CAPÍTULO QUARTO
O problema de quando se faz uma retrospectiva de tudo que
se viveu, não é recordar bons ou maus momentos, é justamente pensar naquilo que
não foi feito. As lembranças de menino eram mais fortes agora do que há vinte
anos. Lembrou-se do dia em que os garotos foram matar aula para nadar no
riachinho e viram a Dona Cândida nua. Ele não foi e não viu. Quantas situações
deixou de ver e sentir por ser assim? O bom velho agora remoía os sentimentos
em nós, encruzilhados, atados pela angústia que nunca havia um dia sentido.
A imagem dos peitos em seu rosto causou novo calafrio, o
cheiro da moça que rumava em sua direção parecia estar ali, ao seu lado.
Começou a suar frio, sentado esticou as pernas e sentiu uma dor absurda. Os
músculos, gastos pelos tantos andares e caminhares de mais de oitenta anos,
estavam agora tesos e doloridos. Fechou os olhos e respirou fundo. “Que sonho
foi esse?”
– O troco é meu?
– Será que é possível avisar
quando estiver entrando?
– Sempre entrei assim, o
senhor é que mandou.
– Me assustou, guri.
– Ah! Estava dormindo e
sonhando de novo...
– Ponha as coisas lá na mesa
da cozinha e obrigado.
– Quer que venha a Nicinha
para fazer o café e os pães?
– Não obrigado, eu mesmo me
arranjo hoje, quero estar sozinho.
– Está se sentindo bem, Seu
Jonas?
– Estou garoto, vá, ande, e
obrigado. Amanhã lhe chamo...
– Está bem...
– Garoto!
– Sim senhor.
– Pede ao Freitas para
passar aqui amanhã cedo, mas só amanhã, está certo?
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