quinta-feira, 13 de setembro de 2012

UM SONHO APENAS


            CAPÍTULO QUARTO

            O problema de quando se faz uma retrospectiva de tudo que se viveu, não é recordar bons ou maus momentos, é justamente pensar naquilo que não foi feito. As lembranças de menino eram mais fortes agora do que há vinte anos. Lembrou-se do dia em que os garotos foram matar aula para nadar no riachinho e viram a Dona Cândida nua. Ele não foi e não viu. Quantas situações deixou de ver e sentir por ser assim? O bom velho agora remoía os sentimentos em nós, encruzilhados, atados pela angústia que nunca havia um dia sentido.

            A imagem dos peitos em seu rosto causou novo calafrio, o cheiro da moça que rumava em sua direção parecia estar ali, ao seu lado. Começou a suar frio, sentado esticou as pernas e sentiu uma dor absurda. Os músculos, gastos pelos tantos andares e caminhares de mais de oitenta anos, estavam agora tesos e doloridos. Fechou os olhos e respirou fundo. “Que sonho foi esse?”     

– O troco é meu?

– Será que é possível avisar quando estiver entrando?

– Sempre entrei assim, o senhor é que mandou.

– Me assustou, guri.

– Ah! Estava dormindo e sonhando de novo...

– Ponha as coisas lá na mesa da cozinha e obrigado.

– Quer que venha a Nicinha para fazer o café e os pães?

– Não obrigado, eu mesmo me arranjo hoje, quero estar sozinho.

– Está se sentindo bem, Seu Jonas?

– Estou garoto, vá, ande, e obrigado. Amanhã lhe chamo...

– Está bem...

– Garoto!

– Sim senhor.

– Pede ao Freitas para passar aqui amanhã cedo, mas só amanhã, está certo?

 

 

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