quarta-feira, 6 de maio de 2015

O JARDIM DE GILDA


A mulher cavouca a terra, já adubada pelo melhor resto de coisas que há, com as mãos e unhas que agora já trazem a escuridão fértil, impregnadas. Nesse mesmo instante ela conversa com as pequeninas rosas coloridas que demoravam a nascer, perguntando às mesmas se não tinham inveja das roseiras já adultas. Nisso tudo reside um bocado de poesia, porque em Gilda e em seu jardim cabem muito mais que flores e frutos. Nisso existe uma bondade absurda, porque em suas verdes e doces esperanças, há em Gilda o toque do sonho e da simplicidade de se viver. Entre outra olhada, as orquídeas lhe sorriem abertas e reluzentes. Na briga com a jabuticabeira que carecia de poda em uns dos galhos, a mulher explica para árvore que há de se cortar para crescer, ela sabe bem que a próxima florada será intensa, antes dos frutos negros dependurados no tronco adocicarem sua alma. O jardim de Gilda guarda muito mais que beleza, guarda, ela mesma.

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POEMETO COM MOTE

Mote: Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos.  (Saramago em As pequenas memórias)  Qual alma não vacila? Oscila.....