Uma foto
um número
outro número
uma mãe
sem pai
não declarado
assinado
com dedo
de tinta.
Agora é cidadão para valer!
Uma foto
um número
outro número
uma mãe
sem pai
não declarado
assinado
com dedo
de tinta.
Agora é cidadão para valer!
ASSIM COMO O VENTO
BEM AGITADO ESTAVA
A FLOR SE DESGARRROU
E BEM LEVE E SOLTA
PULANDO PELO CÉU
COM AS PÉTALAS CÁ
E BAILANDO PARA LÁ
A PEQUENA MARGARIDA
FOI VOANDO COM A
VENTANIA QUANDO ASSIM,
DE SUPETÃO, PLIM, PLIM
CAIU NA CABEÇA AVOADA
DA PEQUENA GAROTA
QUE SORRIU COM AQUELE
PRESENTE VINDO DO CÉU
Faz silêncio e olha, ali
pelo buraco da vida. Vê como as pessoas andam se acotovelando, querendo um
tanto de atenção daquela outra que é bem querida sabe-se lá por quê? Está na
berlinda, meu amigo? Que você faz com essa sua opinião imensa? Trate bem todas
elas, as pessoas, e ficarão por ali, na estante da sua vida! Onde é que estão
seus amigos? Ou você é um ser social que amontoa amigos do tipo meus amigos?
Olha agora ali do lado esquerdo, vê aquele outro grupo? Está vendo como são amistosos
e omissos? São tão tradicionais na vida, são tão solitários como aqueles que
riem sem parar e que olham de vez em quando pelo buraco de suas vidas rasgadas
e solitárias. Vê como se socializam? Agora escuta o que dizem. Tem bastante
opinião nisso tudo. Isso é bom, mostra que são humanos. Que pensam. Será que
sentem? Ou mentem? Faz silêncio, senão acordam!
sem conseguir escrever alguma coisa de valor poético, metafísico, revolucionário, quântico, sem conseguir escrever algo que te faça se apaixonar ou que te faça sorrir, sem conseguir pensar em escrever um conto qualquer, ou uma crônica da esperança que te faça não se matar hoje, sem conseguir escrever sobre a paz mundial, sobre como as coisas são horrendas, e também sem conseguir ser otimista e feliz, sem conseguir o poeta, escrever um verso minúsculo sequer, versículo, sem conseguir um mote...qualquer...
Rendo-me.
Quero agradecer minha vida.
Sim, ela é carregada de vícios e prazeres,
de saúdes e possibilidades, "vidazarrona",
é emocionalmente intensa e macia,
tenra e macia.
Tem horas que não agradeço, por empréstimo, zero horas, aquela hora da tristeza, essa não agradeço não, mas é um...
Vidão.
Vida com tudo quanto é vida boa tem que ter,
com poesia,
com música,
com gente boa
gente fina, elegante e discreta
com arte,
com comida, acepipes variados e bebedeiras
com prazer,
amor e
“all inclusive”.
“Vou refletir muito sobre algumas coisas nos próximos tempos. Sobre a
vaidade, e o sofrimento que esse sentimento nos traz, e sobre o amor-próprio
também. Se estou percebendo que querem apagar o passado, e avalio que de fato o
passado não é de meu domínio, por que sofrer com isso? O mundo humano está
assim.” (Wiliam Mendes)
A vaidade e o amor-próprio discutiam fervorosamente
na cabeça do homem, para ver quem era o mais importante na vida do pobre rapaz.
De fato, não era uma discussão, ou diálogo, porque na verdade, a vaidade falava
muito mais que o amor-próprio, que num determinado momento passou a só ouvi-la
e respondia apenas o necessário:
-
Acha que vou aceitar esse argumento de que você veio do inglês “self-love” e de
que, portanto, é mais importante do que eu? Também quer que eu acredite nesta
história de Narciso, e que me joguem na cara que não olho para mais nada além
da minha própria beleza? Balela!!!
- Não
foi isso que eu disse. Disse que você tenta me sobrepujar, todas às
vezes que tento deixar ele um pouco mais seguro de si mesmo.
