terça-feira, 13 de dezembro de 2011

CRÔNICA DA INJUSTIÇA


Fui assistir a um show de Jazz com minha família. Retiramos os ingressos com antecedência, pois era gratuito. Na fila, observei que éramos os únicos felizes. A fila, composta de muitos velhos senhores, soturnos, algumas senhoras acompanhadas de seus parceiros, casais com aquelas caras de dicionário acadêmico específico, tipos estranhos, alguns meio musicais, um tinha cara de pistom, e nós, ali, dois adultos com cara de pais e seus filhos oscilantes entre a criança e o adolescente.

         Estávamos felizes, pois era um evento único da nossa família. A porta nos abriu e seguimos para o espaço que era cercado por um enorme vidro na parte de cima; abaixo, depois das escadas, rumamos para perto do palco, bem pertinho dos instrumentos, que ali repousavam a espera dos seus donos. Sentíamo-nos eufóricos e trocamos algumas vezes de lugares uns com os outros, depois demos as mãos.

         Os músicos iniciaram e realmente era incrível. A plateia, antes, estranha, pareceu-me próxima agora, na mesma sintonia. Na parte de cima, uma senhora dançava alegremente, e alguns balançavam os pés. Meus olhos circundavam o espaço, ao lado, acima, e foi quando eu vi, do lado de fora da nossa grande redoma de vidro, um homem sujo, esfarrapado, com seu saco de latinhas, assistindo, ali em pé. Queria gritar para ele vir, “é de graça”, “desce”, e não podia. Acho que ele ouvia a melodia levemente, e seu olhar para o palco era triste.

         Não consegui mais assistir ao espetáculo, só olhava para o homem; a música ficou longe, depois de um tempo ele se foi. E eu pensava, era de graça, de graça. Não disse nada para ninguém, tentei sorrir e acompanhar com as palmas as últimas músicas, que foram aplaudidíssimas por todos que pediam “BIS”.

 A arte, meu Deus, devia ser para todos, infinitamente todos.


2 comentários:

Alê Ferraz disse...

Chorei, Marilinda.

Mas o Leandro diz que eu gosto mesmo de chorar.

Beijo!

Anônimo disse...

Você sabe que tembém sou meio chorona, e quase que não consegui terminar de escrevê-lo...
Obrigada por ler meu Blog.
Um Beijo
Marili

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