domingo, 29 de setembro de 2013

O MEDO DA ATRIZ

Há quem pensasse que o medo da atriz
era esquecer todo o texto
naqueles segundos que
antecedem sua entrada.
Outros achariam que ela guardava
uma síndrome de pânico
nunca mencionada, dos refletores;
há ainda quem diga que
a figura do diretor lhe enche de pavor.

O medo da atriz, de fato, era,
se apaixonar por alguma personagem,
tanto, mas tanto, a ponto
de nunca mais a querer largar.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

URGENTE


Não poderia deixar de escrever sobre isso. Necessito.

Na tarde de ontem, caminhava eu pelos corredores de um shopping, coisa que eu detesto, e já havia resolvido o assunto que tinha me levado para esse lugar que abomino, quando resolvi me dar um pouco de prazer e beber um café, curto e forte.

Pedi e paguei. Fiquei então, a esperar que a moça trouxesse a bebida. Quando recebi o prato que continha a xícara pequena, um copinho com água com gás e um fragmento de biscoito de maisena, achei delicado e bonito e confesso, eu merecia o mimo.

Tratei de cumprir a risca todas as regras de um bebedor oficial de café. Limpei o paladar com a água, meti o docinho que se desmanchava pelas minhas bochechas e engoli o café amargo. Prazerosamente sorri. Virei para a moça que me servira e disse que o café que ela havia feito estava uma delícia. Ela olhou-me estranhamente e não respondeu. Sua expressão era um misto de indignação e mau-humor.

Pensei. Mas eu havia elogiado. Pensei. Ela recebeu como um xingamento. Loucura total. Pensei. Ninguém mais está acostumado a ouvir elogios e delicadezas. Pensei. Insisti. Disse para a moça “o café que você tirou está perfeito, MARAVILHOSO, faz tempo que eu não bebia um café tão bom”.

Ela sorriu, meio que envergonhada, sorriso bem tímido, amparado por um meneio de cabeça lateral e sutil, e agradeceu baixinho. Pensei. Triste. Só escuta o nada, o vazio, a ordem, a mecanização do pó moído e o chiado da cafeteira, ela só escuta isso.

O café mesmo delicioso desceu mais amargo do que eu queria e a vida me deprime cada dia um pouco mais.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

AS MENINAS QUE DORMIAM


          Diz-se por aí que duas meninas eram conhecidas por inventarem demais. Passavam parte da vida, imersas em sonhos e construíam histórias muito boas de ouvir, mas que ninguém ouvia, porque já se sabia que tudo era uma inverdade. As meninas, então, resolveram que era melhor ir vivendo, do jeito mais idiota e sem graça mesmo, porque dava muito trabalho nadar contra toda a corrente que viam e ouviam. Tanto diz-que-diz-que enche.

         Durante muito tempo as meninas se olhavam com tristeza e até esboçavam uma historieta qualquer, porém, ao se lembrarem de toda enxovalhada, preferiam dormitar. Passaram tantos anos dormindo que as suas cabecinhas já não sabiam mais sonhar. As cantigas haviam sido esquecidas, nem poetar dava mais, muito menos historiar.

         Dormentes, as mãos das meninas estavam, e iam carregando a vida vazia, sem peso, graça e sem emoção. As duas meninas, então, sentadas, esperavam algo da vida quando se deram as mãos. Decidiram que era hora de partir, naquele lugar ninguém saberia mais delas. No meio do caminho, se abraçaram, os pequenos corações começaram a bater novamente e se despediram.

         Uma foi pelo caminho da Lua.

         Outra foi pelo mar.

        

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

MIRANTE

      Eu tinha a certeza, enquanto olhava para a casca quebrada da árvore que se desmanchava em tronco novo, que era necessário abraçar a mudança e acolhe-la em meus braços incertos, assim como acalentamos o filho pequeno que nasceu, porque temos por lá no canto da alma a ideia de que nada mais depende de nós. Agora é somente o mirar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

REGISTRO GERAL

Uma foto um número outro número uma mãe sem pai não declarado assinado com dedo de tinta. Agora é cidadão para valer!