Há que se ter um
mote para vida. É aquela coisa que não tem nome, mas que nos faz levantar e ir.
Andar, caminhar, sem olhar para trás. Chavão ou não, o homem sabia disso. O
homem tinha tido na vida várias motivações, porém, essa era além do óbvio porque
perpassava pelo orgulho, por sua honra, determinação e necessidade, e claro,
por amor.
Pausa.
Quando o menino nasceu, ainda
bebê, o homem viu que algo na criança era diferente. Talvez porque realmente
era, mas, mais ainda, porque o olhar deles nunca havia se encontrado. Assim,
foram os dois crescendo como pai e filho, sem nunca terem se visto de verdade.
A mulher achou por bem levar ao médico, e depois do diagnóstico, nada mudou.
Também nem se deve o leitor achar que precisa saber do tal laudo, e do que o
menino tinha. Todo mundo tem alguma coisa, e a nossa mente é um abismo; o fato
não é o laudo, a causa, a especialidade, o fato é a motivação.
Entende.
E conforme o tempo foi passando, o
que para uns se torna deficiência, inabilidade, para outros é o brilho. E o
filho cresceu fora do prumo, longe da escala do cotidiano, cresceu com outro
olhar. Da boca nada saia, porque o menino não falava e não olhava. Na escola o problema
menor era esse, pois, como o brilho das notas era muito, mas muito maior,
ninguém ligava para o restante. O garoto-gênio ia crescendo longe dos seus.
Anda.
Num certo dia, o pai reconheceu que era preciso chegar mais perto. Assim,
com menos de quinze anos, foram tentar uma vaga na faculdade de Química da
Universidade de São Paulo. O menino foi aceito, e posteriormente, no curso avançado,
passeava na análise e descrição dos mecanismos de reação e
intermediários reacionais, nos estudos das reações de substituição e reações de
adição e eliminação, e não menos importante, as reações concertadas e
rearranjos moleculares. Sumidade. Aos
quinze anos, se comunicava pelo brilhantismo, pelo computador, por artigos e
mais artigos, prêmios, pelo que descobria e por tudo que sua ausência produzia.
Suspiro.
Desse
jeito, o homem, então, agora tantos anos depois, nada sabia do filho, e
deixava-o ser; via aquele, agora doutor, rapazote, reconhecido, nos saberes de
algo que o homem desconhecia, como pai, como pessoa; ignorante no assunto da
vida do filho e até o que ele estudava, sem nem saber para que servia aquilo
tudo. Mas quem se importa com isso? Todo santo dia, o homem sai de casa,
acompanhado do filho, nessa ordem: o filho na frente, mochila nas costas, o pai
atrás, guardando, andarilhos.