sábado, 15 de setembro de 2012

UM SONHO APENAS


CAPÍTULO SEXTO

            Os sonhos nem sempre são de fato aquilo que desejamos, mas muitas vezes, daquilo que precisamos. Naquele fim de manhã, o bom e correto Jonas decidiu que seus devaneios careciam de mais análise, a velhice nos dá a chance de gastar todo o tempo que ainda nos resta com o que queremos. Dá-nos também o crédito de não fazer nada, nada mesmo, aposentadoria de tudo. Se quisermos passar o dia a pensar, enfim.

            Lembrou-se, então, de seus grandes porres. Foram tão poucos que sabia descrevê-los com cuidado real. O primeiro quando entrou na faculdade de Direito, o segundo quando sua primeira mulher Laura morreu, tão precocemente, tão levada pelo acaso, enfim. Não bebia, não fumava, não tinha nenhum vício, exceto o mau humor exagerado e a arrogância de sempre, talvez até exigência da profissão.

            Rememorou sua paternidade. Nenhuma queixa dos filhos. Sabia que havia criado os dois para o mundo e foram. Disso ele bem sabia, e nada lhe aborrecia vê-los somente nas datas festivas ou funerais. Falava semanalmente por telefone com eles e isso bastava. Sentia falta, sim, mas nada que o matasse. Do pequeno Pedrinho, esse sim, seu primeiro neto, não tinha vergonha de admitir (apenas para si mesmo) que era o preferido, sentia muita falta.

            Recuperou seus amores. De fato amou duas vezes. A fogosa Jandira, sua primeira namorada e Laura, mãe de seus filhos. Adelina, coitadinha, essa não foi amor, pura conveniência; também não devia ter gostado tanto assim dele. Amores suaves como a brisa. Sempre respeitou suas mulheres, olhava para qualquer anca que se movesse, mas longe das esposas; trair nunca, sua retidão de caráter jamais lhe permitiria isso. Olhar valia.

            Depois desse apanhado rápido, que lhe custou á tarde inteira, na velhice até os pensamentos vão lentos e tricotados, Jonas pensou no sonho que tivera dia anterior. Não sentia mais incompreensão ou repulsa pelo ocorrido. Voltou a ler, e nesse parágrafo sua cabeça começou a cultivar muitos outros sonhos:

            “A terceira força que me chamava ao bulício era o gosto de luzir, e, sobretudo, a incapacidade de viver só. A multidão atraía-me, o aplauso namorava-me. Se a ideia do emplasto me tem aparecido nesse tempo, quem sabe? Não teria morrido logo e estaria célebre. Mas o emplasto não veio. Veio o desejo de agitar-me em alguma cousa, com alguma cousa e por alguma cousa.”

           

 

4 comentários:

Anônimo disse...

Estou amando a história, poste mais !!

O que será que vai acontecer com o Jonas??

Parabéns meu deixou super curiosa!

Valsa Literária disse...

Obrigada.

Não falta muito para você saber o que irá acontecer com ele.
Continue acompanhando.
Beijos

Anônimo disse...

Desculpe escrevi errado, "me deixou curiosa"

continuarei acompanhando!

Beijos

Valsa Literária disse...

Relaxa...
Bjs

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