quinta-feira, 18 de julho de 2013

UM CONTO ESTRANHO


Parte 4

Como diria o ditado: a boca fala e... ele quem paga; ficou Bastos a ouvir o sinal intermitente da ligação interrompida. Passou sua voz então a praguejar as mais absurdas frases, resmungava, contava, lembrava, cantava, assobiava, discursava, orava, discutia, papeava e dialogava consigo mesmo. “Eu penso, eu opino, digo, juro, minto e menciono”. Estava em um estado absolutamente esfuziante, como se sua garganta, ora dantes travada, tivesse desatarraxado num mar de arquixilemas e arquifonemas.

Se a voz dominara o homem ou se ambos haviam se fundido em um só não é coisa para se pensar nesse momento da narrativa porque nada de filosófico há na mudança e o que se é relevante dizer são os fatos, os fios condutores das ações; o caso é que o senhor Bastos estava mudado e nem mesmo sabia onde tudo isso tinha começado, acostumara-se com a nova maneira que a vida lhe impusera com a mesma brandura que se habituara a barbas; agora era ser que cuspia fogo, deixava marca por onde passasse, rasgava todos os verbos, espantava os bichos, encantava e desencantava.

 

 

Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...