-
Ahhhhhhh. Faz-me rir “self-love”. Então eu, a rainha da valorização pessoal,
aquela que tem os maiores desejos fundamentados nas qualidades físicas e
intelectuais do nosso Mestre, hahahahaha, euzinha, quero passar a perna em
você? Somente quero que os outros avaliem, apreciem as capacidades e qualidades
dele. E você? O que faz? Você o confunde. Todas às vezes que você exagera, é
confundido comigo. Entendeu?
- Quero
só que ele tenha segurança do que diz e faz.
-
Segurança? Você é mesmo muito passional. Isso é um grande paradoxo. Então você
está dizendo, que esse seu cuidado é amor? Ah! O amor-próprio, cuidadosamente
dosado, aliás, em doses homeopáticas, traz a segurança de que nosso Mestre
necessita? Bobagem. Você me vê como um mal? Imagino que sim. Hahahaha. Se me
olha como um mal, que seja o Mal de Epicuro que o impede de ser “omnitudo”! Ora
essa! Dessa forma, você, meu amor, é desnecessário. Eu, sim, a vaidade, sou absolutamente
importante e vital, porque faço com que ele se valorize, se vanglorie de suas
conquistas e que seja reconhecido pelos outros mortais.
-
Talvez tenha razão. Mas... Poderíamos coexistir?
-Nunca!
Chega de me confundirem com falha moral, com presunção, com egoísmo, e maldade,
chega! Chega dessa história de me confundirem com você. Sou lúcida! Você não é.
Sou consciente e necessária. Um pouco de mim basta.
Naquela noite o homem não conseguia dormir, seus
pensamentos oscilavam e refletiam sobre a vaidade, e o sofrimento que esse
sentimento lhe causava; pensava em suas conquistas e também avaliava se o seu
passado deveria ainda estar sob o seu domínio ou não; para quê?
E... Não chegando em conclusão alguma, sorriu, percebeu
o adiantado da noite e matutou que de nada adiantava pensar tanto e sofrer
sobre tudo isso. O mundo humano já está assim, muito sofrido, calejado, cheio
de preguiça e com muito sono.
Bastos
era um senhor de sessenta e poucos anos que vivia sozinho em um pequeno
apartamento do centro da cidade de São Paulo. O único filho morava em outro
país e falavam-se poucas vezes durante o ano. Alguns parentes no interior, que
a ausência de contato havia guardado na última gaveta da memória qualquer
possibilidade de reencontros. Da sua rotina diária, além dos pequenos afazeres
de limpeza, manutenção da sua sobrevivência, cozinhar algo, aparar a barba,
alimentar os pássaros, sobrava-lhe uma enorme parte do dia para nada fazer.
Bastos
era homem comedido, falava pouco e durante toda a vida mediu bem aquilo que lhe
saía da boca; entre falar e dar sua opinião preferia calar-se; o que fez com
que escutasse a vida toda que era um pau mandado, um nada, um livro sem
receitas, um homem vazio... Nunca se importou com isso, não falava porque não
valia a pena dizer, somente o que era certo, era dito: “três pães, por favor,”,
não importava dizer algo sobre a coloração dos pães, “nossa, como estão tostados”,
já estavam tostados, de que valeria dizê-lo.
Mas...se olhou no espelho.
O
homem olhava assustado para a imagem do espelho, não pelo corte feito, que era
pequeno demais para alguém dar-lhe algum valor, mas seu estupefato olhar era da
frase que sua boca havia proferido; não era homem de dizer vilezas, não era
homem de falar mal por pouco, nem por muito havia perdido sua linha; nada disso
era o que lhe tinha causado o pavor, a voz que lhe saíra da boca não parecia
ser sua, aterrorizado não sabia o que fazer, baixou os olhos para tirá-los do
espelho e sussurrou baixinho o seu nome, queria escutar-se.
Se a voz dominara o homem ou se ambos haviam se fundido em um só não é coisa para se pensar nesse momento da narrativa porque nada de filosófico há na mudança e o que se é relevante dizer são os fatos, os fios condutores das ações; o caso é que o senhor Bastos estava mudado e nem mesmo sabia onde tudo isso tinha começado, acostumara-se com a nova maneira que a vida lhe impusera com a mesma brandura que se habituara á barbas; agora era ser que cuspia fogo, deixava marca por onde passasse, rasgava todos os verbos, espantava os bichos, encantava e desencantava.
