domingo, 29 de abril de 2012

RECALQUE


Nada disso é como

ser manso e confiável.

Um ser maleável, esse:

faz todo sucesso.



Eu...espanto espantalho!

Eu...amealho os cegos!

Estrago as colheitas!

Convoco os infernos.



Sou infinitamente

sozinho e torpe.

Nada me fará ser:

amigável.


sexta-feira, 27 de abril de 2012

A lenda dos Físicos (Para Enrik, Herick e Kevork)


Há muito tempo atrás, em uma pequena aldeia viviam três amigos físicos. Eram conhecidos por todos como: Os Físicos. Tinham o respeito de todos da aldeia por resolverem sempre todas as questões físicas, metafísicas, telúricas e inexplicáveis que apareciam por lá.
Em certa ocasião, um sábio mágico propôs que os três amigos resolvessem um grande enigma, tal qual o da esfinge, indissolúvel e fundamental: “Por que dois raios não caem no mesmo lugar?” “E gritou: Valendo!”
Munidos do grande paradigma correram na busca da verdade absoluta e munidos também de diversos equipamentos para pesquisas, testes e amostragens, como pistolas de elásticos, diapasões, bolas de lã eletrizadas, ratinhos explosivos, tiras imensas de papéis de balas, clips (improvisados), pedaços de fita crepe (3M) e uma borracha-dado para um possível sorteio, os amigos partiram para a empreitada.
Resolveram, então, que o cerne da “questã” seria unir os esforços e a mente dos três e proferir um único veredito. Depois de confabularem por horas e horas a fio, lançaram mão de um relatório detalhado e profundo. A saber:



1) Quanticamente falando, o mesmo lugar está envolvido por certa incerteza, e, portanto, estaticamente possível.



2) Segundo a gravitação um raio não cai, vai de encontro ao outro corpo.



3) Pela dinâmica, o lugar pode cair no raio, duas vezes, como se sabe.



4) Um mago não deve apontar sua varinha para os mesmos físicos duas vezes.



Os Físicos apresentaram em praça pública a leitura da resolução do enigma diante de uma plateia estupefata. O mágico, então, meteu sua varinha no saco e partiu. Nunca mais ninguém ouviu falar dele e os amigos puderam dormir em paz.


quarta-feira, 25 de abril de 2012

FILHÓS


CRESCE O BOLINHO

NA MÃO DO MENININHO



QUEBRA UM GALINHO

ESCORRE DA MÃO

PÕE MAIS FARINHA

FARINHA NO CHÃO



CRESCE BOLINHO

NA MÃO DO MENININHO



FOLIA DAS BOAS

ARRASTA CANELA

PREPARA QUENTURA

PARA PÔR NA PANELA



CRESCE BOLINHO

JOGA NO AÇÚCAR

CRESCE BOLINHO

NA BOCA DO MENININHO!


terça-feira, 24 de abril de 2012

ESTÁ COM INVEJA ?


Segundo os dicionários inveja é qualquer paixão torpe que procede de sentimentos de desgosto e cobiça pelo bem alheio. Prefiro incluir nesse Pecado Capital algo a que vou chamar de incapacidade de ser feliz. A inveja, antes de ser tudo que já sabemos, quando é exagerada, torna-se também o exercício da infelicidade.

A grama do tal vizinho será sempre mais verde; o carro que não tive e não terei; a mulher que nunca beijarei; a viagem que jamais farei... Enfim, é nessa exaustiva prática de querermos sempre o que está ao lado, que nunca vemos o que está na nossa frente.

Há quem cultive a tal da inveja “boa”. Essa pode. É só uma leve cobiçadinha, e que muitas das vezes é acompanhada pela confissão espontânea de quem sente. Sim, porque a inveja má, é aquela que ninguém admite, só sente e finge que não é o que parece ser.

De desgosto em desgosto, de tentativa errada até caprichos, de orgulhos feridos, de acúmulos de tristeza, as pessoas cavam a própria infelicidade, não enxergam a vida boa que podem ter, ou que devem buscar; não veem nada em sua frente, tampouco dentro de si.

