domingo, 30 de dezembro de 2012

LEVANTE


Quantas palavras já saíram de mim

Meio tortas ora complexas e ou vazias?

Carregadas ou não de certo lirismo que

Para uns foi alento, a outra mesmice;

Foram fazer parte desse Universo da

Minha poesia, tão necessária para eu

Libertar-me e transportar-me e sentir...

 

Só sinto assim nesse átimo de palavras!

Escrever torna-se agora minha euforia

Eugenia de minha própria prosa poética

Que busca o inatingível e o intangível e

Busca o silêncio, a melodia certa e o sim.

 

Na estante da minha alma os tomos estão

Prontos ao avio, confusão e ao remate do

Inacabado, do impossível, porque já não

É mais em mim que cabe a poesia, ela

Atravessa meu pensamento numa eterna

Alegoria, sem fim, desejosa por si mesma

De ir, sozinha, órfã, caminhante, sem rumo...

 

Já não mais tenho medo das palavras

Olho-as com o mesmo olhar que me

Vejo num espelho, conheço-as, assim

Sem conhecê-las, numa descoberta

Que nem a morte será capaz de forjar.

sábado, 29 de dezembro de 2012

BOSQUEJOS DO FINAL DE ANO


          No balanço anual o que pesa mais é a balança.

         Aos que fizeram algo de ruim, de picuinha, de rancor, achando que o mundo ia acabar, agora é hora de esconder-se até o carnaval chegar.

         A chegada do ano novo não é entrada, é entrudo!

         Não mudo uma vírgula do ano passado, apenas acrescento reticências.

domingo, 23 de dezembro de 2012

REENTRADA NA ATMOSFERA ou FELIZ NATAL


Depois de duas semanas de árduo trabalho, folgo para a vida. Prestes a comemorar a Festa de Natal, parei uns instantes para pensar na simbologia disso tudo; tirando os presentes, as comidas, as obrigações, esse momento serve antes de tudo para agregar. Sim. É no Natal que ligamos para quem quase nunca vemos, ficamos mais suaves, doces e suscetíveis.

Recebemos ontem a visita de um amigo de infância, desde que nos casamos ele sempre vem, sempre, perto do Natal trazer um panetone para nós, especialmente para o amigo, é claro. Nesses vinte anos, sem falhar nenhum. Há nesse ato simbólico todo o resgate possível.  Vemos-nos apenas uma vez ao ano, as crianças crescendo de ano em ano, e uma amizade ligada pelo fio do Natal.

Engraçado ou não, nesse ano especialmente, não sei se por estar mais velha, mais cansada, mais suscetível, esse ato tocou-me profundamente; pela fidelidade, pelo carinho sem cobrança, por toda dedicação, enfim pela personificação da Amizade. Natal, portanto, nos serve, além de outras coisas, para lembrar-nos de que somos humanos, ainda bem.

Um ótimo Natal para você!

sábado, 15 de dezembro de 2012

PARADA TÉCNICA OBRIGATÓRIA

POR MOTIVOS DESINTERESSANTES ESSE BLOG FICARÁ SEM NOVAS POSTAGENS POR UMA SEMANA, MAS POR FAVOR ENTRE, LEIA COISAS ANTIGAS, PASSEIE E ATÉ BREVE!
MARILI

sábado, 8 de dezembro de 2012

ABANICO


Bafejo do Sol

Brisa inexistente

Nuvens pregadas

Corpo turvo, quente

A mulher saca o abanico

Abafamento, abana, abana, abana, sem sentido, fazendo ar que não há!

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

BRINDE


Um longo brinde para quem tem:

 

 Um ou vários amores

Casa e conforto necessários

Família e amigos

Dinheiro para fazer seus gostos

Saúde, muita e em ordem

Tudo no lugar, inclusive o caráter

Conhecimento e humildade para aprender

Uma ou mais habilidades

Sonhos e desejos variados

Alguns livros e discos

Papel e lápis, se quiser caneta vale

Uma crença ou duas ou mil

E claro, uma vida longa e esperançosa!

....

