quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

QUEM QUER UM ANO NOVO? DE NOVO!!

Dezembro é o mês das arrumações. Arrumamos aquilo que dá para ser arrumado. Pensamos em um novo emprego, em parar de fumar, emagrecer para entrar no biquíni, em trocar de carro, sanar as dívidas, viajar, caminhar, mudar, agir, perdoar aquelas ofensas, deixar de ser assim tão mesquinho ou agressivo ou tolo, pular dezesseis ondas, prometer não gastar tanto, não comprar peru neste ano. Tudo isso por conta do ano fresco que se aproxima e nos obriga a agir dessa maneira. O ano que vem é o arquétipo das nossas frustrações e desejos reprimidos. Ele nos olha e encara perguntando sempre: “E agora vai fazer o que para melhorar ou mudar? O que você deseja para esse novo ano? Quais serão suas realizações?” Mas, sou eu é quem pergunto: E se quiser não mudar nada, se desejar continuar a ser sempre aquilo que fui e a fazer exatamente tudo igual, sem mexer uma vírgula sequer? Se estiver satisfeita com essa vida minha e com meu modo de ser? Se tiver certeza de que sou feliz assim mesmo, do jeito que está? O ano que vem está vindo arrasador como sempre, querendo cobrar de mim e de você com juros, aquelas velhas decisões e ações infindáveis, deixe que ele venha.

Mudanças? Quem sabe na primavera...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Crônica curtinha



         Na feira, para comprar lichias, a senhora barganhava com o feirante sobre o preço da tal fruta. Discutiram tanto que começou a juntar gente. Do lado da senhora mais duas senhoras. Do lado do feirante seus agregados. Lá pelas onze terminaram com duas caixas contra quinze reais e os dois insatisfeitos.


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA INJUSTIÇA


Fui assistir a um show de Jazz com minha família. Retiramos os ingressos com antecedência, pois era gratuito. Na fila, observei que éramos os únicos felizes. A fila, composta de muitos velhos senhores, soturnos, algumas senhoras acompanhadas de seus parceiros, casais com aquelas caras de dicionário acadêmico específico, tipos estranhos, alguns meio musicais, um tinha cara de pistom, e nós, ali, dois adultos com cara de pais e seus filhos oscilantes entre a criança e o adolescente.

         Estávamos felizes, pois era um evento único da nossa família. A porta nos abriu e seguimos para o espaço que era cercado por um enorme vidro na parte de cima; abaixo, depois das escadas, rumamos para perto do palco, bem pertinho dos instrumentos, que ali repousavam a espera dos seus donos. Sentíamo-nos eufóricos e trocamos algumas vezes de lugares uns com os outros, depois demos as mãos.

         Os músicos iniciaram e realmente era incrível. A plateia, antes, estranha, pareceu-me próxima agora, na mesma sintonia. Na parte de cima, uma senhora dançava alegremente, e alguns balançavam os pés. Meus olhos circundavam o espaço, ao lado, acima, e foi quando eu vi, do lado de fora da nossa grande redoma de vidro, um homem sujo, esfarrapado, com seu saco de latinhas, assistindo, ali em pé. Queria gritar para ele vir, “é de graça”, “desce”, e não podia. Acho que ele ouvia a melodia levemente, e seu olhar para o palco era triste.

         Não consegui mais assistir ao espetáculo, só olhava para o homem; a música ficou longe, depois de um tempo ele se foi. E eu pensava, era de graça, de graça. Não disse nada para ninguém, tentei sorrir e acompanhar com as palmas as últimas músicas, que foram aplaudidíssimas por todos que pediam “BIS”.

 A arte, meu Deus, devia ser para todos, infinitamente todos.


sábado, 10 de dezembro de 2011

CRÔNICA DE TODO DIA


           O molequinho acordou decidido a pedir para os pais a bicicleta que queria. Havia sonhado com ela duas noites seguidas. Inconscientemente sabia que a dificuldade seria grande de conseguir, pois lembrava que não tinha sido um bom menino, mas tentaria. Claro.

        A menina acordou decidida a não ser mais daquela maneira. Queria ser diferente e precisava arranjar maneiras de modificar seu ser tão confuso e tímido. Queria ser notada e percebida por todos, precisava disso. Abrir a boca; era preciso falar e ser ouvida. Sim.

