domingo, 9 de outubro de 2011

UM APÓLOGO MADRIGAL


A Madrugada convidou-me hoje para ser sua companheira, aceitei mediante a obrigação de refletir sobre os pequenos prazeres da vida. Passei então a pensar sobre tudo àquilo que me era prazeroso e me deixava feliz. Conforme íamos nos consumindo, perante a Lua que acendida nos olhava, quieta e muda, eu enumerava meus amores, os bons e fiéis amigos, lembrei de cada um deles, os livros e poetas, as músicas e seus intérpretes, as delicadezas dos desconhecidos, as crianças nas suas entregas e desejos de aprenderem comigo e mais de uma centena de pequenas coisinhas, variadas e doces que me transformavam num ser feliz, sinceramente feliz.

Lá pelas tantas, quando o silêncio que minha companheira ainda me proporcionava, achei que esse pensamento era torto e vulgar, carregava consigo parte dos chavões sociais; que tudo era pura armação minha, aquelas tentativas que vez em quando fazemos de reanimar o espírito e a alma; mentirinhas inofensivas de estancar as angústias e tristezas, abafar os problemas, as carências e frustrações. A Lua caminhou mais um tanto para o horizonte, ainda permanecia calada, não sorria, nem balbuciava palpite sobre tudo aquilo que meu pensamento refletia nela.

A Madrugada me avisou que tinha que ir embora, e que era necessário que eu resolvesse logo meus raciocínios. O cheiro do rocio já anunciava a alvorada, clara e objetiva, imperatriz de um novo dia, cotidianamente igual aos outros tantos que já vivi, mas em mim algo era tenazmente diferente, caminharia agora em passos mais lentos e largos, capazes de absorverem o que era belo, bom e necessário; tinha agora a obrigação de enxergar apenas a Lua, inteirinha e todas as Madrugadas que inda estavam por vir, sorrindo, sempre sorrindo.

3 comentários:

Anna Gabriela disse...

Olá Marili, passei pra dizer que eu te admiro muito como pessoa e mais ainda, esse seu dom brilhante de se expressar através de lindas e bravas palavras que chega a nos emocionar!! Parabéns, seu blog está lindo e cheio de vida!!

beijos da sua filha postiça
Anna

Valsa Literária disse...

Filha linda, adorei seu comentário, meu querer-bem por você e por todos da sua família é imenso. É uma honra ter como minha leitora alguém como você!!!

Um beijo
Marili

Anônimo disse...

Li somente hoje e, contudo, não posso deixar de comentar como é bonito, real e cotidiano ... contemporâneo. Tivera eu lido antes, seria o mote dos dias a porvir e, como não li, resta-me agora olhar para a Lua e refletir no ócio de seu passeio, o ocaso.

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