quinta-feira, 22 de setembro de 2011

RÉQUIEM PARA JOSÉ SARAMAGO


Faz pouco mais de um ano que meu escritor preferido morreu. Lembro-me de que no dia de sua morte, um amigo mandou por celular a seguinte mensagem: “Nosso Saramago morreu!”. Li a mensagem e comecei a chorar. Nunca tinha chorado por alguém assim tão distante de mim enquanto pessoa conhecida, mas chorava pela proximidade que sua obra enquanto escritor havia produzido na minha alma.

Nessa época, de sua partida, eu tinha acabado de ler um de seus últimos escritos A Viagem do Elefante e mais do que nunca minha certeza era imensa em reconhecer o senhor de Lanzarote como o meu eterno escriba; suas singelezas, seu paroxismo, sua perplexidade diante das tamanhas injustiças do homem, esse homem cruel e ruim que além de tudo produziu um Deus.

Sim, José era ateu convicto, para ele “Deus é o silêncio do universo e o ser humano, o grito que dá sentido a esse silêncio”.  E prosseguia em mais críticas, adocicadas de ironias ao proferir: “Há quem me negue o direito de falar de Deus, porque nele não creio. E digo que tenho todo o direito do mundo. Quero falar de Deus porque é um problema que afeta toda a humanidade. Não sou implacável com ele, mas com a espécie humana, que inventou o Senhor”.

Mas, não era esse Senhor Saramago, crítico e ranzinza pelo qual me apaixonei por completo. Entreguei-me ao outro José, àquele das ilhas desconhecidas, das intermitências, dos ensaios, dos homens duplicados, enfim das pequenas memórias. Certa vez perguntaram-me, estupidamente, e claro nem me lembro de quem era a pergunta infeliz, como que uma professora de Língua Portuguesa gostava de um escritor que não usava corretamente as pontuações, respondi: Leia Saramago e depois nós conversamos sobre isso, às favas com as pontuações!

A minha profunda tristeza gira obviamente em torno de sua morte sim, porém muito mais, refere-se a minha impossibilidade de nunca poder ler aquilo que José Saramago não teve tempo de escrever. Vou ler novamente cada linha dos antigos, como se fossem novos e inéditos para mim, quem sabe minha saudade por ele diminui... “Não é ilusão do escritor que, ao concluir sua leitura, alguém alce voo e continue a expandir a constelação que viu impressa.”

Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...