A
cada dia que transita meu escrever diário fico com mais raiva da linguagem; não
sei por que tive que estudá-la antes de descobrir a poesia e a literatura.
Demorei a perceber que se não soubesse parte da sintaxe, ou da morfologia seria
bem mais feliz. Não tenho estilo literário, não quero ter um estilo literário,
nem sei se o que escrevo tem algo de literatura. E o meu conflito parte
justamente pelo fato de que como professora de Língua Portuguesa eu analiso o
que a escritora escreve, e essa simbiose doentia enlouquece.
Em uma
das leituras dessa semana, por mero acaso, ou talvez porque nossos olhos
busquem sempre solução para aquietar a alma em angústia, li trecho de Jorge
Luis Borges que me fez não digo pensar, mas repensar algumas coisas. O capítulo
intitulado: La supersticiosa ética del lector, dizia em seu início “ La condición indigente de nuestras letras,
su incapacidade de atraer, han producido uma superstición del estilo, uma distraída
lectura de atenciones parciales. Los que adolecen de esa superstición entienden
por estilo no la eficácia o la ineficácia de uma página, sino las habilidades
aparentes del escritor: sus comparaciones, su acústica, los episódios de su
puntuación y de su sintaxis.”
Fiquei a pensar na
minha exigência em relação ao que escrevo, sou leitora de mim, e dessa forma
busco o tempo todo o cuidado excessivo nas regras, na pontuação e na linguagem
que uso. Tenho imenso cuidado para não produzir neologismos exagerados e mais
ainda, pavor da licença poética, como justificativa para a bobagem, para o sei
que lá poético. Diante disso há espaço para a escritora em mim? Não sei. Bem
sei que há penúria e sofrimento, as escrituras saem sempre tortas e fracas.
Ainda citando Borges: “Son indiferentes a
la propia convicción o propia emoción, buscan tecniquerias que les informarán
si lo escrito tiene el derecho o no de agradarles.
Nessa singular relação entre os meus dois “eus” fica a
tentativa do entendimento daquilo que escrevo livremente, quando consigo soltar
as amarras e não faço alterações de estilo ou de ordem fonética, e as palavras
saem saltitantes como música, porque têm nelas a necessidade de plantar-se nas
linhas e existirem por si mesmas, sem o jugo da carroça atrelada e presa.
Bom foi ter lido isso, e talvez todas essas reflexões
amenizem a minha questão e faça com que eu consiga escrever o que for para eu
escrever, o que minhas histórias quiserem contar e o que as minhas poesias
quiserem sentir. Não poderia terminar sem citar Borges novamente, já que metade
desse texto é com sua parceria; para se pensar sobre tudo: “...la literatura es uma arte que sabe profetizar aquel tiempo en que
habrá enmudecido, y encarnizarse com la propia virtude y enamorarse de la
propia disolución y cortejar su fin.”