quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

FIM DA LINHA

              Não tenho tido tanto tempo para você. De fato  é bem verdade isso. Há um tanto de desculpa nisso também, mas o que é  a desculpa senão uma mentira travestida de bem? Larguei mão da linha, da costura e da vontade de preencher essas linhas daqui tão virtuais. Não abandono porque há sempre uma necessidade de escrever algo torto, assim de repente, até de chofre. Começamos com mais ternura do que afinco. Eram tantas as postagens, tantos os dizeres, agora nem um nem outro, nem quase nada. Não me calo ainda; por hoje sei que é o fim da linha desse ano e não se avolumaram os tomos como dantes, nem os leitores, e como precisei deles... mas fiz algo de escrever por aqui. Meus pés andam cansados dessa Valsa Literária, e quem está a ligar para isto?
             Camões diria que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, sei bem o que é o tempo e mais ainda entendo das vontades. Não tenho alma de escritora, nem mão de escitora, não tenho nada além da palavra minha que sai em tropos defigurados e descosturados do que é dita a tal da Literatura. Sei tanto disso também. Porém, é a vontade que eu desejo da palavra, sinto cheiro dela em mim. Não a conheço lá na alma, conheço um pouco o normativo vocábulo que uso para ser a Marili que acho que tento ser diariamente, todavia aquela que escreve é tão outra desconhecida minha que ora vem, ora vai, ora não volta.
              Machado diria que há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. Que é o que escrevo se não o trivial? Crônico! Tão banal que não há interesse nisso, há tanto a ser lido, há mais para ser visto, quem há de querer passar a vista no óbvio. Crônico! Carnicão. Decerto isso é assim mesmo, quem chegar ao fim da linha disso tudo já é um vitorioso. Não há tentativa de ser maçada, é só a vontade mesmo da dita palavra.
              E assim Saramago diria que se os seres humanos não morressem tudo passaria a ser permitido, e não é isso que eu quero, nem ninguém quer. O bom da palavra é que ela é permitida, para todos e até para mim, posso dizer o que quero dela e ela de mim. Isso é tão democrático, tanto, que me assusta, é democrático demais, porque pode ela existir e ninguém querer ver, ler, ouvir, passar um olho sequer.
              Há tantas linhas ainda, por hora é o fim.

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!