um cão, nem questionava se era resto, era algo dado, assim dividido, e um cão não pensa nessas coisas, cão aceitava a dádiva e balançava o rabo feliz. Vinham os dois no mesmo andar cadenciado que levantava apenas uma pequenina poeira. De longe viu o filho na varanda da casa ao lado da mãe. Tinham rostos parecidos até mais por sentimentos mútuos que guardavam, do que pelo parentesco que os unia. Ao perceberem que o homem Antônio chegava, entraram.
Sentou-se na escada e montou um cigarro de palha. Picou o fumo em pequenos pedaços e enrolou devagar. Ouviu o rapaz se despedir da mãe e dizer que depositava dinheiro para ela, que recusou e disse que estava bem, havia ganhado muito nas faxinas e que não carecia. Parou em frente ao pai, despediu-se com um abano de cabeça fraco e frouxo. O cão bege não latia porque já se sabe que não late a quem parte, pois sabe o cão que quem parte já se vai tarde.

A mulher na cozinha trazia um misto de tristeza e alegria estampado no rosto. Antônio perguntou se o rapaz estava bem e a mulher respondeu que graças a deus estava sim. Não havia puxado ao homem, era moço de opiniões claras e definidas e sabia bem o que queria da vida, que não era um ser que abria e fechava cancelas, a esperar da vida sabe-se lá o quê. A imagem da mulher cheia de folhas secas na boca veio á mente do homem, que tratou de pegar uma banana e descascá-la para depois enfiar bocados em sua própria boca.

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!