domingo, 17 de setembro de 2023

quinta-feira, 14 de setembro de 2023

SOMENTE ALGUNS HAICAIS


 

HAICAIS DA INFÂNCIA

I

 Pé de lata

No pé do menino

Saltitando para o infinito.

 

II

Boneca de pano

Com cabelos de lã

Jogados no chão.

 

III

De um estilingue,

Sai um tiro...

Assustando o passarinho!

 

 

HAICAI DA DÚVIDA

 

O rio verde

 talvez talvegue

 Pela tarde adormecida!

 

 

HAICAI DA CERTEZA

A tarde adormecida

despenca algures

cheiro de Sol !

 


HAICAI DA COLHEITA

 

Depois da outonada,

o menino apanhador

o tempo -será!

 


HAICAI DA FLOR

A rosa surgiu,

abriu apenas,

queria ser rosa.

 


HAICAI MATEMÁTICO

Passo a vida

dividindo-me,

em dízimas.

  

HAICAI DO SOBRINHO

Miro no olhar do menino

Um sorriso que salta

Acalento para o infinito

 

HAICAI DO POEMA

Dia de ideia

Rompe o bordão

Verso incendeia


HAICAI DA ESPERA

Dou alguns passos,

meia-volta e meia,

sonho e aguardo.

 

HAICAI DO SAPO

O olhar era distante...

Era apenas um sapo mudo

Que parado nem remexia

 


 HAICAI DO SAPO GELADO

Na pele, a camada de água

Nem coaxa o coitado, respira,

E aguarda o Sol do meio-dia

 

 

HAICAI DA PRINCESA

Trago no seu beijo

Ainda névoa esparsa

Gosto do silêncio

 

HAICAI SINGELO

O carrilhão

percurtido pelo anjo

badala,badala e ressoa.

 

 

 

 

 

 

As bruxinhas que sonhavam demais

 

         Diz-se por aí que duas bruxinhas eram conhecidas por inventarem demais. Passavam parte da vida, imersas em sonhos e construíam histórias muito boas de ouvir, mas que ninguém ouvia, porque já se sabia que tudo era uma inverdade. As duas feiticeiras, então, resolveram que era melhor ir vivendo, do jeito mais bobo e sem graça mesmo, porque dava muito trabalho nadar contra toda a corrente que viam e ouviam. Tanto diz-que-diz-que enche.

        Durante muito tempo as bruxinhas se olhavam com tristeza e até esboçavam uma historieta qualquer, porém, ao se lembrarem de toda enxovalhada, preferiam dormitar. Passaram tantos anos dormindo que as suas cabecinhas já não sabiam mais sonhar. As cantigas haviam sido esquecidas, nem poetar dava mais, muito menos historiar.

Dormentes, as mãos das magas estavam, e iam carregando a vida vazia, sem peso, graça e sem emoção. Ambas, então, sentadas, esperavam algo da vida quando se deram as mãos e decidiram que era hora de partir porque naquele lugar ninguém saberia mais delas. No meio do caminho, se abraçaram, os pequenos corações começaram a bater novamente e se despediram.

       Uma bruxinha foi pelo caminho da Lua.

       Outra foi pelo mar.

A bruxa que foi pelo caminho da Lua logo encontrou um lugar muito lindo, onde as pessoas que lá viviam se encheram de alegria, quando ela começou a contar sua primeira história. Todos da Vila da Lua ficaram encantados com tanta graça e magia daquela feiticeira encantada.

A outra que foi pelo mar, também encontrou sua morada e logo que chegou a Aldeia Salgada, começou a declamar seus poemas, fazer seus versos e cantarolar suas rimas. Toda a Aldeia se enchia de magia e alegria quando a estrige começava com sua poesia.

E agora, as bruxinhas que sonhavam podiam viver em paz.

 

Frames (Para Márcia Higashi)

 

Os olhos abrem e fecham

Neles, se descortinam

A íris do mundo...

 

Os olhos se abrem

A luz capta uma lágrima

A moça sorri quando vê o pôr do Sol

Uma brisa suave puxa o olhar

A luz capta uma onda

A moça se encanta quando vê o mar

Os olhos piscam em frame ciliar

 

Os olhos abrem e fecham

Neles, o cristalino

A pura visão do olhar...

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!