quarta-feira, 26 de junho de 2013

REPLAY

Não costumo republicar antigas postagens...mas o pedido foi especial e não pude recusar. Eis:


REDONDILHA BUCÓLICA

 

Outro de mim malquererá

Que o vento soprou suave

Melodias azuis em clave

Nessa sutil primavera.

 

Tranquilo já meu ser era

Pássaros piam conclave

Rosas cintilam no grave

E colorem a atmosfera.

 

Quanto de mim será mar?

Olho o místico luar...

Sensações agora mesmo.

 

Quanto aqui há de mirar?

Olho pujante a chorar...

Emoções confusas a esmo.

 

POESIA PROSTRADA

Minha poesia anda
Assim, lançada de
Bustos no chão...

Sem forças, a pobre
Descorçoada e fraca
Não consegue pensar
Em dupla exposição.

Prefere esmorecida
Ficar só, triste a valsar
Tão abatida e desnutrida
Não quer gerar confusão
Diante de tanto sabedor.


terça-feira, 25 de junho de 2013

PARALAXE


Eu você

Aqui e lá

Nós sem fim

Vento sim

Mudam-se

Olho e vejo

Você não vê

Que se há de fazer?

 

 

domingo, 23 de junho de 2013

VERANITO

Os figos adoram o calor, talvez seja porque os dias fiquem muito longos e o tempo para que eles se esquentem e amadureçam seja suficiente. Os sentimentos ficam longos também no verão e minha alma sente-se como no estio, porque com noites tão curtas o cansaço é infinito. Não é possível entender nada no calor, apenas é necessário procurar uma sombra para apaziguar o abafamento. As ideias esquentam e apenas o corpo reage; a mente dormita na espera de outros tempos que justifiquem esse momento de mormaço interior. Não deixemos que os figos murchem, havemos de comê-los ainda roxos e suavemente carnudos e doces, porque é preciso sustentação para se alcançar a primavera.

sábado, 22 de junho de 2013

OUTONAL


É tempo de abacates. No outono eles ficam abundantemente satisfeitos porque não é tão frio nem tão quente. Talvez fiquemos assim também, meio mornos e opacos, esperando que os nossos sentimentos definam para onde querem ir. Ficamos amarelados de medo no outono, porque é necessário esperar que as folhas caiam mesmo; sem grandes explicações elas vão cair, há gravidade nisso tudo, inclusive em nossas almas. O tempo está ameno. Terrivelmente ameno. Esperar, requer um trabalho nada fácil, esperar que as folhas caiam, esperar que o abacate esborrache no chão e assim partido desordenadamente, ainda sujo de terra, enfim possamos comê-lo.

 

 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

INVERNAR


As cerejas são maiores e mais doces no inverno e talvez por isso o tempo esteja tão propício para as cerejas. Para os sentimentos o tempo não está lá essas coisas. A dor não é mais tão doce e no frio as dores são mais intensas e indesejáveis. Entender o porquê da doçura das cerejas causa muito desgaste. No fundo não é possível entender o natural correr das coisas, porque é preciso muito mais que conhecimento, que clareza e que percepção; é necessário não estar metido nas confusões de alma e sempre estamos metidos nas confusões das almas. E a gente cansa de não entender, a gente quer ficar distante da razão, a gente quer apenas colher as cerejas e comê-las, lavá-las e comê-las, apenas. O tempo não está lá essas coisas para os sentimentos e as dores são mais frias no inverno.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

LECTURAS

¿Que sentimientos se percibe em mi?

La trama es la parte central de mis hechos y aventuras
Soy la narración
Soy la acción
Soy todo el desarrollo del tiempo
Soy yo que soy la persona que cuenta mi historia
y la misma persona que casi inconsciente ejecuta la acción
sea real o imaginaria!

segunda-feira, 10 de junho de 2013

CRÔNICA EM DOIS ATOS-II


SEGUNDO ATO

Para uns é sinal de bravura e destemor, outros de descaramento e petulância, a coragem é o sentimento mais confuso que há, pois não se nasce com ela, adquire-se. Os maus a possuem em demasia e nem sabem que suas crueldades são fruto de suas coragens desmedidas; os bons sonham com ela, planejam, calculam os riscos, porque para estes, ser corajoso é ser irracional, é como atravessar as ruas sem olhar ou vestir uns patins.

A mulher nessa manhã acordou diferente. Lembrou-se do sonho com detalhes e ficou confusa demais. No trajeto da ida costumava não pensar e apenas olhar o nada, mas tudo parecia mais conturbado e sair da rotina, trabalhar, apanhar, trabalhar, apanhar não estavam nos seus planos. O ápice dessa imensa confusão mental foi perceber que havia trocado a marca do lustra móveis, a gerente enjoara com o cheiro anterior. Não sabia o que pensar, nem o que dizer ou fazer, parecia não entender, como não entendem algumas pessoas os espetáculos em dois atos.

