terça-feira, 18 de agosto de 2015

MISSIVA (ou cartinha mesmo)

Gostei do léria, original. 
A idade é isso mesmo, bate e chega sem pedir e traz junto as manias. Mas, vejamos quando eu tiver quase setenta e você estiver com a idade que estou agora, vai ser o quinhão de manias, suas então, piores que minhas, que já estarei gagá e com permissão para insanidades. Enfim caro amigo, caríssimo, custa caro nossa amizade, mantê-la é um turbilhão, nesse mundão que conspira tanto contra-com o perdão da rima paupérrima. 
O cotidiano nos aflige, é só isso. Mas...odeio as adversativas! Estamos será para o que der e vier. Comemoremos a nossa amizade. 
Um brinde aos eternos amigos de antes, de agora e de depois do amanhã!
Um grande abraço
 

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

MULATA

Mulher ria vadia
Açucarada pela
Melodia mal viva
Do seu coração
Escuta o samba
Da vila, o cordão
Arrasta o tempo
E ensaboa chão
Na melodia ouvia
Repetia o refrão
Açucarada pela
Cantiga mal viva
Do seu coração
Vadia ria a dita

Quer uma oração, benze três vezes com um cordão!

terça-feira, 11 de agosto de 2015

DESÁGUA

Na nuvem do silêncio de nós dois
Confundi palavra,será-seria minha?
Ou tua n´minha, invejinha, daquele
ou este, só nosso verso.
 
Olhei pelo avesso do amigo
Que vinha do outro lado
Da minha língua, raivinha, daquela
ou esta, palavra que instila.
 
Nós dois, nó no pescoço
Goela sequinha, mais serei
Uma só trova, poetastra, aquela
ou essa, odezinha que esquisita.
 
Na margem do rio de nós dois
Encontrei o curso do silêncio
Um, ou quantos necessários,aquilo
ou isso, que poeminha nos resta.

domingo, 9 de agosto de 2015

UM CONTO QUALQUER

Bastos era um senhor de sessenta e poucos anos que vivia sozinho em um pequeno apartamento do centro da cidade de São Paulo. O único filho morava em outro país e falavam-se poucas vezes durante o ano. Alguns parentes no interior, que a ausência de contato havia guardado na última gaveta da memória qualquer possibilidade de reencontros. Da sua rotina diária, além dos pequenos afazeres de limpeza, manutenção da sua sobrevivência, cozinhar algo, aparar a barba, alimentar os pássaros, sobrava-lhe uma enorme parte do dia para nada fazer.
Bastos era homem comedido, falava pouco e durante toda a vida mediu bem aquilo que lhe saía da boca; entre falar e dar sua opinião preferia calar-se; o que fez com que escutasse a vida toda que era um pau mandado, um nada, um livro sem receitas, um homem vazio... Nunca se importou com isso, não falava porque não valia a pena dizer, somente o que era certo era dito “três pães, por favor,”, não importava dizer algo sobre a coloração dos pães, “nossa, como estão tostados”, já estavam tostados, de que valeria dizê-lo.
Naquela manhã aparava a barba como o costume lhe mandara fazer, com a pequena tesourinha em punho, tirava pequenas lascas dos pelos grisalhos, que caiam sobre o pano metodicamente aberto na pia. Olhava para o seu rosto envelhecido e pensava no transcorrer da sua vida. Não era homem de se revoltar, sua alma era a mãe da resignação, aceitava as coisas, as pessoas, a vida, como aceitava o dia virar noite; os fios ora brancos ora pretos salpicavam o lenço branco junto com uma pequena gota de sangue “que merda!”.
O homem olhava assustado para a imagem do espelho, não pelo corte feito, que era pequeno demais para alguém dar-lhe algum valor, mas seu estupefato olhar era da frase que sua boca havia proferido; não era homem de dizer vilezas, não era homem de falar mal por pouco, nem por muito havia perdido sua linha; nada disso era o que lhe tinha causado o pavor, a voz que lhe saíra da boca não parecia ser sua, aterrorizado não sabia o que fazer, baixou os olhos para tirá-los do espelho e sussurrou baixinho o seu nome, queria escutar-se.
A confirmação do dia anterior veio na hora em que Bastos pediu os três pães e queria os mais brancos porque estava cansado de pães tostados e com gosto de queimados; sua voz agressivamente pedia ao rapaz do balcão que estranhou o pedido, mas agiu como a fala proferida lhe ordenara. Bastos tentou desculpar-se, porém o que lhe saiu pela boca foi que nunca mais haveria de lhe empurrar pães de quinta categoria. Resolveu não mais dizer nada, haveria de fazer-se calar, pegou o saco, pagou e correu para casa, assustado como se estivesse preso em alguém que não era ele.
Em casa defronte ao espelho mirava-se com estranheza e pavor; “está olhando o quê?”, a frase que ele mesmo dissera, fizera-lhe rir a gargalhada mais histericamente possível, só pensava que estaria louco, não tinha coragem de dar nem mais um pio; passou o dia sentado na beirada da cama numa mudez sobre-humana quando se assustou com o tocar estridente do telefone, correu a pegar o fone, mas titubeou, afastou-se, retornou, atendeu; “ah, é você seu ingrato, não telefona há tempo deve precisar de algo, desembucha logo que tenho mais o que fazer!”.
Como diria o ditado: a boca fala e... ele quem paga; ficou Bastos a ouvir o sinal intermitente da ligação interrompida. Passou sua voz então a praguejar as mais absurdas frases, resmungava,contava, lembrava, cantava, assobiava, discursava, orava, discutia, papeava e dialogava consigo mesmo. “Eu penso, eu opino, digo, juro, minto e menciono”. Estava em um estado absolutamente esfuziante, como se sua garganta, ora dantes travada, tivesse desatarraxado num mar de arquixilemas e arquifonemas.
Se a voz dominara o homem ou se ambos haviam se fundido em um só não é coisa para se pensar nesse momento da narrativa porque nada de filosófico há na mudança e o que se é relevante dizer são os fatos, os fios condutores das ações; o caso é que o senhor Bastos estava mudado e nem mesmo sabia onde tudo isso tinha começado, acostumara-se com a nova maneira que a vida lhe impusera com a mesma brandura que se habituara a barbas; agora era ser que cuspia fogo, deixava marca por onde passasse, rasgava todos os verbos, espantava os bichos, encantava e desencantava.
Bastos era um senhor que vivia sozinho em um pequeno apartamento do centro da cidade de São Paulo. O único filho morava em outro país e falavam-se várias vezes durante o ano. Alguns parentes no interior visitavam sempre o homem, que recebia todos calorosamente em longos papos e risadas madrugada a fora, resgatando sempre o que havia guardado na primeira gaveta da memória: lembranças. Da sua rotina diária, além dos pequenos afazeres de limpeza, manutenção da sua sobrevivência, cozinhar algo, aparar a barba, alimentar os pássaros, sobrava-lhe uma enorme parte do dia para conversar, cantar, aconselhar, jogar conversa fora, discutir...


domingo, 2 de agosto de 2015

sábado, 1 de agosto de 2015

NORMATIVAS

para entender a vida
há que se entender da
gramática
se a oração for condicional
use como resposta
uma adversativa
só assim é possível
justificar as atitudes
que não sabemos
os porquês

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!