segunda-feira, 27 de maio de 2013

DESPERTAR


A coragem que a vida tem de desabar sobre as nossas cabeças é algo que nos passa sempre despercebido. Enquanto nosso olhar transita pelo óbvio e muitas vezes para o distanciamento, a vida vai desenhando os pormenores que nos escapam feito o vento. Caminhamos com o rosto virado para direções sempre únicas, com rédeas que nos impedem de enxergar pequenos detalhes e minúsculas ações.

De um sorriso não visto até uma flor ridiculamente aberta, o que nos empurra para seguir vivendo nunca são as sutilezas, mas sim os arrebatamentos. Talvez seja porque nossa eterna dúvida sobre o que estamos fazendo aqui e a nossa certeza absoluta de que vamos morrer, caminhem lado a lado, tenuemente ligadas por um ser incerto, incompleto e cheio de perguntas.

Nessa manhã acordei diferente. Pensei que o tempo de ontem tinha passado depressa demais para a criança que havia sido outrora adolescente e agora adulta. Nesses pensamentos todos e ora tolos, desejei mais lembrar-me de todas as grandes delicadezas e pequenas agudezas de espírito do que dos meus grandes ou tortuosos feitos. Nessa manhã acordei mais velha e certamente com maior coragem para olhar para vida, como jamais havia olhado.

sábado, 25 de maio de 2013

INCONGRUENTE


Da janela vê-se

Só um céu que

Emoldurado pelos

Telhados alaranjados

Reduz o infinito apenas num retângulo!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

OUÇA OU LEIA, OU OS DOIS, TANTO FAZ, DEPOIS FAÇA O QUE QUISER!


Parada no carro em frente ao metrô. Espero. No rádio toca Dream a littte dream of me. Aumento imediatamente o volume e num inglês parco e desafinado tento reproduzir o jazz envolvente. Meus dedos correm o volante-bateria e meneio a cabeça para lá e para cá. Olho. Logo a frente um homem vem vindo. Andar é arrasto. Rosto de cansaços. As mãos arrebentadas denunciavam um possível trabalhador braçal. Penso nisso. Volto meu olhar. Ele olha para mim. Passa pelo meu lado direito e seu passo é lento. Mais lento. Penso em assalto, não respiro e tampouco olho para o lado. Ele diminui mais o passo. Ele ouve a melodia que estava no ápice do refrão. Ele meneia a cabeça. Sorri. Atravessa o corpo do carro e percebo que seu andar é outro. Pelo retrovisor vejo agora que os seus passos são embalados, ritmados pela agradável melodia... e anda e sonha e dança.

Mal reparei que a música havia acabado. Envergonhada. Melancolicamente muda. Assalto? A gente pensa. Tem medo de. Gente. Sente. Sinto tanto.

Felicidade é andar sonhando.

 

domingo, 19 de maio de 2013

DOIS DE PAUS


Meus ombros doem e meus olhos lacrimejam. Estamos na época da sobrevivência e da pungência. Sorrir é uma arte e escapar das mentiras e injustiças é quase impossível. Olho para os troncos da árvore que nascem retorcidos e curvados para a vida, porque já não sabem mais lidar com tanto frio, seco, calor e ora acordam alagados e submersos no acaso. Meu peito salta e procuro o olhar das crianças que ainda não sabem vislumbrar o futuro, queria tanto esse olhar do agora, do já. A rosa abriu, porque era preciso abrir e nem pensou se suas pétalas haviam de se despencar um dia, abriu apenas. Queria poder ter o silêncio das bordadeiras que trançam as linhas coordenadamente imersas na certeza da prontidão. Se a vida fosse uma toalha bordada de certezas, saberia como fazê-la.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

QUARAR

Qual Sol
vai branquear
o dia negro sem fim?

Qual Sol
há de clarear
o choro exaustivo da menina?

Qual Sol
irá quarar
a roupa encardida da senhora?

Qual Sol
capaz de brilhar
se é o fim da primavera?
 

terça-feira, 14 de maio de 2013

sábado, 11 de maio de 2013

ANACRÔNICO


Se uma hora tivesse

eu, no final do dia e

assim depois das tantas

vinte e quatro...

...vinte e cinco!

 

Encontrássemos-nos

num tempo congelado

de infinito e dimensão

e que nós tivéssemos

nosso amor eternizado

e que o tempo jamais

pudesse passar ou esquecer ou atrasar ou findar

e que eu ficasse presa

nesses dois azuis para

nunca mais voltar.

 

Nessa manhã o céu pareceu mais azul como de costume.

 

 

 

 

sexta-feira, 3 de maio de 2013

EPIFANIA


Quero a minha vida

exatamente assim

como foi e está sendo

com as mesmas dores

as mesmas alegrias

porque ambas têm

todo sentido em mim

quero a mesma família

os amores e amigos

os que foram e os que

estão por vir, porque

tudo isso me pertence

tal qual o Sol ou a Lua

me pertencem também,

tal como a poesia que é

viver a minha vida,  que

corre assim como quem

vai para o mar, num fio

d’água de desejo, sentido

e profundezas, porque

tudo isso me pertence

agora e sempre!

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!