Se eu sinto inveja? É claro que sim! Mas só sinto das boas, das boas ouviram!

domingo, 22 de abril de 2012

PARNASO


(Para Leandro Henrique)





Quantas escolas literárias

rompes-te?

Quantas palavras descobertas

escreves-te?

Quantos versos declamados

disseste?

Parnaso o menino cresceu...



O anjo-passarinho voou.

E pousou na melódica escala das letras

débil, bravateou, urrou

e vomitou todos os sapos.



A que escola literária pertences?

Qual classificação lhe propuseram?

Quantas virgens-santas você deturpou?



Um malandro que amealha versos,

enlouquece a poesia,

infanticídio e cruel, você a domina.



Qual conjugação você usou?

Que regras você recusou?

Amásio de todas você,

cospe, lambuza, gasta toda a poesia.



“Seu modernistazinho barato...”

Acha que convence com essa prosa clássica, barroca, ode cancioneira na louca Paulicéia?



Não, não me usa mais,

palavra,

nem uma linha em si bemol, romântica.

Não pertence à classe nenhuma-seu merda-, és um parnaso na alma

e eu me dou por inteira!


sexta-feira, 20 de abril de 2012

UM APÓLOGO MODERNO (Se Machado fosse vivo...)


     Na sala de informática o Pen Drive se irrita com a soberba de um Notebook:

– Você se acha o tal?

– O quê?

– Perguntei se acha que é soberano?

– De fato, não pensei nisso.

– Ah! Que pena. Faltam-lhe gigabytes. Pois não é! No campo das utilidades, estou pelo menos vários anos luzes.

– Você nem de arquivos dispõem. Não vou discutir com quem não tem memória, e nenhum software. Poupe-me!

– E quem é que precisa de memória, com essa baita capacidade de armazenamento. Fora que você é um trambolhão. E tem mais, eu sou o próprio dispositivo de memória.

– Sei... Memória flash... Instantânea...

– Ainda tenho a função de resgatar dados de computadores obsoletos, assim, meu querido, como no SEU caso.

– Claro, o trivial é copiado, veja bem COPIADO, para dentro deste seu corpinho magrelo. Eu sou a máquina. Ele me usa, tecla meu teclado com seus ágeis dedos e sempre me carrega quando pode.

– Essa é boa! Quem vai para o escritório? Quem? Ali, rostinho colado com o dono. Ou melhor, no bolso do peito amigo! Vamos quem?

–CHEGA! Ah, vocês dois fiquem quietos. Quem realmente é importante nessa história ridícula sou eu. Imprimi essa chatice de diálogo!




quinta-feira, 19 de abril de 2012

PATRANHA


Na conversa

De botequim

Um falou de

Quantas havia

Tido em sua cama

Outro somou

Mais duas ou

Ainda três

Depois de toda

Somatória

Veio à conta

Essa sim tinha

O valor certo!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

OSMOSE


          Hoje escutei de ao menos quatro pessoas:

“Nossa que cansaço!”

“Puxa que desânimo!”

“Está difícil, hein!”

        Como escrever algo depois disso tudo. Cheguei tão contaminada, e não é desculpa. Cochilei no sofá de babar e sonhar absurdos tinha até avião e soldados no sonho.

        Vontades nenhuma. De fazer nada. De ficar ali e curtir o desânimo, o cansaço e a dificuldade...

terça-feira, 17 de abril de 2012

CONFISSÕES


Queria tanto escrever algo alegre hoje. Para você leitor e para mim. Quem disse! Pensei a tarde inteira; aliás, já havia pensado nessa semana. “Preciso de algo para cima, para cima, para o pessoal dar umas risadas”. Nessas, o pensamento não formulava nada além do pueril.

Quanto mais lia as coisas que tinha prontas para publicar percebia que nada era alegre, daquelas de dar uma risadinha, quem dirá gargalhar. Como é difícil fazer rir. E nessa análise percebi que somos mais para falar e fazer coisas bonitas, melancólicas, tristes.