Naquele dia não apanhou. Não se sabe o porquê que ela não apanhou. Se o roteiro original havia sido modificado. Não se sabe se o destino achou que era hora de plantar algo por ali. Ou o mero acaso das coincidências. Ou mesmo não se sabe se Deus se desocupou das suas tantas mazelas a serem resolvidas e decidiu olhar para aquela sua filha, a faxineira, murcha de carnes e de sentimentos, olhos vivos porque a vida lhe ensinara que era preciso viver uma noite de cada vez, assim como se descasca primeiro a laranja para depois comê-la.

Não lembrava a mulher de não dormir durante a noite, por causa do corpo e dos ossos e dos olhos tão fatigados do dia que essa tarefa lhe parecia impossível, porém não dormia; olhava para o corpo do homem que o destino lhe reservara e que agora dormia o sono dos injustos, com um olhar estranhamente revelador. A mulher olhou e se levantou. Foi até a cozinha e procurou. A coragem lhe invadiu os últimos neurônios que agitadamente se concatenavam em ideias e ações nunca antes pensadas tampouco sonhadas.

A mulher juntou tudo o que tinha as poucas roupas, os documentos, o dinheiro mentirosamente guardado, o dinheiro do homem, e qualquer outra coisa que fosse somente sua. Saiu pela madrugada a caminho não se sabe ao certo para onde, mas ela sabia que era para muito longe dali. Longe daquele homem e de todos os panos de lustrar. Na rodoviária, parou em qualquer destino, porque nessa altura não importava mais o para onde e sim o ir. Foi-se.

A vista da estrada era clara e límpida como a água do rio da nascente que brota.

 

 

domingo, 9 de junho de 2013

CRÔNICA EM DOIS ATOS


PRIMEIRO ATO

Mulher de trinta anos, aparentando quase os quarenta, cabelos duramente crespos, corpo magro e gélido, murcho, como um balão depois de estourado, olhos curvos acentuadamente castanhos e brilhosos não se sabem os porquês. Personagem da vida cotidiana, da cidade, da comunidade em que vive, com o homem que o destino lhe reservou, também não se sabe o porquê.

Nas suas cenas rotineiras, acorda ás cinco e dez da madrugada, para que se tudo correr como o de costume, chegar ao lugar de ofício sete em ponto. No trajeto, essa mulher não pensa em nada. Observa a paisagem como se nunca tivessem passado as vistas, inéditas e estranhamente perdidas. Não se lembra do dia anterior, porque lhe ensinara a vida que é preciso vivê-los assim um a um, sem certezas de nada, como a um remédio que não se sabe se a gota cairá ou não.

O limpar dos pisos, das escadas e corrimões eram feitos cada dia de uma maneira diferente para que nada fosse igual. O lustra móveis era enjoativo, e o cheiro impregnado em suas mãos não saía. Outra coadjuvante da faxina perguntou para a moça o que era o olho roxo e inchado e como àquilo não deveria fazer parte do script da sua vida, respondeu suavemente que caíra da escada, lustrara demais os pisos e mentir era tão fácil e rápido como lustrar.

Apanhava dia sim dia não. Dependendo da vontade do homem que o destino lhe reservou e da sorte, apanhava apenas uma vez na semana. E também assim, uma vez na semana, gastava no restaurante do prédio um dos seus vales-alimentação, separadamente guardados pela mentira e comia o que era somente o prazer, seu pequeno e único prazer, porque já se sabe que é preciso deixar que um dia corra de cada vez, como o cavalo que corre na sua raia, sem pensar em nada, apenas esperando a chegada final.

Se na ida não pensava em nada, na volta era diferente. Pensava como terminaria o seu dia. Não sentia mais medo, porque já havia passado dessa fase, a do terror também, a da tristeza, da raiva e não se sabe por qual razão encontrava-se na resignação. Não da fé. Nem pensava mais em Deus, porque não mais adiantava pensar nele. A resignação era da certeza, da real e certa e fatídica situação que lhe esperava. A mesma certeza como o cheiro impregnava suas mãos.

Naquela noite apanhou. Chorou e dormiu. Sonhou que matava o homem que o destino lhe reservou com uma faca afiada. Com o corpo amolecido em sua frente ela limpava o sangue com o paninho de lustrar para depois embrulhá-lo no lençol. O corpo sumia de repente. No sonho, na cena seguinte, ela saía caminhando tão livre que o medo era forte e intenso. No restaurante do prédio ela pedia o prato mais caro e o doce mais doce que tinha.

Naquela noite apanhou. Chorou e dormiu.

 

sábado, 8 de junho de 2013

CRIPTOGRAMA


Maldita sejam as origens, as regras e toda essa tradição. As favas com as tradições. A mesmice do ser assusta. Caminha-se com o mesmo passo dos primeiros homens a darem os primeiros passos eretos, e esperava-se que assim, com os olhares paralelos ao futuro, vissem além de suas oculares. Ninguém abandona suas origens. Ao diabo com a bendita essência. Há que se preservá-la, quer seja para o bem ou para mal. O rio continua a procura do mar. E o Sol guarda-se para a Lua aparecer. Os sorrisos exagerados são os mesmos de séculos atrás e a flor dada aos buquês continua a ter o mesmo efeito. Evolui-se e anda-se ao revés. Nada é o novo. As histórias de amor são as mesmas histórias de amor. As mortes são mortes. E a esperança da novidade é apenas esperança.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!