“Tim-tim”

 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

PARTITURA PARA TIMBALE


Tum... som bate

Agressivo e forte

Ressoa soberano

Violino reage e sim

Responde ao trovão

Que não se abate

Chora no couro

Rebate, rebate.

 

sábado, 1 de dezembro de 2012

DEVANEIOS DO ENRIQUE E MARILI


Nota (1): Aos leitores informo que esse texto foi escrito por Enrique e por mim, cabendo aos leitores identificar qual a parte é de quem.

 

Nota (2): As partes formam um todo indefinido de forma. Os conteúdos são fictícios e seus autores repletos de realidades. Qualquer tentativa de separar suas devidas manifestações está fadada a não obter sucesso. Esse texto é atômico no sentido literal da palavra e seus autores são ao mesmo tempo dois e um, q u a n t i c a m e n t e imprevisíveis.

 
 

            Azeite. Para se escrever algo é preciso inspiração, mais que isso, é preciso um empurrão que nos leve até a imensidão, escuridão das palavras, e catá-las aos pedaços fragmentados pela super nova ideia, no cosmo infinito da dúvida sobre o que se deseja falar. Sal. Salvar nas linhas o tempero da necessidade, é tão difícil acertar o sabor que se quer dar para um texto, um poema, um bosquejo. Vinagre. Necessária ruptura do paladar do saber das palavras que não se combinam espontaneamente e das quais se deseja mais que nunca saber a pimenta que falta; haverá sempre o dedo-de-moça para ajeitar a poesia. No entanto, é necessário saber o preparo, a ordem das coisas e dos pensamentos. Faz-se assim. Em primeiro lugar, começa-se. Essa fase é de extrema importância e deve ser seguida a rigor; com todos os cuidados daquele que quer atingir o ideal sabor das ideias. É preciso errá-las também, já que de certo, o que fica é o começo. Do mar, de suas entranhas, o salgado desejo sempre, aquela necessidade infinita. Pode-se escrever qualquer coisa, de qualquer jeito, qualquer bobagem pode ser registrada, porque quem dará o tempero certo é quem lerá. Vem assim a primeira crítica dura, aquela que orienta e determina o que é ou não bobagem. Há tanta bobagem por aí e mesmo assim, autorizadas. Vê-se que o começo incorreu em difícil decisão. Sempre há dúvida nas palavras, porque não se sabe por onde andarão e que caminhos tomarão. Continuar ou não? De certo que será continuado, mesmo que no pensamento daquele pobre que se dê conta da leitura dessas palavras, aquele que tudo mexe e quem de fato irá provar a necessidade de mais ou menos sal, azedo ou azeite.
 

 

 

 

 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

DICIONÁRIO

             Sempre gostei de ler e brincar com o dicionário. Minha mais comum tarefa, consiste em atribuir o significado que eu quiser para uma determinada palavra, por exemplo atuário; é linda, sonora e sugere algo como: s.m. 1. local específico para guardar terços; 2. sacos de tecido utilizados para guardar objetos; 3. confessionário... Enfim, é um exercício delicioso, vale a pena tentar.
             A única coisa triste dessa história toda é que ao final descobre-se o verdadeiro significado da palavra em questão e quase sempre é uma decepção. Mas, enfim, a vida é assim. Sorte dos escritores, poetas, compositores, livres para os neologismos, todos justificados pela arte.
              Ah! Em tempo: atuário s.m. especialista em seguros.
              Que maçada!
 

terça-feira, 27 de novembro de 2012

OUVIDORIA


                 Há uma série de poemas, glosas, trovas, quadrinhas completamente revoltados e indignados com o poeta, que não escreve, não versa, não poetisa. Desgostosos com tal procedimento fizeram abaixo-assinado, petição, artigo de opinião, publicados em jornal local, exprimindo toda ira. Agora se encontrarão frente ao juiz de pequenas causas.

domingo, 25 de novembro de 2012

SEXTAVAR


Meu olhar hexágono

Vê seu lado oposto

Inclina-me barítono

Beijo seu belo rosto

Nosso sexteto ardor

Em seu colo recosto

Nas sextilhas de calor

Nosso amor transposto

Ao infinito!

