CAPÍTULO
NONO
“Veio o desejo de agitar-me em alguma
cousa, com alguma cousa e por alguma cousa.”
A ideia agora parecia fresca, clara e fixa na mente de
Jonas. O velho arrematava os detalhes. Tal qual o emplasto de Brás Cubas, a
fixação, a decisão eram evidentes e suavizadas pelo desejo de se fazer alguma
coisa, de agitar-se com algo e era isso sim que ele faria. Pensou e repensou
tudo milimetricamente. Como faria? Precisaria falar com Freitas. Será?
Tão correto o Senhor Jonas Matos Silva, tão cumpridor das
estéticas, da moral e dos respeitos. Agora sabia que se entregaria aos seus
sonhos e desejos mais terrenos, mais despudorados e vergonhosos. E se quisessem
julgá-lo por isso, ele estaria aos montes para todos, porque era hora de
agitar-se na vida, para a vida.
Remoeu o melhor jeito de conversar com Freitas,
engatilhou os diálogos, na ordem precisa da argumentação afim de não deixar
nenhuma brecha. No final da tarde chamou o amigo para a tal conversa séria.
Explicou os detalhes, configurou as atitudes, implorou sua ajuda, articulou,
usou de malícia, da experiência e ao final era pura melancolia e choro, pedinte
criança.
– Jonas, amigo! Você tem
certeza? Quer mesmo isso?
– Parece-lhe tão absurdo?
– Imagine! Um senhor de
oitenta e cinco anos passar a noite em um bordel, covil, puteiro. Soa-lhe bem?
– Sim muito bem! Inda mais
quando esse é seu derradeiro desejo, sua última vontade, seu emplasto curativo,
chame como quiser... Se não me ajudar irei sozinho. Está decidido. Quero passar
a noite com várias mulheres, quero os seios em minha face, os perfumes...
– Acredita nesse lirismo
todo?
– Farei que seja: lírico,
romântico, pagarei por isso.
– Meu Deus!
– Ah! Tem mais!
– Preciso de uns remédios,
aquele que faz levantar defuntos!
– Aí já é demais. Não me
peça isso!
– É um sonho apenas...
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