O trabalho na lanchonete era árduo e braçal. Clarisse servia as mesas, limpava e lavava louças, só não fazia os lanches porque seria demais abusar da sorte. O patrão era um homem bom e justo, mas estava um pouco cansado de alguns prejuízos causados pelas distrações da moça, tinha avisado que agora descontaria de seu salário cada coisa quebrada; ela concordou; era justo.
Naquela manhã, com quase nenhum cliente, Clarisse assustou-se com um garoto de pouco mais de sete anos, sujo e magrinho demais parado atrás dela. Cena mais que comum nas cidades grandes, se não fosse à pergunta do garoto:
– Quer ser minha mãe?
– Como?
– Preciso de uma mãe para cuidar de mim, quer ser?
– Não posso. Você já deve ter uma, não é?
– Não.
– Tem sim, com quem você mora?
– Na rua. Não tenho ninguém.
– Por que quer que seja eu?
– Sei lá.
– Tem fome?
– Tenho.
– Sente aqui, eu já venho.
Clarisse pediu um sanduíche e um copo de leite com chocolate. Tirou o dinheiro da bolsa e pagou o lanche. O garotinho comeu tão rápido que ela segurou sua mão duas ou três vezes dizendo “calma”. Depois de comer, o menino perguntou o seu nome.
– E o seu?
– Os garotos me chamam de Carente, porque quero sair da rua... Não quero mais dormir lá. Tenho que ficar acordado para não me pegarem de novo.
– Mas e o seu nome mesmo?
– Sei lá.
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