sábado, 24 de novembro de 2012

Miniconto: A formatura

                  
Na festa, orador treme, arranca papel, lateja, espuma, homenageia. A.el, lateja, espuma, homenageia,AAplausos; ao final todos se lembram de tudo, menos do discurso que se perdeu no champanhe.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

CRÔNICA DO ENTARDECER


                Em um daqueles dias, cansativos demasiadamente, em que somente um ovo frito resolve seu problema, nada melhor que um ovinho frito no azeite, sem sal, claro, porque os ovos já vem salgados de suas origens, levemente estourado no pão, decidi que precisava comprá-los; e mesmo diante do arrasto fui ao supermercado, caminhando em passos rápidos, olhando para o vazio.

                Acabei por passear nas alamedas de produtos; pegava, largava, indecisa, os ovos estavam lá, mas os apetrechos eram duvidosos, pão fino, largo, fofinho, sei lá, peguei uns com gergelins. Suco, iogurte, e um chocolate para rebater, ninguém entende o que um cacau faz por nós mulheres.

            Na saída, com as mãos empacotadas, cruzei com um senhor que olhava para cima: “Que entardecer, que entardecer!”. Talvez tivesse passada despercebida à frase, se, o idoso não dissesse como disse, duas vezes. Ele se foi. Fiquei. Olhei e certamente estava lindo. O azul quase enegrecido da noite que chegava, estava armado no topo do céu e pelas beiradas, os tons de azul, lilás desciam ainda lentamente, tocando o alaranjado do Sol ainda insistente em se pôr.

            Estava lindo, mesmo. E nem havia reparado na ida. Essa é a simples lei das compensações da vida... Reparei na volta, ainda bem que deu tempo!

               

domingo, 18 de novembro de 2012

PELEJA


Fazer verso é mamata

Qualquer pode fazer

O duro é a tal bravata

Essa faz enlouquecer

 

O debate do improviso

Não é bom galanteador

Tudo fica meio indeciso

Nada de um sonhador

 

Prefiro meu verso solto

Sem medo de aparecer

Pula um tanto revolto

Mas o que há de fazer?

 

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

BILHETE


José,

Guardo o seu último livro não lido “Caim”, porque tenho medo de ler algo que não tenha lido ainda de sua incrível obra. Quero ter algo inédito, tesouro. Tenho relido alguma coisa antiga, trechos e fragmentos, gosto demais de “Todos os nomes” e “Conto da ilha desconhecida”, não são os mais famosos, porém os mais queridos. Abri o prefácio do livro último e a dedicatória soou-me como a mais bela de todas: A Pilar, como se dissesse água; lindo, sufocantemente lindo!

Um abraço saudoso

Marili

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

BATOQUE


O indiozinho queria muito o seu. Havia caçado dois azulões, tudo bem que eram fêmeas e nada se pode aproveitar da plumagem parda e sem graça, ele mesmo ficou meio sem graça. Não se caçam as mulheres. Envergonhou.

Mas era hora.  Nada tiraria sua certeza. Foi ter com o Pajé. Explicou toda a sua maioridade, já era capaz de empunhar arma, trazer caça, pescar, montar seu ubá, então, era preciso ter seu batoque. Queria um de pedra, lascada e fina, das águas claras do rio, lisa e achatada, para ornar melhor e lacrar os espíritos ruins.

Pajé riu. Coçou. Olhou o curumim ali magrelo e pedinte. Prometeu um de madeira para começar, era isso que podia oferecer. Isso ou nada. Menino titubeou, olhou para a pedra de beiço do Pajé, linda; pensou; aceitou. Meio resignado sim, contudo feliz.

Agora era índio de verdade!

 

terça-feira, 13 de novembro de 2012

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

LEI DA GRAVITAÇÃO UNIVERSAL


Gravito ao seu redor

Nossa atração é Lua

Orbitamos na mesma

Intensidade e percurso

Nossas marés oscilam

Ora você, eu, e assim

Bailamos na Filosofia

Natural do Princípio.

