Capítulo 8
Acordou
do sonho bom que há tanto tempo não lhe faziam as noites mal dormidas. Sabia
apenas que era bom porque o coração lhe dizia isso, mas não se lembrava de
parte alguma. Fez o café em silêncio e tentou coordenar as ideias para ter a
certeza de que continuaria com tudo que havia determinado para si mesma de que
faria. Sim. Fez o café e esquentou o leite. Fez mais barulho que o normal e o
homem acordou.
Joana
esperou que reclamasse e assim que o marido botou cara na sua, disse que estava
grávida. Não estava. Disse segunda vez ao marido que estava grávida, que
finalmente ele seria pai, disse que ainda era começo, que não sangrava havia
pouco tempo. O marido perguntou se ela estava certa e se estava passando bem.
Ela respondeu que sim e que não, enjoava. Disse tudo isso com tanta certeza que
a mentira virou quase verdade na palavra da mulher. O marido abriu a boca e ia
dizer qualquer coisa. Apenas chorou, jurou, chorou, jurou que não batia mais em
nem um fio do cabelo dela, e chorou. Nem viu que a mulher já havia saído para o
trabalho.
Sacolejando
no ônibus os pensamentos de Joana iam ao infinito. Sentia uma combinação
estranha de euforia e tristeza sem entender ao certo aonde tudo isso a levaria.
Só conseguia lembrar-se de que não apanharia mais e essa era toda a certeza que
tinha tal qual a mesma certeza, que se não passar o pano seco sobre o
lustra-móveis a madeira não fica brilhando. O tempo era mais largo e
esperançoso. Era isso: o tempo havia lhe emprestado a possibilidade de um
amanhã.
No
almoço comeu tanto que não conseguia espanar nenhum lustre. A colega de serviço
perguntou se estava bem e ela disse que não porque tinha comido demais. Nessa
noite antes do marido chegar, a mulher comeu em casa tudo que havia. Esperou o
marido chegar para vomitar na sala, quase aos pés dele, que ao invés de bravo,
achou graça no vômito. Ela disse que limpava, ele disse que fosse descansar,
que ele mesmo limpava. Disse que o filho era só dele e dos brabos igual ao pai.
Não apanhou a Joana mais, apenas sonhou com um menino que nem existia, porém
com uma cara igual a dela.
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