quarta-feira, 14 de novembro de 2012

BATOQUE


O indiozinho queria muito o seu. Havia caçado dois azulões, tudo bem que eram fêmeas e nada se pode aproveitar da plumagem parda e sem graça, ele mesmo ficou meio sem graça. Não se caçam as mulheres. Envergonhou.

Mas era hora.  Nada tiraria sua certeza. Foi ter com o Pajé. Explicou toda a sua maioridade, já era capaz de empunhar arma, trazer caça, pescar, montar seu ubá, então, era preciso ter seu batoque. Queria um de pedra, lascada e fina, das águas claras do rio, lisa e achatada, para ornar melhor e lacrar os espíritos ruins.

Pajé riu. Coçou. Olhou o curumim ali magrelo e pedinte. Prometeu um de madeira para começar, era isso que podia oferecer. Isso ou nada. Menino titubeou, olhou para a pedra de beiço do Pajé, linda; pensou; aceitou. Meio resignado sim, contudo feliz.

Agora era índio de verdade!

 

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POEMETO COM MOTE

Mote: Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos.  (Saramago em As pequenas memórias)  Qual alma não vacila? Oscila.....