Princípio básico do

Amor: F=( G.m.M) / (d.d)

terça-feira, 6 de novembro de 2012

LINGUAGEM SUBLIMINAR


         A cada um de nós cabe a incumbência de cuidar da própria vida. É claro que somos paridos, mas depois de um pequeno tempo, passamos a andar sozinhos decidindo o que julgamos ser melhor para nós. Beba. Assim, construímos nossas vontades e escolhas, pautados pelas heranças, pelo que aprendemos e principalmente pelo que conhecemos. Coca.

         Dessa maneira, o homem decide o rumo da sua jornada, nos acertos e erros, nas dúvidas e certezas, mas o que é evidente, gira em torno da premissa de que quanto mais conhecemos, mais chances terep certamente propicia  ente gaemos de optar na vida. Pipoca. Maior é nosso leque de opções, salgadas, amanteigadas e as decisões tornam-se, no limite, coerentes e seguras, e isso via de regra, é sinônimo de felicidade.  Cheirosa.

         Conhecer e aprender, nos dias de hoje configuram-se na quantidade de informações e saberes, contudo, o que certamente propicia o ser feliz não é o acúmulo de conhecimento, arbitrário e cumulativo simplesmente. É isso aí! Beba. O saber deve servir para mudar a nossa vida, para melhorá-la e torná-la mais que um prazer, uma assertividade. Cola. Zero.

         Portanto, cuide muito bem do seu trajeto. Não deixe que ninguém tome decisões por você, mesmo que inconsciente aja por sua vontade. Faça das suas preferências algo de valor, corra os riscos, blefe consigo mesmo, estude, conheça, cavouque as predileções, laelo que conhecemos. Coca-cola assuma os riscos e principalmente, cuide bem da sua vida, porque não há ninguém melhor para fazer isso.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CAMINHO TRISTE


É começo da noite, quando a pessoa decide que já é hora de ir. Recolhe o que sobrou dela naquele dia tão estúpido e vai por entre a estrada mais vazia, a mais solitária. Nesse caminho pensa, e sua lucidez dói. É tudo tão certo, tão duvidoso assim como a noite, ora escura, ora alumiada. Porém, há que se seguir, então segue, esperando que o dia logo amanheça em azul.

sábado, 3 de novembro de 2012

PARADOXO


Sempre espero demais. Defeito? Dos piores, porque a expectativa é sempre alta, o Sol deve brilhar mais intenso, sempre, muito mais, quero o cume, todas as sensações, como Pessoa também as queria... Sofro? Muito, demasia, fazer o quê com tudo isso?  Sei lá, talvez não mereça muito mais do que tenho, porém o querer todo meu torna-me viva, humana; quero gente, poesia, quero ouvir e cheirar tudo, alma voraz essa minha. Fico esperando aqui, o que der para ser.

 

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SAUDADE

Quando
se olha ao espelho
colhe a última
escreve a final linha
perde o sapato
empresta o livro
quebra a vitrola
fica sem ver
não cabe mais
não toca
já lembra doído
já sonha com aquilo
sente
não sente
ressente
tempo vivido
morte parida
cheiro, muito cheiro, muito cheiro...
 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

SER BANAL


Corpo caído

Trivialidade

Morte anunciada

Mais um, mais cinco, mais mil

Tanto faz, tanta gente

Morte premeditada

Platitude

Corpo abatido

Tanto faz, tanta gente

Nugacidade

Mais um, mais cinco, mais mil!

 

domingo, 28 de outubro de 2012

PONTO SEM NÓ


Quase todo o dia, a boa senhora tratava de bordar o paninho que daria de presente nas festas de fim de ano. Ponto de laçada. O rendado cuidadoso mesclava tons avermelhados idos do laranja ao quase roxo. Ponto de cadeia e entremeio. Nesse vai e vem dos ágeis dedos, lembrava-se de alguns sonhos, que agora eram tão vergonhosamente longínquos e estranhos que não eram possíveis nem de serem pensados. Ponto de cruz. Mais umas carreiras em círculos, com babados em bicos triangulares, deram forma aos panos, recém-acabados. Ponto de nó. Os sonhos? Guardou-os na caixinha, junto às agulhas e linhas coloridas, quem sabe amanhã... quem sabe!

sábado, 27 de outubro de 2012

FRINCHA


Deitada na terra batida

A menina olha pelo vão

Achando-se escondida

Espreitando de soslaio

Não querendo ser vista

Bate forte seu coração

Infância doce e simples

No apenas esconder-se

Turbilhão de emoção!

terça-feira, 23 de outubro de 2012

PNEUMOTÓRAX MODERNO


Lambuzam-te de gel,

enfiam-te goela abaixo

um canudo comprido.