        O rapaz acordou decido a contar toda a verdade. De hoje não passaria, seria melhor falar primeiro para a mãe e depois, conforme o acaso retornasse o revés daquilo que o aguardava, saberia que atitude tomar. Mas o certo é que de hoje não passaria. Certamente.

        A mulher acordou pronta para finalmente fazer o que tinha decidido. Iria de qualquer maneira acabar com aquilo, dar um basta nisso tudo. Não importava mais ninguém e sim o que de fato precisava ser feito. E faria hoje. Doa a quem doesse.

        O homem acordou decidido a mudar. Iria sair daquele lugar hoje. Mesmo que ficasse sem emprego por um tempo, não importava, não suportava mais aquilo tudo, e não queria saber a opinião de ninguém, assumiria o risco e faria sem pestanejar. Decidido.

A velha acordou e teve a certeza de ainda estar viva. Tinha sonhado com luzes muito alvas e achou que jamais abriria os olhos novamente. Passado o susto, decidiu que hoje comeria tudo que tivesse vontade, veria seus filhos e netos, recordaria mais uma vez de toda sua boa vida, sem medo, sem medo...

       

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Apenas mais um dia

Salve o dia de hoje,
há que se ter coragem
para seguir em mais
um dia.

Salve o dia de hoje
querendo sorrir mas
que diabo,  di- a-bo
que não deixa infeliz.

Salve o bendito dia
que se abriu hoje em
teimoso e turrão
querendo deixar feliz.

Salve o maldito dia
que me obrigou a
sorrir, a gostar e a
rir...

Eu que queria apenas só mais um dia!

domingo, 4 de dezembro de 2011

QUEM QUER UM ANO NOVO?


Dezembro é o mês das arrumações. Arrumamos aquilo que dá para ser arrumado. Pensamos em um novo emprego, em parar de fumar, emagrecer para entrar no biquíni, em trocar de carro, sanar as dívidas, viajar, caminhar, mudar, agir, perdoar aquelas ofensas, deixar de ser assim tão mesquinho ou agressivo ou tolo, pular dezesseis ondas, prometer não gastar tanto, não comprar peru neste ano. Tudo isso por conta do ano fresco que se aproxima e nos obriga a agir dessa maneira. O ano que vem é o arquétipo das nossas frustrações e desejos reprimidos. Ele nos olha e encara perguntando sempre: “E agora vai fazer o que para melhorar ou mudar? O que você deseja para esse novo ano? Quais serão suas realizações?” Mas, sou eu é quem pergunto: E se quiser não mudar nada, se desejar continuar a ser sempre aquilo que fui e a fazer exatamente tudo igual, sem mexer uma vírgula sequer?  Se estiver satisfeita com essa vida minha e com meu modo de ser? Se tiver certeza de que sou feliz assim mesmo, do jeito que está? O ano que vem está vindo arrasador como sempre, querendo cobrar de mim e de você com juros, aquelas velhas decisões e ações infindáveis, deixe que ele venha.

Mudanças? Quem sabe na primavera...


sábado, 3 de dezembro de 2011

DESCANSO


Hoje é o tempo da destemperança, do desconforto e do desafronto. Esqueceram todos do amor e das gentis sutilezas, dos pequenos agrados, das sutis delicadezas. O problema dos homens não é só prefixal, está agora encontrado nas almas impregnadas de desamor, descasos, desacordos, desassossegos, desastres e afins; o caso é que eles se esqueceram de retirar o des disso tudo, desenredar a novela, desembaralhar as cartas. Há que chegar o tempo em que saibamos desapegar, desanuviar, desabafar, ou ainda de estarmos, descalços, descamisados, desavisados, descarnados, descapitalizados, desnudados, para assim, melhorar nosso destino.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

DES-ATINO


Amanheço e já reconheço, qual foi o eu que dormiu comigo?

Será que posso dizer nosso nome?
Me abraça de frente ao espelho e  veja!

Me olha do lado esquerdo

Que é só des contínuo...

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

De/Para: Marili Para/De: Leandro Henrique


O REVÉS SIMPÁTICO



Sim.

Por que sim?

Porque você é um amor!

