O homem levanta os braços para o alto, com as mãos espalmadas,
trêmulas e pede “calma”. A massa de trabalhadores ruidosa e raivosa, olha para
ele. O burburinho continua de uma ponta a outra; no grupo de pessoas, umas
insatisfeitas e outras esperançosas, a falação é intensa. Ele grita novamente
pedindo muita calma, olho no olho, o homem sabe que precisa controlar a
situação; ele faz silêncio e olha novamente no olho de cada trabalhador que
veio até o sindicato para ouvi-lo.... Silêncio... agora o homem pode falar!
Na volta do trabalho a faxineira, cansada da labuta de
limpar, de secar o gelo diário, se depara com a sacola que se mexia num barulho
de choro. Sem hesitar, porque o pobre não tem tempo para isso, abre e vê a
ninhada de pequenos cachorros abandonados. Não sendo mulher de abandonar
ninguém, a senhora sai pela comunidade tentando achar novos donos, pois ela já
tem os seus vários bichos e pensa por um rápido momento “que essa gente é ruim
demais”.
O rapaz vem pensando que sua namorada estava muito triste,
triste mesmo de dar dó; sem conseguir mais uma vez entrar na tão sonhada
faculdade, ela teria mais um ano inteiro pela frente. Sem saber o que dizer, o
sofrimento dele no vagão do metrô também era de dar pena. “O que vou dizer para
ela”, repetidamente ele divagava. Uma menina para do lado dele e diz para ele
comprar um brigadeiro, “compra, por favor”, ela insiste que o brigadeiro que
ela faz, traz muita alegria para quem come. O rapaz compra os brigadeiros, ele
entrega o brigadeiro para sua namorada, e o dia segue mais feliz.
A escritora pensa em como pode escrever sobre os pequenos
gestos humanos, aqueles que nos trazem acalanto ou destruição, afáveis ou ignóbeis.
Lembrou de como cada gesto, acompanhado ou não de palavra, de ação, modifica a
história toda, numa avalanche sem volta. A mulher lembrou do livro que havia
ganhado quando ainda criança. Exatos seis anos; ganhou o livro com dedicatória
linda, mas lembrou que esse gesto ficara lá traz, junto com a criança que ainda
não entendia nada de gestos largos e lindos, porque só pensava em crescer.
A História dos Nossos Gestos, por Cascudo: “Os Gestos são
moedinhas de circulação indispensável e diária, mas ignoramos sua emissão no
Tempo. A crônica, segue para o amigo Mendes.
2 comentários:
Nossa! Que texto lindo! Essa questão do gesto é para longas reflexões, é para a gente olhar para o passado, o presente e o futuro. Eu fiquei pensando em alguns gestos dias atrás que me deixaram muito triste, numa visita a MG, gestos que demonstraram a falta de consideração de pessoas que amo, e depois vivenciei gestos que me deixaram cheio de esperança no amor e nos humanos que ainda temos por aqui neste mundão de todos nós. Gestos... como o de vocês, pessoas tão amáveis e que cultivam algo em extinção, o amor. Abração pra vocês, de coração!
Abraço, amigo e obrigada.
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