Suspeitas daqui, evasivas dali, investigação, virose?

 

E é na incerteza da alma que o corpo padece!

sábado, 20 de outubro de 2012

BATE-BAÚ

O samba toca brejeiro,
as negras balançam os tornozelos
e o suor derramado deixa na Bahia o cheiro da saudade.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

OLHO ESQUERDO


É fim de tarde; o homem recebe um gesto carregado de imensidão que vem do abanar insistente da mulher que ele ama. Olha devagar e não retribui; entre eles há uma avenida repleta de carros, ônibus, motocicletas e gente, muita gente. Daquele lado de lá, a mulher procura, o sorriso é pleno, adocicado pelo entardecer que insiste em ofuscar a poluição. Do lado de cá, o homem, olha, ama, sabe e não abana nem um piscar. Entre eles, as buzinas de vozes e poeira, os cheiros da cidade, as sombras dos prédios sumindo na entrada da noitezinha que chega cansada do dia. Ele olha; a mulher se foi; ele suspira; ele ama; é fim; é tarde.

 

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

JOGO DE BÚZIOS


“Sua sina minha filha, eu vejo bem claro, é ser professora.”

“A senhora tem certeza?”

“São os Orixás que estão dizendo!”

 

domingo, 14 de outubro de 2012

GLOSA PARA GLÓRIA


Espanta-me a certeza

Da formosura e beleza

Sacodem a minha alma

Acolhem em pura calma

Embalam nossa história

Bela, doce e frágil Glória.

 

Quão estúpida cantoria

Sem a menor harmonia

Arruinaram sim vivalma

Estava na minha palma

Agora é pura braveza

Pela falta de destreza!

 

sábado, 13 de outubro de 2012

QUADRINHA EXÓTICA


 

O gatuno vestido de gibão,

Todo gaforina, grandíloquo

Cometeu a maior gafe: Fez

Glosa para a Glória errada.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

REDONDILHA BUCÓLICA


Outro de mim malquererá

Que o vento soprou suave

Melodias azuis em clave

Nessa sutil primavera.

 

Tranquilo já meu ser era

Pássaros piam conclave

Rosas cintilam no grave

E colorem a atmosfera.

 

Quanto de mim será mar?

Olho o místico luar...

Sensações agora mesmo.

 

Quanto aqui há de mirar?

Olho pujante a chorar...

Emoções confusas a esmo.

domingo, 7 de outubro de 2012

VIOLONCELO


Ontem meu sorriso foi-se amanhã

Brisa doce do teu olhar aturdido

Somente rancor profunda gadanha

Sabor amargo do ser iludido.

 

Se a tristeza soubesse meu nome

Saberia como peito dói ora range

Como nem o luar é meu cognome

Finda amor e nem som mais tange.

 

Esse amoroso antes tão apenso

Agora morto sofre mor intenso

Mutilado meu corpo é fustigo.

 

Os lábios padecem esperando

Os olhos compassam lembrando

Que a vida trouxe-me como castigo.