Bastos
era um senhor que vivia sozinho em um pequeno apartamento do centro da cidade
de São Paulo. O único filho morava em outro país e falavam-se várias vezes
durante o ano. Alguns parentes no interior visitavam sempre o homem, que recebia
todos calorosamente em longos papos e risadas madrugada a fora, resgatando
sempre o que havia guardado na primeira gaveta da memória: lembranças. Da sua
rotina diária, além dos pequenos afazeres de limpeza, manutenção da sua
sobrevivência, cozinhar algo, aparar a barba, alimentar os pássaros,
sobrava-lhe uma enorme parte do dia para conversar, cantar, aconselhar, jogar
conversa fora, discutir...
Mira la
perseverancia y
com el
passo del tiempo
firme em
la constancia,
en la
base de la obstinación.
Mira,
para que tengas siempre
las
delicadezas...
Cambia
frenéticamente su
vida
estampida y puesta
al
principio del acaso
para que
tengas siempre
las
delicadezas...
que sin duda se traducirá
en palabras y acciones.
O famoso lambe-lambe e sua potente "rolleiflex" entram num recinto...
A luz não importa,
nem sequer é necessário um refletor para que seus dedos ágeis e duros apertem o
botão e um flash sorridente capture o instante.
No seu transtorno-maníaco-compulsivo-obsessivo,
obseda na imaginação o melhor ângulo da figura que se move em sua frente.
Atenção! Um corpo que chega, um algo que se movimenta, um rosto que lamenta,
uma boca que canta, um instrumento que toca, o rebolar dos quadris, a pose da
moça, um "fotofóbico" que balança e o cão que ri. Não há objeto para a objetiva
que retrata o indelével.
Como se não
bastasse, o impávido fotógrafo precisa também ser parte da sua sétima ou décima
arte, e num revés desesperado, em toda a loucura, procura uma regra-três que
com seu dedo substituto em riste, faça surgir num “click” a imagem congelada do
exímio-louco que lhe sorri.
E todos os instantes não revelados, nem coloridos tampouco pretos e brancos se avolumam nas páginas solitárias virtuais, a espera de outro olhar que saudoso relembre o momento e gargalhe ou chore ou... odeio ser fotografado. Já diziam que rouba minha alma.
Lá vai o famoso
lambe-lambe produzir suas fotos-legenda.
“E não é que você
ficou bem na foto”.
Era um dia para ser triste
contudo, a moça pensava
com muita alegria e imaginava,
que o seu amor chegaria.
Era um dia para ser triste
contudo, o rapaz matutava
com muito cuidado e analisava,
como dizer seu amor a guria.
Era um dia para ser triste
mas... na praça que encantava
a moça vinha cantando, e agora,
olhava assustada para o rapaz
que sorrindo a aguardava.
Galileu, pressionado, foi convidado pela santa
inquisição (em minúscula mesmo), a abandonar as suas convicções cientificamente comprovadas de que a
Terra se movia em torno do Sol. Assim, tal como Galileu, seguimos caminhando
lado a lado com a ficção, quase científica, tanto no gênero quanto na vida. A Terra
agora plana, tal como o chão que pisamos, acaba na linha tênue do absurdo, da
desinformação e da tentativa de plantar a ignorância. Na dúvida, pergunte. Escolha
entre qual a pílula irá tomar, a que permitirá que esqueçamos de algo que já
aconteceu na utopia virtual desse mundo moderno e que só enxerga o que se quer,
ou a outra, que nos levará ao mundo real. Não importa, na dúvida, estude. Chegamos
em um ponto tão crucial, que nem os gêneros se salvarão; os limites das grandes
histórias não terão mais enredos inspiradores, estaremos sujeitos aos que
querem a todo custo esconder a realidade. Nas narrativas inverossímeis que imitam o cotidiano,
o experimento caminha junto à descoberta, e a ciência caminha junto ao
negacionismo. Um ali tentando ir contra o outro, negando o óbvio, comprovado
por várias verdades. Cada um com sua verdade? Talvez? Não, só que não. Uma
verdade só pode ser derrubada ou substituída por outra verdade mais científica
ainda. Deixe para a ficção, quase científica, as elucubrações dos quase fatos
cientificamente comprovados; não se deixe levar pelo quase científico, pela
ficção, por pílulas azuis, fake das fakes, pesquise, conteste, grite, pergunte,
e assim como o astronauta Aldrin, dê um soco no queixo de quem duvidar da
Ciência.
