Era bem
cedo quando a velha senhora separava as gemas das claras, uma a uma, jogando na
vasilha de ágata as preciosas, amarelos-ouro. Ao todo eram doze somente gemas. Arrastava
as chinelas para cá e para lá, em movimentos deslizantes do chão recém-encerado.
Pegou o vidro e mediu no prato fundo de sempre, do açúcar mais grosso, quase
cristal, ajeitando as bordas com o dorso da colher de pau. Começou a bater as
gemas com o açúcar primeiro lentamente, enquanto assoviava baixinho qualquer
canção, depois o fremir era intenso; a melodia acompanhava agora os movimentos rápidos
que nem a velhice havia ainda levado. Com a mão desocupada apanhava bocados de
farinha de trigo que eram salpicados à mistura e assim, a massa ganhava o corpo
que a boa e solitária mulher queria. O ponto era o mesmo de quarenta anos, nem
um grama a mais nem um a menos de trigo. Chegou. A tábua longa disposta sobre a
mesa esperava a mistura pronta para ser esticada, na espessura ideal e em
seguida, ser cortada pela carretilha. Untou com manteiga bem gorda. Os sequilhos
agora prontos descansariam o tempo certo de ela limpar o pouco que sujou. As pernas
doíam demais e a saudade também. Sentada.
Vigiava. Há que se vigiar, pois assam muito rápido. O cheiro era doce e terno. Colocou
a segunda fornada.
Ouviu
o chamado lá de longe, eram os netos, eram os netos.
Um comentário:
Seu texto é mesmo um acalanto....
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