 

 

 

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

HIPOTECA


Hoje você percebeu que errou. Viu que aquela pessoa não era tão ruim assim, ou que o dia estava mais belo como o de costume, e que não era tão vil e mesquinho, ou austero e orgulhoso como pensaram. Hoje decidiu que era tempo de ser mais leve, mais doce e brando, menos apegado a toda essa gente, a todas as convenções. Que sorte a sua ao perceber o olhar amistoso daquele que passava e dar adeus às moças e rapazes; dizer um bom dia e outros tantos obrigados. Foi bom ter visto que é tempo da temperança. Deixou de lado as vingancinhas idiotas,ironias, hipocrisias e tratou de cuidar da sua alma, que agora está tranquila e não mais tomada por empréstimo para o seu ser confuso e hostil. Muito bem, o mundo está feliz em vê-lo assim. Resolveu que era hora de olhar para frente, para os lados e para todas as direções. Que deixaria para lá, lá distante, o que quer de sério e de transtorno; e passaria a flutuar pela vida, livre, sem receios, sem constrangimentos, sem precisar transferir títulos ou posses, ou qualquer bem...para ninguém.

 

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

AVULSO

Que faz o poeta com um enorme punhado de palavras rasurando sua alma?
Arrancaram dele o versinho rimado, elegantemente alinhado em quatro, quatro, três e três...
Era para ser um soneto, era...
Virou seresta para a senhora viúva que o rejeitou.
E o pobre poeta uivou, desolado, criou trovinhas pulhas e escorregadias,
para realmente deixar todos bem irritados.
Em seus versos púnicos, o tal poeta apunhalou seu próprio destino
e morreu com a pena na mão.

domingo, 23 de setembro de 2012

ALGARAVIA


Todavia só via

Fútil algazarra

Confusa visão

Céu sensação

Dia enluarado

Mulher ria vadia

Açucarada pela

Melodia mal viva

Do seu coração

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

LOJA DE PENHORES


             A moça chegou até a loja de penhores um tanto assustada. Titubeou se iria mesmo fazer aquilo.  Olhou, respirou e entrou. O dono veio recebê-la com um olhar irônico e assustador. A mocinha pensou, estremeceu, pensou e disse que queria penhorar sua alma. O homem riu e perguntou-lhe se não era melhor vendê-la de uma vez, porque na penhora o prazo para o resgate era bem menor, isto é, a moça ficaria sem sua alma por um determinado tempo e depois deveria resgatar o penhor. Ficou apreensiva, duvidou, queria tanto penhorar sua alma em troca da tranquilidade eterna, pelo menos por um instante. Decidiu que não venderia. Saiu de lá então, murcha, vazia, sem umazinha sequer sensação, sem vontades, desejos, tristezas, lembranças, nada, nada! O homem riu e pensou: “Apreensão do bem penhorado... Essa não volta mais.”

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

ATENDENDO AOS PEDIDOS

PUBLICO AQUI CAPÍTULO DÉCIMO E CAPÍTULO FINAL DO CONTO UM SONHO APENAS, AGRADEÇO A TODOS QUE ACOMPANHARAM COM EXPECTATIVA AS PUBLICAÇÕES DIÁRIAS.


CAPÍTULO DÉCIMO

O olhar da opinião, esse olhar agudo e judicial, perde a virtude, logo que pisamos o território da morte; não digo que ele se estende para cá, e nos não examine e julgue; mas a nós é que não se nos dá do exame nem do julgamento. Senhores vivos, não há nada tão incomensurável como o desdém dos finados.”

            Para o velho, bom e honesto Jonas sua ideia fixa de cumprir a risca o sonho não lhe parecia imoral, tampouco necessária de novos julgamentos. Não deixou que Freitas os fizesse e também lhe pediu o juramento do segredo. Na realidade, todos os julgamentos que fizera nesses dias todos o abonavam para tais atitudes. Iria sim.

            Freitas ficou de investigar o local e o remedinho. Senhor Jonas tratou de jogar a bengala fora e foi caminhar. O que é o estímulo senão a fruta mais no alto, bela e doce, pronta para ser colhida não importe sua altura? Assim com bengalas aposentadas o homem caminhou, jogou dominó pela tarde toda e sentia suas pernas doloridas e desemperradas.

            Durante a semana, os amigos iam acertando os detalhes da trama, Freitas havia achado o local em outra cidade. Precisou de algumas mentiras para enganar sua mulher e disse que levaria Jonas em um novo médico de outra cidade, pedido feito pelo João. O mais difícil foi comprar o remédio, mas o que não se faz por um amigo.

