CAPÍTULO
PRIMEIRO
A
velhice é o fim. Ela é o término de tudo, é o olhar para trás e saudosamente
abanar os braços dando adeus a tudo que você tem a tudo que fez e
principalmente ao que foi. Além dos guardados empoeirados valores, guarda-se a
lembrança, os desvios, os prazeres, as maldades e claro os amores se os
tivemos.
Senhor
Jonas tem oitenta e cinco anos, viúvo de duas mulheres, vista muito boa para a
idade; pernas fracas e emperradas; pai de dois filhos, quatro netos, e um
bisneto. Mora só, na pacata cidade de Borá. Filhos foram todos para capital, fugidos
da vida comum e banal. Atualmente apenas o telefone une essa família.
Na
última semana, Senhor Jonas não conseguiu mais ir para a praceta jogar dominó.
O fato inusitado deixou seu amigo mais próximo Freitas, preocupado. Foi ter com
ele satisfações do por quê.
– Homem o que aconteceu?
– Emperraram as malditas.
– Quem?
– Minhas pernas ora.
– Quer ver o doutor?
– Nem pensar, logo voltam, é
só esperar. Vou ler um pouco, isso ainda posso!
– Está certo disso?
– Pode ir sossegado, só me
faz o favor de pedir ao moleque para vir aqui, preciso de uns pães e café.
– Eu trago.
– Não quero ser estorvo, e,
além disso, o menino me ajuda, também há interesse nos trocados que lhe dou.
– Sentimos falta do
companheiro de jogo.
– Nem tanta, sempre há um
para ocupar nosso lugar.
– Está ranzinza, que mau
humor.
– Estou velho! Não
entenderia, tem quase doze anos a menos que eu, e nessa fase isso faz muita
diferença.
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