terça-feira, 29 de novembro de 2016

URDIDURAS- Um conto inacabado

Capítulo 5
Acordou assustada e com medo, pensou que estava apanhando, mas não o homem continuava imóvel no sofá, olhou devagar e desejou que não respirasse, mas a coberta caiu e mais que depressa ela passou a mão nas coisas e rumou para o trabalho. Nesse dia chegou cinco para as sete. E pensou que hoje era dia de lustrar as escadas e isso lhe daria muito trabalho. A outra mulher da faxina que a chamava de amiga perguntou se ela estava melhor da queda e das dores no olho. E ela disse que sim e que sim.
Durante a faxina da escada a mulher teve uma ideia tão estranha que não conseguia mais lustrar um corrimão sequer. Quando uma boa ideia surge, que parece boa mesmo, os miolos ficam a todo vapor e parece que o corpo não responde, e a ideia fica balançando feito uma bola na frente da cesta, girando para cair, piscando em alerta para que não se perca nenhum fragmento dela. Joana. Ouviu seu nome ao longe. Fazia tempo que não ouvia nome seu pronunciado. A amiga da faxina perguntou se ela estava bem, pois ia caindo da escada novamente, e aquela mentira do passado quase vira verdade no presente.
Não conseguiu responder Joana. Abanou as mãos em sinais de que estava tudo certo. Foi para o almoço e pediu arroz e feijão, porque por mais que hoje fosse um dia para se comemorar, já havia gastado metade de seus vales e era preciso esperar mais de metade do mês. Enquanto comia, remoia ideia junto. Engolia ideia boa a cada gole, a cada garfada. Não sentia prazer havia tanto tempo que aquela sensação deixou-lhe confusa e constrangida.
Ficou toda tarde em devaneios. Aquilo tudo era imenso e assustador, porém parecia a coisa certa a se fazer. Na saída pensou em como faria para levar sua ideia adiante. Pensou em cada detalhe. Parou na praça e ficou em tamanho êxtase que não conseguia se conter. Por que não havia pensado nisso antes? As perguntas e conclusões ela não tinha. Só tinha certeza de que faria isso mesmo e que era a coisa certa a se fazer. Não sabia traçar em sua cabeça os motivos e talvez naquele momento nada disso importava mais.
Naquela noite apanhou um pouco. Levou dois socos, um no estômago e o outro pegou no braço. Mas ela estava tão ausente que o homem estranhou de bater em uma mulher que tinha o olhar diferente do que ele acostumado estava e não sabia como avaliar, não sabia o que fazer. O bater parou. O homem ficou tão confuso que decidiu ir dormir. A mulher também decidiu ir dormir, só que naquela noite ela conseguiu sonhar, ainda bem.


Nenhum comentário:

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...