Quem disse?

Nós.

Será?

Sim...

Tem certeza...

Tenho.



Vês? Não é mais proveitoso a unha ficar por fazer... A poesia não, ou sim.



No fim tudo acaba como começou?!



Não.

Porque não?

Porque você é um merda!

Quem disse?

Quem não disse?

Não sei...

Não?

Não.

Viu?

Não.

Vê? Às vezes o lapidar-se ou tingir as unhas é tão mais proveitoso...

sábado, 26 de novembro de 2011

Metáfora do amigo


O amigo é como vento

Vem forte e vem brisa

Bate no rosto vai volta

Alísios de repente ou

Para serem mais exatos

Minuanos...

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Sáfaro


Um olhar descuidado...



Pela campina ainda

Verde de esperança

O Ipê tentava brotar

Mas não pertencia

Aquele lugar estranho

E insistia em crescer

A folhinha rude e torta

Amarelada de medo

Não queria sair e só

Olhava ao redor; Sol



Que brilha e queima

O campo-santo inerte

Rasteiro sem um rio

A campina é longa e

Ipê quer sonhar e já

Nem se aguenta e dói

De pensar que um-lá

Passarinho meio sem

Graça e jeito trouxe a

Semente pelo ar; Sol






Um olhar desgarrado...

sábado, 19 de novembro de 2011

No andaime


“Se aquela mina tá pensando que eu dou mole vai ver só me passa aquela lixa veja se a tinta está dissolvida para render eu vou pera aí mas o que ela te fez foi ao baile lá na comunidade sozinha e eu no trampo de final de semana o Jota B ficou sabendo que ela foi com umas amigas e só marcou presença mas mesmo assim lixa aqui em baixo e vamos cobrir com argamassa aquele canto pega a broxa mas se só marcou a ida pega nada não sei lá aparece sozinha os caras acham que eu num tô mais pegando e aí aguenta a zoação cata o nível e vê se a marcação que nós fizemos tá no nível bota mais água na tinta para render cheio de problema e a mina indo sozinha duas prestação do celular atrasada e a mina na balada cara tipo esquece isso mano e vamos acabar essa parede botei dois quartos de água a mais na tinta pô cara era um terço vai ficar mingau não vai cobrir o cimento mexe mexe joga cal e vamos acabar com isso...”

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

POEMINHA ESCANDALOSAMENTE LINDO


Vice-versa



Minha mãe é tão bonita

É linda de morrer

Só que ela faz uma coisa

Difícil de se ver

Ela ama ler revista

De trás para frente

Mesmo assim eu a amo

E tenho orgulho pode crer!


GUILHERME SANTOS GABRIEL em 17/11/2011. 
 Adendo: No original: fais, dificio, traz, palavras que a mãe corrigiu chorando...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

UMA SEMANA DEPOIS


Acordei e me vi feita à mão

Um rascunho, apenas, ali

Desenhado e redesenhado

Em múltiplos esboços de ser

Nem penso mais no existir

As linhas não se juntam

Não formam mais corpo

Sobram apenas as finas

Linhas d’alma, fraquinhas

Rabiscadas no desenho

Triste, apagado e sem cor

Uma fumaça cinza esfumaça

O excerto do meu eu...




quinta-feira, 10 de novembro de 2011

SENSABOR


O mel caiu

Na boca amarga

Insistiu em dar

Gosto e forma

À língua; escorregou

Goela abaixo

Insipidamente frágil

Assustado e sumiu...


domingo, 6 de novembro de 2011

MELANCOLIA II


Com os pés calçados

Subi a colina íngreme

Arregaçava o vestido

E caminhava sem parar

Olhava a curva do céu

Queria tocá-la e acelerei

O passo, na tristeza sempre

Há cansaço e cada angústia

Que disfarço, se acomoda

Feito um pássaro que no

Ninho, em descompasso

Esconde a cria no regaço

Para ninguém poder ver

...

No fim da colina

Há sempre um pássaro.


sexta-feira, 4 de novembro de 2011

EDUCAÇÃO OU FALTA DE....


