terça-feira, 16 de julho de 2013

UM CONTO ESTRANHO


 Parte 2

Naquela manhã aparava a barba como o costume lhe mandara fazer, com a pequena tesourinha em punho, tirava pequenas lascas dos pelos grisalhos, que caiam sobre o pano metodicamente aberto na pia. Olhava para o seu rosto envelhecido e pensava no transcorrer da sua vida. Não era homem de se revoltar, sua alma era a mãe da resignação, aceitava as coisas, as pessoas, a vida, como aceitava o dia virar noite; os fios ora brancos ora pretos salpicavam o lenço branco junto com uma pequena gota de sangue “que merda!”.

O homem olhava assustado para a imagem do espelho, não pelo corte feito, que era pequeno demais para alguém dar-lhe algum valor, mas seu estupefato olhar era da frase que sua boca havia proferido; não era homem de dizer vilezas, não era homem de falar mal por pouco, nem por muito havia perdido sua linha; nada disso era o que lhe tinha causado o pavor, a voz que lhe saíra da boca não parecia ser sua, aterrorizado não sabia o que fazer, baixou os olhos para tirá-los do espelho e sussurrou baixinho o seu nome, queria escutar-se.

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