            Combinaram por telefone com a dona do bordel o preço e as condições de um cliente muito especial. Muito mesmo! Jonas descreveu duas das moças do sonho e disse que a terceira não tinha conseguido ver o rosto. Afirmou que confiava no gosto da senhora, mas a terceira havia de ser uma perfumada, muito perfumada. A mulher ria do outro lado da linha.

            Naquele final de tarde, o velho e bom Jonas arrumou-se num terno preto e bem alinhado. Usou a melhor colônia. Olhou-se no espelho, riu para si mesmo. Viu na imagem o moço, o homem de antes. Sentiu-se tão jovem, tão rebelado da alma como o mar em dia de arrebentação. Remorsos? Nenhum. Dúvidas? Nenhuma. Sensações: todas!

– Seja bem vindo!

– Amigo venho buscá-lo amanhã cedo! A senhora, por favor, me telefone se...

– Obrigado Freitas, pode ir, vá amigo, estou em ótimas mãos, não é mesmo!

– Fique tranquilo senhor Freitas, cuidaremos dele como a um bebê.

– Imagino...

CAPÍTULO FINAL

 

– Sr. Jonas acorde, acorde. Está na hora de ir...

– Nossa! Eu não morri...

            Senhor Jonas não só não morreu naquela noite deliciosamente vivida entre ele e suas amantes como viveu muitos anos ainda, precisamente mais nove. Não precisou repetir a façanha porque agora ele saberia que perderia todo o sentido. Preferiu ficar com lirismo e romantismos conseguidos naquela madrugada, inclusive porque agora a mulher do sonho tinha um rosto e um belo rosto. E sua vida um arremate incrível!

            Naquele final de ano, sua família veio para as festas de Natal. Ninguém notou nada, exceto Pedro seu neto que o achou diferente. As afinidades são únicas entre algumas pessoas, pode-se até amar de maneira igualitária a todos, porém a afinidade é o tempero mais sublime do amor. Decidiu que talvez um dia contasse o feito ao neto, mas receava algum julgamento. Não contou.

            Seu Jonas foi encontrado morto na sua cadeira de leitura. Tristemente quem o achou foi outro garoto (o anterior havia crescido) que o chamou sem resposta. O menino chorava feito louco, pelo velho, é claro, pelo corpo inerte e talvez pelos trocados agora perdidos. Nicinha aos prantos chamou Freitas.

            Morte linda! Ali recostado, com o livro aberto deitado no colo. Morreu de velhinho mesmo que estava. Freitas chegou e ficou ali parado por um tempo longo, segurando a mão do amigo. Seu semblante era doce e tranquilo. Sua amizade eterna. Não chorava, mas acariciava os dedos gélidos numa tentativa última de despedida.

O livro recolhido eram as Obras Completas de Machado de Assis. Freitas guardou consigo o livro e o segredo.

            Muita gente foi ao enterro. Na lápide os filhos e o amigo Freitas mandaram colocar um belo epitáfio, longo e digno do pai: “Saudades, amor e descanso em paz para Jonas Matos Silva, amado pai, bom homem, trabalhador digno, respeitável cidadão boraense, deixa saudosos filhos, netos e bisnetos, parentes e amigos”.

            Lá do céu o Senhor Jonas riu, riu muito!

 

 

 

 

 

 

 

NOTA

Os trechos em itálico foram retirados do livro: Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis; Obras Completas; editora Nova Aguilar, 1962.

 

DEDICATÓRIA

 Dedico esse pequeno e modesto conto ao meu grande Mestre Machado de Assis, grande inspiração em todos os momentos de minha vida.

Marili de Carvalho Santos

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

           

terça-feira, 18 de setembro de 2012

UM SONHO APENAS


CAPÍTULO NONO

“Veio o desejo de agitar-me em alguma cousa, com alguma cousa e por alguma cousa.”

           

            A ideia agora parecia fresca, clara e fixa na mente de Jonas. O velho arrematava os detalhes. Tal qual o emplasto de Brás Cubas, a fixação, a decisão eram evidentes e suavizadas pelo desejo de se fazer alguma coisa, de agitar-se com algo e era isso sim que ele faria. Pensou e repensou tudo milimetricamente. Como faria? Precisaria falar com Freitas. Será?

