segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Valsa em voz...

 


CRÔNICA DA FICÇÃO QUASE CIENTÍFICA, SÓ QUE NÃO

 

Galileu, pressionado, foi convidado pela santa inquisição (em minúscula mesmo), a abandonar as suas convicções cientificamente comprovadas de que a Terra se movia em torno do Sol. Assim, tal como Galileu, seguimos caminhando lado a lado com a ficção, quase científica, tanto no gênero quanto na vida. A Terra agora plana, tal como o chão que pisamos, acaba na linha tênue do absurdo, da desinformação e da tentativa de plantar a ignorância. Na dúvida, pergunte. Escolha entre qual a pílula irá tomar, a que permitirá que esqueçamos de algo que já aconteceu na utopia virtual desse mundo moderno e que só enxerga o que se quer, ou a outra, que nos levará ao mundo real. Não importa, na dúvida, estude. Chegamos em um ponto tão crucial, que nem os gêneros se salvarão; os limites das grandes histórias não terão mais enredos inspiradores, estaremos sujeitos aos que querem a todo custo esconder a realidade.  Nas narrativas inverossímeis que imitam o cotidiano, o experimento caminha junto à descoberta, e a ciência caminha junto ao negacionismo. Um ali tentando ir contra o outro, negando o óbvio, comprovado por várias verdades. Cada um com sua verdade? Talvez? Não, só que não. Uma verdade só pode ser derrubada ou substituída por outra verdade mais científica ainda. Deixe para a ficção, quase científica, as elucubrações dos quase fatos cientificamente comprovados; não se deixe levar pelo quase científico, pela ficção, por pílulas azuis, fake das fakes, pesquise, conteste, grite, pergunte, e assim como o astronauta Aldrin, dê um soco no queixo de quem duvidar da Ciência.

sábado, 27 de janeiro de 2024

Crônica do abraço

            

As cinco senhoras sentadas perto da piscina discutiam fervorosamente sobre os aspectos da comida servida na pousada em que estavam. De férias da vida solitária, e ou, da vida monótona da cidade, aquelas mulheres com mais de sessenta anos estavam ali procurando o que viver.

Assim, na calorosa discussão sobre o café da manhã, almoço e jantar, argumentavam muito mais do que a própria filosofia possa dar conta. Entre teses e antíteses, chegaram na síntese de que, salvo exceções, a comida tinha caído de nível em relação às últimas temporadas.  Eu escutava tudo aquilo com muita atenção, das frases mais hilárias, desde a qualidade da linguiça que fora servida três vezes na semana, sem mudar nada em seu aspecto que pudesse modificá-la em essência, até o fato de colocarem coco ralado em todas as sobremesas para aumentar o volume, todas as frases eram seguidas de fortes argumentos. E de fato, concluíram na queda de qualidade em relação aos anos anteriores: “no passado tinha batata frita de verdade, duas ou três proteínas a sua escolha e mousse de chocolate”

Assim, seguia apreciando as discussões, as justificativas, quando senti algo em minhas costas. A pequena garotinha, com sua mão minúscula, cujas unhas estavam pintadas de rosa, acariciava minhas costas em gestos largos. Olhei para ela e sorri, ela também sorriu do seu jeito; um jeito diferente do que chamamos de normal, mas isso não importa agora. Tentei travar uma conversa, mas ela não falava, apenas sorria, sua condição neste mundo era simplesmente sorrir e caminhar. Recebi este carinho, e retribui abraçando a magreza de suas costas.

Ficamos assim, por um longo período, sem dizer palavra, abraçadas, ora os olhos cruzavam, ora os sorrisos vinham. Interrompida pela mãe, que desculpou-se, dizendo que ela estava atrapalhando, e puxando a garotinha pela mão, levando-a embora, e, enquanto eu dizia a tradicional frase, “imagina, não estava atrapalhando nada”, as duas já haviam sumido da minha visão constrangida.

Assim. Assim é o átimo do que é viver. Ninguém estava me atrapalhando. Da conversa apaixonante das senhoras que tornavam aquele meu viver, um instante divertidamente inesquecível, até o abraço da menina que escolheu me acarinhar, seguimos vivendo na esperança, seguimos olhando para os detalhes, percebendo os pequenos gestos largos que vão acariciando a nossa vida, e assim, sim, destes instantes...caminhamos.

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

O dia deu..

 O dia deu em chuvoso, Camões disse isso lá atrás num soneto, dos mais lindos poemas que já vi. Assim, a chuva produz algum sentimento, nem sempre é apenas de tristeza,  muitos devaneios ,  às vezes obviedades, também um tanto de amargura, e quase sempre melancolia; hoje diferentemente disso, ou daquilo, trouxe reflexão. Um pássaro aqui na minha frente está a banhar-se e assim, vendo o movimento tão feliz, de lá para cá, molhando as asas e sacudindo a poeira da poluição, parecia feliz. E assim, como o bicho, eu aqui vendo a chuva prazenteira, tentando escrever sobre o que não se pode escrever, pensando no revés que a chuva traz, no sim e no não, no alegre, ora triste,  não consigo deixar de estar confusa. O dia deu em chuvoso. 

terça-feira, 9 de janeiro de 2024

DENTE-DE-LEÃO ( Para o Guilherme)

Num gesto largo

o menino assopra

a planta que estava 

pronta para voar;

em mil flocos 

as sementes iam 

vento acima

vigiadas pelo olhar 

do garoto sorriso;

olhar curioso, 

em devaneios

o que o faz pensar  

que o floco é leve;

cheio de esperança

o menino vislumbra

a vida é leve

cheia de pompons

esvoaçantes

ele pensa

e é feliz!

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!