Capítulo 9
A
estradinha de terra ainda cheirava o úmido orvalho da noite anterior. Antônio
ia por ela mais pensativo que de costume, pois a visita do filho, a imagem das
folhas secas e todos os acontecimentos últimos, haviam tomado uma forma
estranha em sua cabeça. Forma de nuvem
em pequenas bolas, que ora dispersavam, ora eram para chuva.
Na
cancela, que abria e fechava, um hóspede puxou certa conversa enquanto tentava
um entrosamento com o cão bege. Perguntou se sempre morou na região, se tinha
filhos, se o cão tinha nome. Investigou o que queria e se foi. Mas o estopim
daquela conversa não foram as perguntas sabatinadas feitas ao homem da cancela
e sim, como Antônio se sentiu ao respondê-las. Se antes sua cabeça girava em
turbilhões, agora eram imensas tempestades de dúvidas, desejos, e vontades
estranhas.
Desejou
ter sido jardineiro, e relembrou todas as plantinhas que haviam sido enterradas
no quintal de sua casa. A mãe chegava com a muda no saco preto e entregava para
o menino, que já não era mais ele, o moleque tirava com o maior cuidado, porque
havia aprendido com a mãe essa delicadeza do plantio, arranhava os dedos na
terra e fazia o buraco. Guardava a raiz lá dentro e ajeitava a terra ao lado,
em montinhos. Sentava ao lado e ficava olhando para a mudinha verde e quieta.
Ficava a manhã toda ali, até o pai chegar com um safanão a lhe pedir que
fizesse alguma coisa ao invés de ficar ali plantado.
Na
volta, pela mesma estrada de tantos anos, de imensas idas e vindas, de tanta
poeira levantada o homem sentiu uma profunda e irrefutável sensação de mudança.
Como se quisesse trafegar em novas terras e caminhar por outros rumos. Plantar
novas mudas. E assim, desses rompantes é que surgem as ações que nos levam para
lá ou para cá. São essas dúvidas somadas às angústias da alma que nos fazem
agir. Não estava ainda bem certo o que o homem faria, porém alguma coisa ia
mudar. O cão bege vinha ao seu lado no mesmo compasso de sempre.
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