domingo, 29 de dezembro de 2024

CRÔNICA DO GESTO

 

O homem levanta os braços para o alto, com as mãos espalmadas, trêmulas e pede “calma”. A massa de trabalhadores ruidosa e raivosa, olha para ele. O burburinho continua de uma ponta a outra; no grupo de pessoas, umas insatisfeitas e outras esperançosas, a falação é intensa. Ele grita novamente pedindo muita calma, olho no olho, o homem sabe que precisa controlar a situação; ele faz silêncio e olha novamente no olho de cada trabalhador que veio até o sindicato para ouvi-lo.... Silêncio... agora o homem pode falar!

Na volta do trabalho a faxineira, cansada da labuta de limpar, de secar o gelo diário, se depara com a sacola que se mexia num barulho de choro. Sem hesitar, porque o pobre não tem tempo para isso, abre e vê a ninhada de pequenos cachorros abandonados. Não sendo mulher de abandonar ninguém, a senhora sai pela comunidade tentando achar novos donos, pois ela já tem os seus vários bichos e pensa por um rápido momento “que essa gente é ruim demais”.

O rapaz vem pensando que sua namorada estava muito triste, triste mesmo de dar dó; sem conseguir mais uma vez entrar na tão sonhada faculdade, ela teria mais um ano inteiro pela frente. Sem saber o que dizer, o sofrimento dele no vagão do metrô também era de dar pena. “O que vou dizer para ela”, repetidamente ele divagava. Uma menina para do lado dele e diz para ele comprar um brigadeiro, “compra, por favor”, ela insiste que o brigadeiro que ela faz, traz muita alegria para quem come. O rapaz compra os brigadeiros, ele entrega o brigadeiro para sua namorada, e o dia segue mais feliz.

A escritora pensa em como pode escrever sobre os pequenos gestos humanos, aqueles que nos trazem acalanto ou destruição, afáveis ou ignóbeis. Lembrou de como cada gesto, acompanhado ou não de palavra, de ação, modifica a história toda, numa avalanche sem volta. A mulher lembrou do livro que havia ganhado quando ainda criança. Exatos seis anos; ganhou o livro com dedicatória linda, mas lembrou que esse gesto ficara lá traz, junto com a criança que ainda não entendia nada de gestos largos e lindos, porque só pensava em crescer. 

A História dos Nossos Gestos, por Cascudo: “Os Gestos são moedinhas de circulação indispensável e diária, mas ignoramos sua emissão no Tempo.  A crônica, segue para o amigo Mendes.

 

 

 

 

sábado, 28 de dezembro de 2024

terça-feira, 17 de dezembro de 2024

POEMA DO VAZIO

 

QUERIA PODER ESCREVER

ALGO QUE TE TROUXESSE DE VOLTA

COMO UMA ESPÉCIE DE ACALANTO

QUERIA PODER DIZER: PRUUUUU

 

QUERIA PODER ENTENDER

ESSE VAZIO QUE SINTO AGORA

QUEM SABE COMO O MEU PRANTO

ARREBENTA OS MUROS DO INFINITO

 

AS TANTAS FITAS DA SAUDADE

ESTÃO EM MIM

 

QUERIA MUITO UM POEMA

QUE TE ACHASSE POR AÍ, PERDIDA

COMO UMA ESPÉCIE DE SOPRO: PRUUUU

E TE FIZESSE PULAR DE NOVO

 

AS IMENSAS FITAS DA SAUDADE

FICARÃO EM MIM

 

QUERIA DEMAIS UM SONHO

QUERIA TANTO PODER ESCREVER

QUERIA MUITO UM POEMA, MIU ...

 

AS TANTAS, AS IMENSAS, AS COLORIDAS FITAS

TE LEVARAM PRO CÉU

EM MIM, O VAZIO.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2024

CRÔNICA TÃO PEQUENA QUE DÁ DÓ

                 Ia começar esta crônica com o título de "croniquinha" e lembrei na mesma hora que odeio diminutivos. E sem pestanejar, tentei puxar na minha memória o motivo pelo qual eu odiava palavras no diminutivo, porque bem sabemos que odiar, é algo muito forte, talvez eu não goste muito de usar. E nessas indas e vindas de pensamentos, parei de pensar neste motivo primeiro, para pensar que sempre tenho sentimentos muito fortes. Tudo em mim transita na esfera do exagero e da oposição, amo demais, odeio demais, trabalho muito ou procastino muito, escrevo exageradamente ou passo meses sem escrever, e por aí vai... E, ainda pensativa, nas coisas, matutei em qual seria o motivo de eu ser exagerada, e também lembrei que sou demasiadamente ansiosa, e não tenho equilíbrio algum e por aí vai também..., e quando dei por mim, a "croniquinha", aquela singela, pensada em ser escrita para hoje, aquela de dar dó, de desanuviar meus pensamentos, minhas angústias e meus cansaços. 

Basta. 

               Numa manhã que não vem ao caso, a moça pensou que seu destino era conhecer alguém que lhe afagasse o coração. Ficar sozinha não era mais uma opção, chega um momento da vida que precisamos cuidar de alguém, é quase que instintivo, necessário mesmo. Assim, ela titubeou, porém, estava certa do ofício. Chegou ao lugar na hora combinada; o rapaz a recebeu com um enorme sorriso e perguntou se ela estava nervosa, e que era assim mesmo, que as pessoas ficavam desse jeito igual ao dela quando faziam isso, mas que a decisão dela era algo lindo de se ver "falta gentileza no mundo". Abriu a porta com cuidado. A moça parada na entrada da porta se esquivou, virou, deu meia volta, virou de novo. Olhou. "Posso abrir a portinhola?" Ela sorriu nervosamente. O rapaz abriu a portinhola e de lá vários gatinhos saíram. A moça riu, nervosa, sem se mexer, ali ficou. Dos vários, teve um que era o seu amor, é sempre assim. O gatinho rajado de laranja e branco deitou no seu pé. Olhou para moça e miou como quem diz "me leva". "Esse gostou de você", o rapaz pegou na mão o gato minúsculo e entregou para ela que ajeitou no colo o pequeno felino. A moça sorriu... o gato sorriu... 

 

Em tempo...talvez eu não goste de diminuir as coisas, falta muita gentileza nesse mundo.

QUADRINHA DA CIDADE ALAGADA

O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU DE TANTA VERGONHA FALHOU DE TAMANHO DESCASO RUIU BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!