Ao assistir uma das entrevistas do programa Roda Viva da televisão Cultura, fiquei muito indignada com a postura do nosso Ministro da Educação em não responder efetivamente nenhuma das perguntas feitas sobre esse tema tão importante e fundamental. Como se isso não bastasse, já que é de praxe o uso das evasivas e que o melhor que os nossos políticos têm é o domínio espetacular da Retórica, o que fiquei mais BRAVA, foi com uma das perguntas feitas pela ilustríssima senhora irmã do saudoso Airton Senna.

Viviane Senna creio que é esse o nome perguntou que tipo de PUNIÇÃO deveria ser tomada às escolas, gestores e professores que não conseguissem atingir as Metas estipuladas pelos Indicadores do tipo Saresp, Idesp, Prova Brasil e afins. Fiquei tão “passada” que não prestei atenção na resposta do Ministro, o que importa é que pensei que uma pessoa dessas não faz sequer ideia do que seja Educação.

Depois de respirar e me acalmar diante de tal disparate, pensei que essa mulher nunca esteve em uma sala de aula, nunca trabalhou com salas superlotadas, sem material adequado, jamais teve que auxiliar um aluno que não aprendia por fome ou porque apanhava todo dia ou ainda, porque acordava ás cinco da madrugada para ir para escola. Não ganha dois salários mínimos em média por mês, não precisa dar aulas em dois ou três períodos além de trabalhar em casa; não é desvalorizada profissionalmente e todas as metas que têm que cumprir se relacionam com faturamentos financeiros e não com pessoas, gente.

Comecem com formação adequada aos futuros loucos Professores, mudem a grade curricular das Universidades, atribua salário digno, melhore as Bibliotecas (Livros de presente aos alunos, não resolvem o problema) e distribua material didático de qualidade, sem “erros” ou aberrações e por aí vai... Depois que tudo isso acontecer de fato no Brasil, aí sim poderemos falar em cumprir algo. Porque enquanto a Educação for voltada para o cumprimento de metas, dados, indicadores, números e provinhas, jamais formaremos todas essas pessoas com veracidade.

Para essa senhora só resta dizer que as punições já são tantas que ela ainda não percebeu!

VOOOLTTAAA AIRTON SENNA!

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

CRÔNICA DO meio POR CENTO


Noventa por cento das “cagadas” humanas são por conta da burrice ou da insegurança. A primeira deve-se a um estado doentio do ser, cuja cura é impossível, é o câncer da mente. A segunda, essa sim, é digna de estudo e observação, possui estágios patológicos, assume relações mercadológicas, estéticas, pueris, enfim...

A maldita associada à carência então, nem se fala, é digna de palhaçadas, entregas estúpidas, ostracismos, exageros; assumindo um antagonismo na alma humana que requer um estudo mais detalhado, do qual nenhum acadêmico consegue decifrar. Ela salga a comida, interrompe o namoro, suspende a pena ou branqueia o papel, atrapalha o trânsito, condena os inocentes e absolve os choldras, esconde os poetas e mentirosos, aniquila o corpo, aumenta os seios, alisa cabelos, estraga amizades, provoca os abortos, suspende o chofre.

A perversa aliada à raiva é cruel, desencadeia ódio, fortalece os estragos físicos e emocionais, liberta a maldade e a loucura dos homens. A incompreensível insegurança, somada à personalidade permite que as pessoas convivam com este bem e/ou mal em escalas variáveis. Alinhando situações, bordando decisões e escolhas na tentativa estúpida de conseguir os apenas dez por cento de acertos felizes durante toda uma vida.

Resta-nos, portanto, entre uma “cagada” e outra - inseguros destemidos ou não, conscientes ou não, intuitivos ou lúcidos - assumirmos que sem ela, certamente, a humanidade se descortinaria no caos das entregas, das verdades absolutas, dos pedantismos exacerbados, das mortes justificadas e muito provavelmente não saberíamos o que fazer com tudo isso!


terça-feira, 1 de novembro de 2011

LÁBIL


O Sol foi e veio

A chuva deu uma

Trégua passageira

Homem se enganou

Passagens transitórias

Tudo cai e oscila feito pêndulo

Uma hora vai pra lá outra para cá.



Como diria o poeta: “A hora do sim é o descuido do não; e a vida tem sempre razão!”

