sábado, 16 de novembro de 2013

ACALANTO


Era bem cedo quando a velha senhora separava as gemas das claras, uma a uma, jogando na vasilha de ágata as preciosas, amarelos-ouro. Ao todo eram doze somente gemas. Arrastava as chinelas para cá e para lá, em movimentos deslizantes do chão recém-encerado. Pegou o vidro e mediu no prato fundo de sempre, do açúcar mais grosso, quase cristal, ajeitando as bordas com o dorso da colher de pau. Começou a bater as gemas com o açúcar primeiro lentamente, enquanto assoviava baixinho qualquer canção, depois o fremir era intenso; a melodia acompanhava agora os movimentos rápidos que nem a velhice havia ainda levado. Com a mão desocupada apanhava bocados de farinha de trigo que eram salpicados à mistura e assim, a massa ganhava o corpo que a boa e solitária mulher queria. O ponto era o mesmo de quarenta anos, nem um grama a mais nem um a menos de trigo. Chegou. A tábua longa disposta sobre a mesa esperava a mistura pronta para ser esticada, na espessura ideal e em seguida, ser cortada pela carretilha. Untou com manteiga bem gorda. Os sequilhos agora prontos descansariam o tempo certo de ela limpar o pouco que sujou. As pernas doíam demais e a saudade também.  Sentada. Vigiava. Há que se vigiar, pois assam muito rápido. O cheiro era doce e terno. Colocou a segunda fornada.

Ouviu o chamado lá de longe, eram os netos, eram os netos.

Um comentário:

Anônimo disse...






Seu texto é mesmo um acalanto....

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