Não
poderia deixar de escrever sobre isso. Necessito.
Na
tarde de ontem, caminhava eu pelos corredores de um shopping, coisa que eu
detesto, e já havia resolvido o assunto que tinha me levado para esse lugar que
abomino, quando resolvi me dar um pouco de prazer e beber um café, curto e
forte.
Pedi
e paguei. Fiquei então, a esperar que a moça trouxesse a bebida. Quando recebi
o prato que continha a xícara pequena, um copinho com água com gás e um
fragmento de biscoito de maisena, achei delicado e bonito e confesso, eu
merecia o mimo.
Tratei
de cumprir a risca todas as regras de um bebedor oficial de café. Limpei o
paladar com a água, meti o docinho que se desmanchava pelas minhas bochechas e
engoli o café amargo. Prazerosamente sorri. Virei para a moça que me servira e
disse que o café que ela havia feito estava uma delícia. Ela olhou-me
estranhamente e não respondeu. Sua expressão era um misto de indignação e
mau-humor.
Pensei.
Mas eu havia elogiado. Pensei. Ela recebeu como um xingamento. Loucura total. Pensei.
Ninguém mais está acostumado a ouvir elogios e delicadezas. Pensei. Insisti.
Disse para a moça “o café que você tirou está perfeito, MARAVILHOSO, faz tempo
que eu não bebia um café tão bom”.
Ela
sorriu, meio que envergonhada, sorriso bem tímido, amparado por um meneio de
cabeça lateral e sutil, e agradeceu baixinho. Pensei. Triste. Só escuta o nada,
o vazio, a ordem, a mecanização do pó moído e o chiado da cafeteira, ela só
escuta isso.
O
café mesmo delicioso desceu mais amargo do que eu queria e a vida me deprime
cada dia um pouco mais.