sábado, 1 de outubro de 2011

O BOLO DA VIRGILINA


            Minha tia-avó contava essa história toda ás vezes que íamos a sua casa na ocasião de seu aniversário.  Certa manhã, uma de suas vizinhas, Dona Virgilina, comentou que faria uma pequena festinha em sua casa e gostaria que minha tia fosse com o marido. Feitos os devidos agradecimentos, combinaram datas e horário.

            No dia do aniversário, o casal rumou com os presentinhos singelos, flores e uma compota maravilhosa de geleia de rosas, especialidade da casa, e foram caminhando para o final da rua onde se encontrava a casa de Virgilina. Por estar muito silenciosa para um dia de festa, Tio Jota pensou ser a casa errada. Mas era ali mesmo. Foram recebidos com uma alegria imensurável e constrangedora.

            Já na mesa da cozinha, a festa era ali, foram servidos de quitutes deliciosos, e com o passar do tempo, perceberam que não havia mais ninguém, além dos três. Sim, o aniversário era composto somente por eles. Ao perceberem isso, nada disseram, conversaram, riram, contaram histórias e no final cantaram parabéns diante do bolo. Dona Virgilina ofereceu o primeiro pedaço para minha tia que ficou encantada, pois o bolo possuía cinco camadas coloridas, era alto, lindo e delicioso.

            Trocaram receitas, a vida seguiu, e Virgilina morreu solitária; os filhos vieram apenas vender a casa. Tia Val, então, jurou que a partir daquele dia, até o final de sua vida faria em seus aniversários o Bolo da Virgilina. E a promessa foi cumprida. Em todos os anos que me recordo de criança, quando eu comparecia nas festinhas dela, o bolo colorido estava por lá, altivo, personificado na amizade, na solidariedade e no carinho.

            Eu amava essa história, e em um dos meus aniversários, acredito que tenha sido dos treze anos, eu ganhei da Tia Val um bolo da Virgilina, igualmente lúdico e encantador. Não vou nunca mais comer esse Bolo, nem tentar fazê-lo, mesmo porque, não seria mais o mesmo; há certas coisas que pertencem ao seu próprio tempo e não nos cabe arrastá-las porque perderiam o encanto. Prefiro o gosto que ainda tenho registrados em minha memória das cores, do creme...

3 comentários:

Anônimo disse...

Demais de lindo.

julio disse...

Mas que novinha...

Valsa Literária disse...

É meu amigo o tempo passa, inclusive para mim....

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