Diz-se por aí que duas meninas
eram conhecidas por inventarem demais. Passavam parte da vida, imersas em
sonhos e construíam histórias muito boas de ouvir, mas que ninguém ouvia,
porque já se sabia que tudo era uma inverdade. As meninas, então, resolveram
que era melhor ir vivendo, do jeito mais idiota e sem graça mesmo, porque dava
muito trabalho nadar contra toda a corrente que viam e ouviam. Tanto diz-que-diz-que
enche.
Durante muito tempo as meninas se olhavam com tristeza e até
esboçavam uma historieta qualquer, porém, ao se lembrarem de toda enxovalhada,
preferiam dormitar. Passaram tantos anos dormindo que as suas cabecinhas já não
sabiam mais sonhar. As cantigas haviam sido esquecidas, nem poetar dava mais,
muito menos historiar.
Dormentes, as mãos das meninas estavam, e iam carregando a
vida vazia, sem peso, graça e sem emoção. As duas meninas, então, sentadas,
esperavam algo da vida quando se deram as mãos. Decidiram que era hora de
partir, naquele lugar ninguém saberia mais delas. No meio do caminho, se
abraçaram, os pequenos corações começaram a bater novamente e se despediram.
Uma foi pelo caminho da Lua.
Outra foi pelo mar.
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