terça-feira, 18 de setembro de 2012

UM SONHO APENAS


CAPÍTULO NONO

“Veio o desejo de agitar-me em alguma cousa, com alguma cousa e por alguma cousa.”

           

            A ideia agora parecia fresca, clara e fixa na mente de Jonas. O velho arrematava os detalhes. Tal qual o emplasto de Brás Cubas, a fixação, a decisão eram evidentes e suavizadas pelo desejo de se fazer alguma coisa, de agitar-se com algo e era isso sim que ele faria. Pensou e repensou tudo milimetricamente. Como faria? Precisaria falar com Freitas. Será?

            Tão correto o Senhor Jonas Matos Silva, tão cumpridor das estéticas, da moral e dos respeitos. Agora sabia que se entregaria aos seus sonhos e desejos mais terrenos, mais despudorados e vergonhosos. E se quisessem julgá-lo por isso, ele estaria aos montes para todos, porque era hora de agitar-se na vida, para a vida.

            Remoeu o melhor jeito de conversar com Freitas, engatilhou os diálogos, na ordem precisa da argumentação afim de não deixar nenhuma brecha. No final da tarde chamou o amigo para a tal conversa séria. Explicou os detalhes, configurou as atitudes, implorou sua ajuda, articulou, usou de malícia, da experiência e ao final era pura melancolia e choro, pedinte criança.

– Jonas, amigo! Você tem certeza? Quer mesmo isso?

– Parece-lhe tão absurdo?

– Imagine! Um senhor de oitenta e cinco anos passar a noite em um bordel, covil, puteiro. Soa-lhe bem?

– Sim muito bem! Inda mais quando esse é seu derradeiro desejo, sua última vontade, seu emplasto curativo, chame como quiser... Se não me ajudar irei sozinho. Está decidido. Quero passar a noite com várias mulheres, quero os seios em minha face, os perfumes...

– Acredita nesse lirismo todo?

– Farei que seja: lírico, romântico, pagarei por isso.

– Meu Deus!

– Ah! Tem mais!

– Preciso de uns remédios, aquele que faz levantar defuntos!

– Aí já é demais. Não me peça isso!

– É um sonho apenas...

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