A
coragem que a vida tem de desabar sobre as nossas cabeças é algo que nos passa
sempre despercebido. Enquanto nosso olhar transita pelo óbvio e muitas vezes
para o distanciamento, a vida vai desenhando os pormenores que nos escapam
feito o vento. Caminhamos com o rosto virado para direções sempre únicas, com
rédeas que nos impedem de enxergar pequenos detalhes e minúsculas ações.
De um
sorriso não visto até uma flor ridiculamente aberta, o que nos empurra para
seguir vivendo nunca são as sutilezas, mas sim os arrebatamentos. Talvez seja
porque nossa eterna dúvida sobre o que estamos fazendo aqui e a nossa certeza
absoluta de que vamos morrer, caminhem lado a lado, tenuemente ligadas por um
ser incerto, incompleto e cheio de perguntas.
Nessa
manhã acordei diferente. Pensei que o tempo de ontem tinha passado depressa
demais para a criança que havia sido outrora adolescente e agora adulta. Nesses
pensamentos todos e ora tolos, desejei mais lembrar-me de todas as grandes
delicadezas e pequenas agudezas de espírito do que dos meus grandes ou
tortuosos feitos. Nessa manhã acordei mais velha e certamente com maior coragem
para olhar para vida, como jamais havia olhado.