CAPÍTULO
SEXTO
Os sonhos nem sempre são de fato aquilo que desejamos,
mas muitas vezes, daquilo que precisamos. Naquele fim de manhã, o bom e correto
Jonas decidiu que seus devaneios careciam de mais análise, a velhice nos dá a
chance de gastar todo o tempo que ainda nos resta com o que queremos. Dá-nos
também o crédito de não fazer nada, nada mesmo, aposentadoria de tudo. Se
quisermos passar o dia a pensar, enfim.
Lembrou-se, então, de seus grandes porres. Foram tão
poucos que sabia descrevê-los com cuidado real. O primeiro quando entrou na
faculdade de Direito, o segundo quando sua primeira mulher Laura morreu, tão
precocemente, tão levada pelo acaso, enfim. Não bebia, não fumava, não tinha
nenhum vício, exceto o mau humor exagerado e a arrogância de sempre, talvez até
exigência da profissão.
Rememorou sua paternidade. Nenhuma queixa dos filhos.
Sabia que havia criado os dois para o mundo e foram. Disso ele bem sabia, e
nada lhe aborrecia vê-los somente nas datas festivas ou funerais. Falava
semanalmente por telefone com eles e isso bastava. Sentia falta, sim, mas nada
que o matasse. Do pequeno Pedrinho, esse sim, seu primeiro neto, não tinha
vergonha de admitir (apenas para si mesmo) que era o preferido, sentia muita
falta.
Recuperou seus amores. De fato amou duas vezes. A fogosa
Jandira, sua primeira namorada e Laura, mãe de seus filhos. Adelina,
coitadinha, essa não foi amor, pura conveniência; também não devia ter gostado
tanto assim dele. Amores suaves como a brisa. Sempre respeitou suas mulheres,
olhava para qualquer anca que se movesse, mas longe das esposas; trair nunca,
sua retidão de caráter jamais lhe permitiria isso. Olhar valia.
Depois desse apanhado rápido, que lhe custou á tarde
inteira, na velhice até os pensamentos vão lentos e tricotados, Jonas pensou no
sonho que tivera dia anterior. Não sentia mais incompreensão ou repulsa pelo
ocorrido. Voltou a ler, e nesse parágrafo sua cabeça começou a cultivar muitos
outros sonhos:
“A terceira força
que me chamava ao bulício era o gosto de luzir, e, sobretudo, a incapacidade de
viver só. A multidão atraía-me, o aplauso namorava-me. Se a ideia do emplasto
me tem aparecido nesse tempo, quem sabe? Não teria morrido logo e estaria
célebre. Mas o emplasto não veio. Veio o desejo de agitar-me em alguma cousa,
com alguma cousa e por alguma cousa.”
4 comentários:
Estou amando a história, poste mais !!
O que será que vai acontecer com o Jonas??
Parabéns meu deixou super curiosa!
Obrigada.
Não falta muito para você saber o que irá acontecer com ele.
Continue acompanhando.
Beijos
Desculpe escrevi errado, "me deixou curiosa"
continuarei acompanhando!
Beijos
Relaxa...
Bjs
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