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NEGATIVO

O PROBLEMA DA IMAGEM
É QUE NÃO ME RECONHEÇO NELA
AQUELE INSTANTE FEIO NÃO É O MEU, OU SERÁ?
INSTANTE QUE NÃO RECONHEÇO, NEM QUERO
NÃO OUSO ME VER NUM RETRATO MORTO
CUJO TEMPO EMPLACA MINHAS FALHAS
MINHAS RUGAS, DESGASTES E IMPERFEIÇÕES
PREFIRO O OLHAR BONDOSO DOS SUJEITOS
QUE SIMPLESMENTE GOSTAM DO VENTO
QUE VEEM DENTRO, ALI DENTRO DO...
NEGATIVO DO MEU SER!

domingo, 30 de outubro de 2011

PARA TODA TURMA MAXI BRABA

POEMA DEDICADO AOS MEUS MENINOS E MENINAS, GUARDIÃES DA CRIATIVIDADE, DA POESIA, DA DOÇURA E DO ENCANTAMENTO... QUE ME TORNAM CADA DIA UMA PESSOA MELHOR E MAIS FELIZ, OBRIGADA POR FAZEREM PARTE DE MINHA VIDA!




        
                                                          
                  
ENTARDECER


          < O
                              coli   bri
                         coli       gar
                                                        C  O  M
                                  cóli ca
                                     coli      na
                                colí            rio





C         N                   B                   C        L        C 
   E         A                   U                   Ó        I         A

sábado, 29 de outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Recôncavo


           Hoje pela manhã senti o cheiro da Bahia, de tudo e de todos. O cheiro das baianas fritando o acarajé no dendê, o odor dos negros suados em seus corpos esculpidos pela areia e pelo vento de lá, lindos e desejosos do meu tocar; as fitinhas coloridas abanando os meus pedidos. Nunca fui para a Bahia, mas seu perfume me embriagou; a água de cheiro das escadarias lavadas e a brisa vinda do Atlântico, regada pelo olor dos coqueiros que dançam o Olodum me permitiram uma viagem inebriante até onde jamais estive. Não em presença física, mas em alma, espírito de minhas raízes, certamente eu estive por lá, nos genes de meus negros antepassados, pois sinto a cor preta em minhas veias brancas pálidas e fracas. E o meu cabelo arrepia, arrepia! Sinto o gosto do fumo e do cacau, pisei nas terras encardidas de Jequié, Juazeiro e Camaçari, meu pé descalço vislumbra o pó das estradinhas que beiram o São Francisco, sou toda filha de Iansã e fui para as Festas de Santa Bárbara. O cheiro é forte, sinto o gosto das coisas, vejo as gentes, ouço os ventos e toco tudo que há... Na Bahia de Nosso Senhor...

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

ÁLGIDO


O olhar era distante...

O corpo inerte não mexia

Era apenas um sapo mudo

No dia gelado, sobre a folha

Na pele, a camada de água

Orvalhada em gotas gélidas.

Nem coaxa o coitado, respira

E aguarda o sol do meio-dia.

domingo, 23 de outubro de 2011

Bobó de ilusão


        A receita para se ter uma vida feliz é não ter nenhuma ilusão. De nenhum tipo ou espécie; elas só servem mesmo para angariar fundos de mágoas, tristezas e melancolias. Há também àquelas que destroem as expectativas e são normalmente as piores.

Requer uma pitada de destreza não alimentá-las na sua vida cotidiana, já que a tendência é ser atraído pelo cheiro de certeza que as ilusões proporcionam em nós. Nem as de óptica são confiáveis, você enxerga, tenta pegar e não consegue. O melhor a fazer é burlar as ilusões com os sonhos.

Sonhar vale.  É o tempero da vida. Não é uma impressão ou sensação que não correspondem à realidade; não é um engano. Sonhar é ter o prazer das ideias impossíveis, a simulação dos desejos reprimidos e como é bom quando acontecem todos eles; enquanto a soneca sossega o corpo, a mente age e nos prepara para acordar repletos de coragem para o novo dia.

Mas...

Não se iluda com tudo isso!

sábado, 22 de outubro de 2011

Diacrítico


A “bóia” era e ficou boiando

Na bôia que nem gelêia...

Será que ficou na claraboia?

