O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU
DE TANTA VERGONHA FALHOU
DE TAMANHO DESCASO RUIU
BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!
O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU
DE TANTA VERGONHA FALHOU
DE TAMANHO DESCASO RUIU
BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!
Mote: A história acabou, não haverá nada mais que contar. (Saramago, em Caim)
No bar, o homem embriagado, narra a história da sua vida para o garçom, que muito pouco ou quase nada interessado, escuta apenas, na intenção de vender mais cervejas.
Imobilizada
Ainda trabalho
Muda a regra
Ainda trabalho
Paga pedágio
Ainda trabalho
Deixo o vislumbre
Ainda trabalho
É o fim
Sem atalho
Que nada...
Mais uns anos de tortura
Sem atalho
É o fim
Ainda trabalho
Deixo o vislumbre
Ainda trabalho
Paga pedágio
Ainda trabalho
Muda a regra
Ainda trabalho
Imobilizada
É possível
parcelar as mágoas em suaves prestações? De preferência sem juros, porque
ninguém merece juros disto. Já tive que inutilizar minhas ações, então, por que
tenho que ainda pagar por isso tudo? Por favor, parcele. Parcele essa dívida
comigo mesmo, para que eu possa entender tamanho boicote social, para que eu
possa compreender o motivo pelo qual as pessoas te excluem, se excluem, me
excluem. Fui um mau garoto? Somos boas garotas? A quem os olhos viram ações errôneas?
Minhas opiniões problemáticas te tiraram
da zona de conforto, ou me colocaram na cova? Meu comportamento foi inadequado
ou você se viu no espelho?
É possível
parcelar as mágoas em pequenas prestações? Por favor, parcele minha angústia em
prestações para vida toda, para que eu tenha tempo de pagar essa dívida moral
comigo mesmo; para que eu possa acertar esse déficit a longo prazo e perdoar a
minha inadimplência com esse ser humano que é desprezível, que faz julgar e
sofrer tão facilmente. Por acaso todo esse descaso se deve ao fato de que não é
possível aceitar o que outro diz? Tem coisa que é inafiançável: a fome é
inafiançável, a morte, a pobreza. Não cabe aceitação. Você por acaso já sentiu
alguma coisa dessas? Se sim, então, parcele, por gentileza.
Não.
É possível
providenciar o cancelamento das minhas mágoas? É que o comprador se enganou na
compra, o produto veio com atraso e foi entregue em desacordo com o anunciado. Cancele, por
gentileza!
No vagão do trem lotado,
dois olhares se cruzam.
Dos olhares ali de todos,
esses,
eram os únicos
que se dispunham ao amor.
Era para ser um texto qualquer,
um poema, algo que mostrasse a que veio. O texto escrito inaugural, o introito
anual. O primeiro do ano, o primogênito, aquele que abre-alas para o restante
vir, não importa em que condições. Tudo que começa tem que ser único,
ohhhhhhhhh, porque se espera isso do começo, do empeço, porque se quer isso dos
inícios; era para ser original, isso original, algo nunca visto, algo nunca
escrito. Não veio. Passei os dias tentando escrever o poema, a crônica inicial,
o haicai do ano matemático de 2025, o romance que nunca existirá. Ninguém veio.
Nem a inspiração, nem a ideia, nem a chuva americanizada de brainstorming, nem
uma palavra sequer. Nada.
Assim como na vida, nada é o
original, assim, por aqui também não tem como ser.
O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU DE TANTA VERGONHA FALHOU DE TAMANHO DESCASO RUIU BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!