As cinco senhoras sentadas perto da piscina discutiam fervorosamente sobre os aspectos da comida servida na pousada em que estavam. De férias da vida solitária, e ou, da vida monótona da cidade, aquelas mulheres com mais de sessenta anos estavam ali procurando o que viver.
Assim, na calorosa discussão sobre o café da manhã, almoço e jantar, argumentavam muito mais do que a própria filosofia possa dar conta. Entre teses e antíteses, chegaram na síntese de que, salvo exceções, a comida tinha caído de nível em relação às últimas temporadas. Eu escutava tudo aquilo com muita atenção, das frases mais hilárias, desde a qualidade da linguiça que fora servida três vezes na semana, sem mudar nada em seu aspecto que pudesse modificá-la em essência, até o fato de colocarem coco ralado em todas as sobremesas para aumentar o volume, todas as frases eram seguidas de fortes argumentos. E de fato, concluíram na queda de qualidade em relação aos anos anteriores: “no passado tinha batata frita de verdade, duas ou três proteínas a sua escolha e mousse de chocolate”
Assim, seguia apreciando as discussões, as justificativas, quando senti algo em minhas costas. A pequena garotinha, com sua mão minúscula, cujas unhas estavam pintadas de rosa, acariciava minhas costas em gestos largos. Olhei para ela e sorri, ela também sorriu do seu jeito; um jeito diferente do que chamamos de normal, mas isso não importa agora. Tentei travar uma conversa, mas ela não falava, apenas sorria, sua condição neste mundo era simplesmente sorrir e caminhar. Recebi este carinho, e retribui abraçando a magreza de suas costas.
Ficamos assim, por um longo período, sem dizer palavra, abraçadas, ora os olhos cruzavam, ora os sorrisos vinham. Interrompida pela mãe, que desculpou-se, dizendo que ela estava atrapalhando, e puxando a garotinha pela mão, levando-a embora, e, enquanto eu dizia a tradicional frase, “imagina, não estava atrapalhando nada”, as duas já haviam sumido da minha visão constrangida.
Assim. Assim é o átimo do que é viver. Ninguém estava me atrapalhando. Da conversa apaixonante das senhoras que tornavam aquele meu viver, um instante divertidamente inesquecível, até o abraço da menina que escolheu me acarinhar, seguimos vivendo na esperança, seguimos olhando para os detalhes, percebendo os pequenos gestos largos que vão acariciando a nossa vida, e assim, sim, destes instantes...caminhamos.
O dia deu em chuvoso, Camões disse isso lá atrás num soneto, dos mais lindos poemas que já vi. Assim, a chuva produz algum sentimento, nem sempre é apenas de tristeza, muitos devaneios , às vezes obviedades, também um tanto de amargura, e quase sempre melancolia; hoje diferentemente disso, ou daquilo, trouxe reflexão. Um pássaro aqui na minha frente está a banhar-se e assim, vendo o movimento tão feliz, de lá para cá, molhando as asas e sacudindo a poeira da poluição, parecia feliz. E assim, como o bicho, eu aqui vendo a chuva prazenteira, tentando escrever sobre o que não se pode escrever, pensando no revés que a chuva traz, no sim e no não, no alegre, ora triste, não consigo deixar de estar confusa. O dia deu em chuvoso.
Num gesto largo
o menino assopra
a planta que estava
pronta para voar;
em mil flocos
as sementes iam
vento acima
vigiadas pelo olhar
do garoto sorriso;
olhar curioso,
em devaneios
o que o faz pensar
que o floco é leve;
cheio de esperança
o menino vislumbra
a vida é leve
cheia de pompons
esvoaçantes
ele pensa
e é feliz!
Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!