Não, também saiu, nem sequer

Despediu-se e lá permaneceu

Olhando para o céu que ficou

Com o véu; ditongados de raiva

Uns com dores agudas, outros

Sem a ortoépia ou ortoepia

Tanto faz tamanha prosódia

O dia... é crítico!


quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Ibope

                    Por falta de Ibope, o mini-romance O Amor não tem rosto não será finalizado por esta escritora. Segue o capítulo derradeiro para "des-apreciação" dos leitores mais fiéis. Para àqueles que quiserem saber qual seria o rumo da história favor enviar e-mail para valsabrasileira@gmail.com...


O garoto estava escondido atrás de umas madeiras. O policial na sua rotina, como sempre fazia, levava os meninos para o abrigo mais próximo ou para o Conselho Tutelar. O moleque magrinho se enfiou dentro de uma das caixas de papelão e ficou imóvel. Capitão Mendonça comandava a busca dos meninos que tinham fugido do Orfanato Luz e Cruz, ouviu um barulhinho e retirou a caixa.

Sai daí garoto. Ah! É você, fugiu de novo do Orfanato?

Quero arranjar uma mãe, que me tire de lá.

– Não pode ficar fugindo, vamos vou te levar.

– Por favor, achei uma candidata, ela vai me adotar...

– Tá bom; enquanto isso espera lá no Orfanato.

– Mas ela não sabe que eu vou para lá.

– Eu aviso.

– Jura.

– Juro.

O menino foi levado junto com os outros, alguns para casas de abrigo, outros para suas casas mesmo, e três para o Orfanato. Lá apanharam de outros colegas porque não avisaram da fuga anterior. Carente ficou lá todo dolorido e pensando na sua burrice; como o policial ia avisar sua candidata à mãe para vir buscá-lo, nem sabia quem era. Dormiu de raiva.

Sonhou. 

Os olhos suaves de Clarisse, suas mãos faziam cafuné enquanto ela contava uma história engraçada, era de cavaleiros e serpentes, porém, seu jeitinho era de fazer rir; no chão havia muitos brinquedos, carrinhos e um grande videogame.  As roupas eram suas, a cama era fofa e tinha uma colcha do “Bem-10” iguais as que ele vê nas lojas. Na porta do quarto a plaquinha tinha um nome, de garoto, porque era pintado de azul, ele não enxergava, não lia se esforçava para ver e nada, quando chegou bem perto da placa...

Acordou.

Decidiu planejar a próxima fuga, só que dessa vez em silêncio, em profundo silêncio.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O AMOR NÃO TEM ROSTO (Cap.4)


Olha garoto, eu não posso ser sua mãe.

Que pena, vou ter que achar uma, né.

– Quantos anos você tem?

– Nove.

– Parece menos, é tão magrinho.

– Deve ser a cola, agora parei, quero ir para escola.

– Você fugiu da sua casa?

– Não sei. Valeu pelo lanche.

– Ei! Espera...



            O menino já tinha corrido rua afora e Clarisse acompanhou da entrada que ele corria rápido, em curvas e deu três saltinhos. Parecia mais feliz alimentado, e a moça sentiu uma sensação muito estranha, alimentar alguém com fome... Depois ao contar em casa foi seriamente repreendida pela sua mãe, que mencionou o golpe perfeito na “trouxa”. A avó achou certa a atitude e aprovou, mesmo que tenha sido pura armação do guri com fome.

            Demorou muito para dormir naquela noite. O rosto do menino aparecia em sua memória como se já fosse conhecido; a sensação era confusa, nunca havia sentido algo assim, mesmo que tivesse sido levianamente enganada, o motivo era bom e real, a fome é sempre real, pagaria quanto lanches pudesse pagar.

            Sonhou que estava de mão dadas com o garoto e levavam uma cesta enorme, sentaram-se num gramado verde e grosso, arrumavam uma mesa no chão repleta de coisas boas. Queijos, frutas, um bolo cheio de confetes, eles comiam e riam, depois o garoto saia correndo e ziguezague, saltitante e feliz. Enquanto ela recolhia a cesta de vime um homem feio aproximava-se dela e chutava com violência as coisas, ela gritava com ele, o homem batia em sua cara com força... Acordou suada e foi tomar um pouco de água na cozinha. Encontrou a avó comendo escondida deliciosas bolachas doces recheadas:           

– Vovó!!! Não acredito.

