sábado, 30 de novembro de 2013

FRAMES


Beija-flor ali doce

Meu olho bate em

Frames desajustados

Olho quadro a quadro, pulso

Sigo o coração do bicho

Que lateja e acelera a glicose

Meu peito me abandona e me entrego

Ao vento meio brisa, das asas

Que batem.

 

sábado, 16 de novembro de 2013

ACALANTO


Era bem cedo quando a velha senhora separava as gemas das claras, uma a uma, jogando na vasilha de ágata as preciosas, amarelos-ouro. Ao todo eram doze somente gemas. Arrastava as chinelas para cá e para lá, em movimentos deslizantes do chão recém-encerado. Pegou o vidro e mediu no prato fundo de sempre, do açúcar mais grosso, quase cristal, ajeitando as bordas com o dorso da colher de pau. Começou a bater as gemas com o açúcar primeiro lentamente, enquanto assoviava baixinho qualquer canção, depois o fremir era intenso; a melodia acompanhava agora os movimentos rápidos que nem a velhice havia ainda levado. Com a mão desocupada apanhava bocados de farinha de trigo que eram salpicados à mistura e assim, a massa ganhava o corpo que a boa e solitária mulher queria. O ponto era o mesmo de quarenta anos, nem um grama a mais nem um a menos de trigo. Chegou. A tábua longa disposta sobre a mesa esperava a mistura pronta para ser esticada, na espessura ideal e em seguida, ser cortada pela carretilha. Untou com manteiga bem gorda. Os sequilhos agora prontos descansariam o tempo certo de ela limpar o pouco que sujou. As pernas doíam demais e a saudade também.  Sentada. Vigiava. Há que se vigiar, pois assam muito rápido. O cheiro era doce e terno. Colocou a segunda fornada.

Ouviu o chamado lá de longe, eram os netos, eram os netos.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

BOSQUEJO DIMINUTO


 

Diminutivo, em gramática, representa o grau dos substantivos, adjetivos e alguns advérbios, que indica qualquer coisa de pouco tamanho, enfim, expressa uma ideia de diminuição; fato: algo é menor. O teor afetivo, irônico ou a intenção depreciativa atribuídos com o passar do tempo pelo uso dos diminutivos nesses casos, é que os tornaram os vilões das expressões escritas e faladas. Processo esse que se deve ao fato da nossa língua estar em constante dinâmica.

Nesse sentido, entender o uso dos diminutivos é fundamental, já que ele será por diversas vezes a representação física de vários sentimentos como a inveja, a bondade, o desprezo, a delicadeza. Há que se analisar o contexto. No complexo sistema de trocas entre falantes da língua é necessário que o valor representado pelo diminutivo ali mencionado, realmente seja compreendido em sua intenção.

Historicamente pode-se entender a mudança ou formação de alguns diminutivos, a palavra camarim, por exemplo, já foi diminutivo de câmara e hoje ganhou nova conotação; célula, dantes, era diminutivo de cellas, o mesmo que um pequeno quarto em mosteiros medievais; vírgula, diminuto de virga, vara, bastão; ou ainda outras situações mais cotidianas como camisetas, camisolas e camisinhas, até caixinhas como gorjetas, e estilete, que assustadoramente era diminutivo de estilo.

Os diminutivos, portanto, não designam apenas a diminuição de tamanho, são mais complexos, indicam metaforicamente sentimentos ligados às intenções e desejos de quem os usa. Waldeck e Souza dizem que se o homem é a língua que fala é todo ele que se coloca na linguagem e as frases então proferidas valem pela intenção do falante e pelo contexto da situação.

Excetuando-se os diminutivos sintéticos como estatueta, riacho, ou vilarejo, belos em sua origem, por exemplo, e também os eruditos tal qual óvulo, nódulo e película, adaptados pelo tempo do correr das línguas nas bocas do povo, cuidado, muito cuidado ao usar os sufixos inhos e zinhos, esses são os mais perigosos, eles certamente demonstrarão quem você realmente é.

 

terça-feira, 12 de novembro de 2013

CONTRAFEITA


Depois do alvorecer

Assim como o céu

Muda o seu tom

Eu mudei

Troquei a plumagem

E sigo agora em novas

Cores, em outro corpo

Como os papagaios contrafeitos cores-de-bispo

Se agora ainda sou eu?

Bem sei que talvez

Tenha mudado a nuance

Bem sei provavelmente que o verde do vale está agora mais claro e límpido

Porém,

O rio que corre em sua pequena

Linha sinuosa...

Ainda é o mesmo, porque não deixou de ser rio.

 

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Poemas Brabos!: Pródromos

Poemas Brabos!: Pródromos: Cena interpretada na IV Mostra Artística Temática da Turma Braba Texto: Leandro Henrique Cast: Marili Santos (paciente) e Leandro Henri...

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

TEORIA DO CAOS


Quanta falta de sensibilidade

Cabe no mundo?

Quanta incompreensão

Cabe em todos?

Quanta desordem e caos

Cabem nas pessoas?

Quanta inabilidade eu tenho

Para compreender isso tudo

É imensa a minha, a nossa ineficiência

Dor tamanha, se eu pudesse entender

Saber antes o depois, isso tudo

Seria muito mais fácil...

Mas sou apenas, uma aprendiz

Preciso hoje apenas chorar tanto

Minha dor é aquela, legítima e incompreensível

E sinto o vento como nunca havia sentido antes!

 

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

BUSCA-PÉS


Houve um tempo

Que eu buscava

Todo o barulho

Todo o folguedo

Que a vida me dava

Descalça sobre fagulhas

Pisava qualquer faísca

Nem sentia as ameaças

Rasteiras, ironias e falsetes

Houve tempo de foguista

E tenho não mais intenso é

Já que tanta queimada há

Houve tempo de busca

Busca-és!

 

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!