O
garoto estava sentado no quebra-mar do Porto de Barra dos Coqueiros. Os pés
balançavam ao vento que soprava agora do mar para a terra. Atirava o olhar para
as embarcações que reluziam seus contornos nas águas salgadas ora onduladas. Uma
sensação de tranquilidade lhe vinha ao corpo toda a vez que ali sentava; quando
tinha pensamentos ruins, quando eram bons e esperançosos, quando queriam
escapar-lhes da mente, enfim, esse era o seu lugar no mundo.
Poucas
vezes ganhava uns trocados por ali, dos marujos e fiscais da receita. Mas seu
sonho mesmo era entrar num daqueles cargueiros e com olhar de pedinte ficava
ali postado quando algum atracava. Sem coragem de pedir, apenas insinuava, mas
na vida as pessoas fingem que não entendem as indiretas, porque para elas é
mais cômodo assim o fazerem.
Naquela
tarde de fim do dia, um imenso navio espanhol havia atracado por ali, o menino
correu para ver a lindeza que era. Observava atento para os guindastes que iam
e vinham, descendo os contêineres carregados de sei lá o quê. Muitas vezes era
enxotado dali, porém dava um jeito de se esconder, sempre queria ver o capitão
que trazia barbas, sim, quase todos tinham barbas espessas e uma cara de
felicidade estampada.
Estava
nessa espera quando o homem desceu; em seu olhar carregava o peso da
responsabilidade e conferia se a carga estava sendo retirada corretamente. O moleque
fixou o olhar no altivo sujeito que imediatamente virou e sorriu por estar
sendo também vigiado. O guri arregalou os dentes e sorriu. O capitão acenou
para que ele viesse.
O homem
de barbas grisalhas não disse palavra. Pegou na mão do menino que a estendeu
sem saber motivo e caminhando, calados, subiram as escadas do navio, percorreram convés, ponte e
chegaram à torre, desceram ao porão, passaram pela casa das máquinas e
culminaram na cabine.
Lá o menino recebeu o quepe na cabeça e ficou rindo com barbas imaginárias; depois foi devidamente autorizado a
tocar o apito da embarcação que soou aos sete mares e aos ventos de Sergipe.
Um comentário:
Que bela crônica!
Postar um comentário