– Ai quase me mata! “Shiii” fique quieta.

– Você não pode, tem diabetes, sabe que não pode...

– Não quero nem saber, estou muito velha para não fazer o que tenho vontade... Jura que não conta para sua mãe?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O AMOR NÃO TEM ROSTO (Cap.3) Leia Cap.1 e 2


             O trabalho na lanchonete era árduo e braçal. Clarisse servia as mesas, limpava e lavava louças, só não fazia os lanches porque seria demais abusar da sorte. O patrão era um homem bom e justo, mas estava um pouco cansado de alguns prejuízos causados pelas distrações da moça, tinha avisado que agora descontaria de seu salário cada coisa quebrada; ela concordou; era justo.

            Naquela manhã, com quase nenhum cliente, Clarisse assustou-se com um garoto de pouco mais de sete anos, sujo e magrinho demais parado atrás dela. Cena mais que comum nas cidades grandes, se não fosse à pergunta do garoto:

Quer ser minha mãe?

Como?

– Preciso de uma mãe para cuidar de mim, quer ser?

– Não posso. Você já deve ter uma, não é?

– Não.

– Tem sim, com quem você mora?

– Na rua. Não tenho ninguém.

– Por que quer que seja eu?

– Sei lá.

– Tem fome?

– Tenho.

– Sente aqui, eu já venho.

Clarisse pediu um sanduíche e um copo de leite com chocolate. Tirou o dinheiro da bolsa e pagou o lanche. O garotinho comeu tão rápido que ela segurou sua mão duas ou três vezes dizendo “calma”. Depois de comer, o menino perguntou o seu nome.

– E o seu?

– Os garotos me chamam de Carente, porque quero sair da rua... Não quero mais dormir lá. Tenho que ficar acordado para não me pegarem de novo.

– Mas e o seu nome mesmo?

– Sei lá.


segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O AMOR NÃO TEM ROSTO (Cap.2)


                Chegou atrasada na aula de Sociologia, entrou, silenciosamente, seria se não tivesse prendido o bolso do casaco na maçaneta, que lhe custaram um rasgo, quase uma queda, livros no chão e muita gargalhada aos coros. Nenhuma ajuda; ajeitou-se. Envergonhada sim, humilhada não, pois o costume às ofensas, ironias eram para ela já velhos conhecidos. A professora aproveitara o gancho para construir noções de cidadania e caráter, mas a maldade é inerente aos homens, e é um exercício diário combatê-la.

Por que Clarisse com dois esses?

Sei lá.

– Quando eu respondo isso você reclama.

– Foi seu pai que registrou assim; eu queria Joana.

– A vida da menina não anda por conta disso. Eu avisei que aquele sacripantas só fazia besteira.

– Viu? Agora sua avó vai me torturar.

– Hoje quase caí na Faculdade. Derrubei café na lanchonete, e cheguei atrasada. Acho que o problema são os “esses”! Será que como Joana eu daria mais certo?

– Ai, Clarisse, chega! Vai lavar a louça e me deixa em paz.

– Viu vovó, ninguém me ouve nessa casa só a senhora.

            Clarisse abraçou e beijou a avó ternamente, a velha ainda praguejava sobre o falecido, desejando pouco mais que o inferno para ele. Clarisse ria porque não tinha nenhuma afetividade sentida por aquele pai que a gerou, nem o conheceu afinal, e todos os comentários eram ruins, devia ser ruim mesmo; muitas vezes chegava a pensar que havia herdado toda essa carga genética negativa, outras vezes...

            O leitor deve estar se perguntando por que afinal das contas, alguém escreveria sobre ser tão chinfrim e insignificante. Essa personagem não possui nenhuma complexidade e de protagonista ou heroína nada tem. Talvez o que segure essa narrativa capenga seja o conflito. Sim, a problemática que salva tantas histórias, a expectativa atrás da expectativa e talvez um desfecho satisfatório. Se me permitir contar-lhe essa pequena historieta, caro ouvinte prometo algo no limite razoável, como essa nossa moça, a tal da Clarisse.

            Chega de enrolação, comecemos com esse pequeno romance...

           

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!