Rimos pouco e pouco fazemos rir. Eu mesmo confesso da minha dificuldade de fazer alguém dar boas gordas risadas. Mas, como meu intuito de hoje era fazer você leitor ao menos dar um sorriso, tomei por empréstimo algumas piadinhas, selecionadas ao léu, ao vento mesmo. Vamos lá:

Em Portugal, estavam demolindo um velho casarão. Depois de quebrarem boa parte, descobriram, atrás de uma parede, um esqueleto com um cinturão e uma fivela de ouro. Estava escrito no cinturão: MANOEL - CAMPEÃO MUNDIAL DE ESCONDE-ESCONDE DE 1904

O bêbado entrou na contramão e o guarda o deteve: -Onde é que o senhor pensa que vai? -Bom. . . eu ia pruma festa, mas parece que ela já acabou... Tá todo mundo voltando.

           

            Espero que tenha feito você sorrir!

segunda-feira, 16 de abril de 2012

NÃO-ME-ESQUEÇAS


Da janela a moça

Repleta de sonhos

Acariciava as flores

Na lembrança da

Missa, do olhar antes

Trocado e profundo

Tocava os miosótis

Como quem tocava

O amor, o amor doce

O primeiro de muitos

Outros amores e o

Vento balançava as

Pequenas florezinhas.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

S’ avle Negro Praiano


          Só um time poderia misturar o branco com o negro. Nesses cem anos, o Santos conquistou o patamar do time dos sonhos. Dos meus sonhos. Tenho Santos no meu nome, conheci o Pelé ainda criança e não são somente esses motivos que me fazem ser uma apaixonada pelo alvinegro.

         Não vi Pepe, nem Mengálvio jogarem, muito menos Coutinho, sou das gerações mais recentes, sou da época do Serginho Chulapa, de Robinho e agora de Ganso e Neymar. Nomes de tantos craques, produzidos de geração em geração, de forma hereditária, porque quem veste a camisa da Vila já nasce craque.

         Quem gosta de futebol, independente do time pelo qual torça adora ver o Santos jogar. Ali parece que tudo foi abençoado pelo Deus Apollo, a bola é amiga e parceira das chuteiras que percorrem os gramados. Se não torce pelo seu time, torce pelo Santos.

         Meu Sele-Santos ou Santástico como preferir, conquistou nove títulos consecutivos na década de sessenta e também se tornou a primeira equipe de futebol a marcar dez mil gols, é o clube que mais gols fez na história do futebol.

         Em 14 de abril de 1912 nascia o Santos Futebol Clube e hoje meus agradecimentos são ao Glorioso Peixe, maior clube das Américas, considerado pela FIFA e para mim, eternamente santista, o maior time dos séculos!



terça-feira, 10 de abril de 2012

HISTÓRIA DE AVIÃO


Meu pai contava essa história e reproduzo aqui conforme minha recordação saltitante permitiu.

O voo vinha de uma cidade do Nordeste, não sei qual, para São Paulo. No avião, além de meu saudoso pai, pessoas distintas, se acomodavam em seus assentos para ir ou voltar. Uma senhora de meia idade entrou no avião com seu filho de pouco mais de sete anos. Vinha o garoto com a cabeça enfaixada.

A comissária logo prestativa, como é de sua forçada obrigação, ajudou o doente, ajeitando-o nos assentos junto a sua mãe. Em curso, já no ar, o moleque começou a aprontar qualquer coisa que se aprontam meninos na sua idade. A mãe impaciente deu-lhe um “tapão” na cabeça.

Passageiros olharam uns atônitos, se entreolhavam outros assustados e omissos. Outra tapa, desta vez mais sonoro. Um senhor ao lado, praguejou, “Que é isso minha senhora”! A mulher ignorou e deu o terceiro peteleco na cabeça repleta de faixas e machucados, produzindo um barulho tão retumbante que duas comissárias tiveram que intervir.

“A senhora não pode fazer isso.” “Seu filho está machucado.”

