domingo, 9 de fevereiro de 2014

A MENINA DA ERA AQUÁRIO


Antes mesmo de nascer já estava escrito, porque Urano e Saturno definiram isso, que a menina seria do signo de aquário. Ao nascer seu mapa astral traçava um destino certo e suas características já eram bem definidas, seria ela excêntrica muito introspectiva, e estaria anos-luz de qualquer outro ser de signos inferiores, diria sua avó paterna. Ganhou patuá da tia, terço da bisa e santinho de batizado dos avós que faziam muita questão.

E a garotinha cresceu sob a influência dos astros, das cartas e cercada por todo misticismo que eram marcas, quase um brasão, da sua família. Do lado materno, as rezas constantes e seu anjo da guarda eram sempre evocados; foi levada na melhor benzedeira da região para curar sua asma crônica, e teve seu corpo esfregado por folhas de louro e arruda.

E assim com tanta proteção, a menina chegou aos dez anos, com sua asma quase curada, saudável, boa e seriamente muito introspectiva, como boa aquariana que era. Não era criança, porque os aquarianos são muito sérios para isso, era uma pensadora nata. Lia seu horóscopo todo dia, rezava pelas tardes porque era hábito e para garantir repetia com sua avó os pedidos ao anjo da guarda, na hora certa que era para não dar muito trabalho ao moço.

Contudo, ela pensava muito em tudo isso. E com o tempo veio a dúvida. 


Assim, aos doze anos a outrora menina, agora adolescente, nas bases de suas características de eloquência, de pensadora do mundo, pensou que talvez tudo aquilo já não lhe bastava, e que, seguindo seus raciocínios lógicos e previsíveis, toda aquela falação era uma grande bobagem. Quando soube que Newton estabeleceu, através dos estudos da mecânica celeste a regularidade e previsão dos movimentos dos planetas no céu, pensou que a astrologia era inaceitável.

No Natal daquele ano, para choque geral da família, a tia-avó quase desmaiou, ainda bem que a bisa já havia morrido para não escutar isso, a avó pensou em deserdá-la (o colar da Nossa Senhora iria para outra neta) a garota declarou que não acreditava em Deus, que astrologia era a maior babaquice, sem método científico algum, que anjos eram bonitinhos assim como duendes, fruto da nossa imaginação, e que agradecia toda a suposta proteção e orações desferidas a ela durante esse tempo todo, que bem ela sabia eram de coração, bem intencionadas pela fé, mas que a partir de agora ela dispensava tudo isso.

 No canto da sala, o tio quieto, bem quieto, ria baixinho...

 

 

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