Meu
pai contava essa história e reproduzo aqui conforme minha recordação saltitante
permitiu.
O voo
vinha de uma cidade do Nordeste, não sei qual, para São Paulo. No avião, além
de meu saudoso pai, pessoas distintas, se acomodavam em seus assentos para ir
ou voltar. Uma senhora de meia idade entrou no avião com seu filho de pouco
mais de sete anos. Vinha o garoto com a cabeça enfaixada.
A comissária
logo prestativa, como é de sua forçada obrigação, ajudou o doente, ajeitando-o
nos assentos junto a sua mãe. Em curso, já no ar, o moleque começou a aprontar
qualquer coisa que se aprontam meninos na sua idade. A mãe impaciente deu-lhe
um “tapão” na cabeça.
Passageiros
olharam uns atônitos, se entreolhavam outros assustados e omissos. Outra tapa,
desta vez mais sonoro. Um senhor ao lado, praguejou, “Que é isso minha senhora”!
A mulher ignorou e deu o terceiro peteleco na cabeça repleta de faixas e
machucados, produzindo um barulho tão retumbante que duas comissárias tiveram
que intervir.
“A
senhora não pode fazer isso.” “Seu filho está machucado.”
A
mãe indignou-se. Levantou do assento e começou a reclamar, dizia que o menino
era responsável, que isso, que aquilo, e conforme discursava, ia retirando a
faixa, num ziguezague contínuo e eficaz. Nessa altura, todos os passageiros
olhavam; alguns mais curiosos em pé. A senhora desembrulhou a cabeça e para
espanto de todos havia um penico.
O penico
rosa grudado na cabeça do pequeno e diabólico garotinho que agora ria. Sim um
penico preso pela ausência física do ar, capturado pelo vácuo. Iam para São Paulo
retirar o fragmento de guerra no Hospital das Clínicas, em cirurgia de alto
risco. Risos e aplausos. O garoto era um herói!
Papai
contava a história. Se foi verdade ou não a mim não importa, merecia ser
contada, não acham?
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