A mãe indignou-se. Levantou do assento e começou a reclamar, dizia que o menino era responsável, que isso, que aquilo, e conforme discursava, ia retirando a faixa, num ziguezague contínuo e eficaz. Nessa altura, todos os passageiros olhavam; alguns mais curiosos em pé. A senhora desembrulhou a cabeça e para espanto de todos havia um penico.

O penico rosa grudado na cabeça do pequeno e diabólico garotinho que agora ria. Sim um penico preso pela ausência física do ar, capturado pelo vácuo. Iam para São Paulo retirar o fragmento de guerra no Hospital das Clínicas, em cirurgia de alto risco. Risos e aplausos. O garoto era um herói!

Papai contava a história. Se foi verdade ou não a mim não importa, merecia ser contada, não acham?


sábado, 7 de abril de 2012

BISEL


Defronte ao espelho

Moça de olhar cansado

Sorri meio obliquamente

O tempo é atrasado, quase

Quebrado de tanta saudade

Melancolicamente lhe sorri o tal

Espelho chanfrado reluz o brilho apagado

Colado o olho chora, a menina que sorria para o tal espelho!

sexta-feira, 6 de abril de 2012

ACORDE


Nós conhecemos e desconhecemos as pessoas. Não se assuste as pessoas não passam pelas nossas vidas elas perpassam, apenas. Vão e vem assim como o vento suave ou forte, rasante e efêmero.

Amanhece, anoitece, dias mudam em meses para anos e quando se percebe o tempo dilatado e difuso, aquela gente de outrora se foi. Se foi em morte, em desaparecimento, em vontades de irem simplesmente, como a chuva rapidinha.

E assim achamos novas gentes, novas caras, presentes de agora, por um instante, presas em nós por laços quaisquer, como os ninhos formados apenas para àquela ninhada. Passado o verão se vão livres e temerosos pela liberdade de ir e voar.

E você ali, paradinho, relembra, chora fininho, escondido de você mesmo, daquele amor, daquele amigo, do pai, irmão, conhecido, daquele que nunca conheceu. Chora pelo indigente que é, e vê-se sozinho, porque é assim que sempre somos; sozinhos, abandonados no ninho, esperando o próximo verão chegar.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

RETRETA


Suave sininho

Rompe o luar

Com dois pratos,

Bumbos e surdos

Põem-se a tocar

Marchas tristes

Ao som do funil

Retumba o tarol

Repica o clarim

Corre o maestro

Batuta no chão

Foge com a moça

Lenço na mão.



Retreta passou

Suave é o verão!


terça-feira, 3 de abril de 2012

A VELHA E O SORVETE


Há momentos na vida que temos uma saudade tão incrivelmente melancólica da nossa infância que lembramos até dos detalhes mais sutis, do cheiro, da cor, do gosto perdidos e gastos pelo tempo, e recuperados no túnel da memória por algum motivo.

Parada no carro, esperando meus amores chegarem do metrô vi passando uma velha. Era bem velhinha mesmo, estimo uns quase oitenta, cabelos totalmente brancos, guarda-chuva em punho aberto para guardar o Sol do meio-dia, saia godê de lã cinza, deixando as canelas vistas, blusa de linho bordada delicadamente, umas sacolas dependuradas no braço e na outra um sorvete.

O sorvete daqueles de casquinha de cone, com duas bolas imensas, penso uma de creme e a outra de morango. A senhora caminhava devagar e ritmada, ao certo para não derrubar nada. Sorvia o gelado como se fosse o último a ser tomado por ela. Seu rosto era de pura felicidade com um misto de sacanagem do prazer proibido.

Passou, e assim que cruzou por mim deixou-me um rastro da saudade. Lembrei-me da minha avó Helena. Era louca por sorvete. Íamos até a sorveteria da cidade e comprávamos oito, nove bolas de sorvetes de frutas, abacaxi era o preferido, cheios de pedaços. E ficávamos geladas na alma. Tive tanta saudade que senti o gosto, o cheiro, da minha avó, da cidade de Lorena e principalmente de mim.

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!