            Tão correto o Senhor Jonas Matos Silva, tão cumpridor das estéticas, da moral e dos respeitos. Agora sabia que se entregaria aos seus sonhos e desejos mais terrenos, mais despudorados e vergonhosos. E se quisessem julgá-lo por isso, ele estaria aos montes para todos, porque era hora de agitar-se na vida, para a vida.

            Remoeu o melhor jeito de conversar com Freitas, engatilhou os diálogos, na ordem precisa da argumentação afim de não deixar nenhuma brecha. No final da tarde chamou o amigo para a tal conversa séria. Explicou os detalhes, configurou as atitudes, implorou sua ajuda, articulou, usou de malícia, da experiência e ao final era pura melancolia e choro, pedinte criança.

– Jonas, amigo! Você tem certeza? Quer mesmo isso?

– Parece-lhe tão absurdo?

– Imagine! Um senhor de oitenta e cinco anos passar a noite em um bordel, covil, puteiro. Soa-lhe bem?

– Sim muito bem! Inda mais quando esse é seu derradeiro desejo, sua última vontade, seu emplasto curativo, chame como quiser... Se não me ajudar irei sozinho. Está decidido. Quero passar a noite com várias mulheres, quero os seios em minha face, os perfumes...

– Acredita nesse lirismo todo?

– Farei que seja: lírico, romântico, pagarei por isso.

– Meu Deus!

– Ah! Tem mais!

– Preciso de uns remédios, aquele que faz levantar defuntos!

– Aí já é demais. Não me peça isso!

– É um sonho apenas...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

UM SONHO APENAS


CAPÍTULO OITAVO

Pela manhã acabou de reler o seu livro preferido Memórias Póstumas de Brás Cubas. Que coisa! Quando leu esse livro ainda moço parece-lhe outra coisa. Como podia o mesmo livro, as mesmas palavras soarem-lhe tão diferentes agora? Sentia-se tão próximo da personagem. Talvez fosse isso: era velho. Todas aquelas frases que antes despercebidas, agora, iam formando imagem para ele mesmo, como num espelho.

Assim como Cubas, estava tão perto da morte; o outro era a própria, escancarava sua vida aos leitores sem medo da rejeição, do julgamento e da vergonha. Assim como o autor defunto, ele havia relembrado sua vida, boa e monótona vida. Percebeu que eram opostos. Mas há quem diga que é na oposição que se chega à síntese. A velha e boa dialética da vida. O velho Jonas sabia que aquela nova leitura o havia deixado diferente e pensativo.

Ficou segurando o livro, agora fechado e sentiu que embora a leitura tivesse chegado ao fim, sua imaginação, seus pensamentos e ideias, não. Todo o sentimento estava aflorado e não eram mais tão confusos como inicialmente. Algumas certezas configuravam-se em sua mente, brevemente rascunhadas, ainda, porém tinham um esboço, e todo bom desenho começa sempre com um esboço.

O cochilo veio vindo por causa da tarde encalorada e também pela barriga cheia do almoço feito e deixado por Nicinha. Ele queria tanto sonhar. Sonhou. No sonho conversava com o defunto Brás Cubas, os dois discutiam seriamente sobre a conduta humana, discorriam sobre o mal e o bem, a falta ou não de caráter, a moral.

– Jonas, amigo!

– Meu Deus! Um pobre velho não pode cochilar mais nessa terra? Vou começar a passar a chave. O que faz aqui seu trancinha?

– Ora, é assim que recebe seu melhor amigo? Fiquei preocupado, foi somente isso, não quis fofocar.

– Mas fez, não é? Peço um favor e pimba! Todos sabem.

– Bem que eu disse ao João que você ia ficar bravo. Deixa de ser assim, você está estranho, não tem ido jogar dominó, vive enfurnado lendo sei lá o quê, e achei estranho mesmo querer ir a outro médico...

– Estranho nada.

– Está sim, eu o conheço o suficiente.

– Não conhece não. Nem eu mesmo me conheço mais!

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!