O
menino do sorriso
O
Sol lá grosseiro queimava nossa sombra enquanto caminhávamos pela praia quase deserta.
Ao longe, avistamos dois meninos e um cachorro. Na praia tudo é bem longe, aquela
imensa areia, ora branca, ora cinza, guardava pequenas conchas e cascalhos,
algumas sujeiras humanas também, mas preferi enxergar só o belo naquele dia.
No
passo seguinte, depois do rio, que atravessamos e claro derrubamos várias vezes
a areia lateral, numa brincadeira sem nexo, porém deliciosa, decidimos que era
hora de fazer poesia, ali, na areia-papel suavemente alisada pelo vento
constante de Maragogi. Havia de achar a caneta, ou a pena, como quiserem.
Achada.
Não cabiam rascunhos, a poesia tinha que sair assim de chofre, como tudo por
ali; algas o mote perfeito para ele. Para mim, a maré indecisa. Pensamos rápido
e poetizamos no areal. Olhei para o lado e o menino sorria para mim.
Sorri
o mais largo que pude na tentativa inútil de suprir aquele carinho
descompromissado. “Estamos escrevendo umas poesias”, puxei a prosa,
correspondida. Ele era sim de Maragogi, criança, ali, vendo, a poesia, os dois
estranhos, turistas, ele sorria o tempo todo...
Perguntei
seu nome. Houve uma longa pausa. Pensou o garoto, nem sei que coisa. Titubeou e
resvalou e soltou: “Rodrigo”. Sei que esse não devia ser seu nome original.
Tive tanta certeza disso como à mesma de que aquilo tudo era o mar salgadíssimo
de Alagoas. Lindo seu nome respondi e continuei dizendo se ele queria escrever
também. Não quis, nem sei o porquê, ou talvez suspeitasse, mas deixou que
tirasse um retrato, um lindo e doce retrato.
Quem
precisa saber seu nome!