Mote: Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos.
(Saramago em As pequenas memórias)
Qual alma não vacila?
Oscila...
Qual alma caminha?
Minha alma hesitante
manca
alma capenga
caminha, caminha, caminha
Solitária!
Mote: Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos.
(Saramago em As pequenas memórias)
Qual alma não vacila?
Oscila...
Qual alma caminha?
Minha alma hesitante
manca
alma capenga
caminha, caminha, caminha
Solitária!
Por dois amores infinitos passa uma única reta paralela.
Por um ponto de vista, passa uma única reta paralela,
chamada de opinião.
Faz tempo que não tenho tido tempo para escrever. Li hoje uma frase de um amigo em seu Blog: “Sempre que penso em parar de escrever, depois de alguns dias volto atrás e venho aqui burilar alguma coisa do que vai em minh'alma. " (*)
Li a frase e pensei que tinha que escrever sobre alguma coisa, pois, a necessidade de se dizer algumas coisas, de burilar algo, assim como o amigo disse, que tenho dentro de mim, estava acumulada por muitos meses. Não tenho tido tempo. Saudade.
Escrever hoje é muito
necessário! Não para que alguém leia, mas porque preciso que essas coisas saiam
de mim. Eu penso demais em tudo. Tudo em mim sai exagerado, eu rio demais,
choro demais, observo muito e acredito que todas essas emoções uma
hora tem que transbordar e se firmar em algo escrito. Dito isso, ou dito quase isto, não
sei se vou conseguir terminar esta crônica como uma crônica. Numa época em que as emoções
se confundem todo o tempo, época que estamos muito cansados de tudo, que ninguém sabe mais se é poema ou crônica, se estamos aqui ou acolá, que não sabemos quem somos... quero poder escrever de tudo um pouco, bem livre, assim, segue
o final...
Poema sem vergonha
Um poema sem vergonha
Nasce...
Se fosse assim, sem
burilo
Seria sem-vergonha
Suponho...
A palavra com retoque
Surge...
Se fosse assim, a
esmo
Seria improviso...
Um verso sem sentido
Confunde...
Se fosse assim,
planejado
Seria estudo...
Um poema sem vergonha
Nasce...
Se é assim ...
sentido
Impressentido!
O POÇO DE VISITA SE ENTUPIU
DE TANTA VERGONHA FALHOU
DE TAMANHO DESCASO RUIU
BUEIRO, SEU NOME É DINHEIRO!
Mote: A história acabou, não haverá nada mais que contar. (Saramago, em Caim)
No bar, o homem embriagado, narra a história da sua vida para o garçom, que muito pouco ou quase nada interessado, escuta apenas, na intenção de vender mais cervejas.
Imobilizada
Ainda trabalho
Muda a regra
Ainda trabalho
Paga pedágio
Ainda trabalho
Deixo o vislumbre
Ainda trabalho
É o fim
Sem atalho
Que nada...
Mais uns anos de tortura
Sem atalho
É o fim
Ainda trabalho
Deixo o vislumbre
Ainda trabalho
Paga pedágio
Ainda trabalho
Muda a regra
Ainda trabalho
Imobilizada
É possível
parcelar as mágoas em suaves prestações? De preferência sem juros, porque
ninguém merece juros disto. Já tive que inutilizar minhas ações, então, por que
tenho que ainda pagar por isso tudo? Por favor, parcele. Parcele essa dívida
comigo mesmo, para que eu possa entender tamanho boicote social, para que eu
possa compreender o motivo pelo qual as pessoas te excluem, se excluem, me
excluem. Fui um mau garoto? Somos boas garotas? A quem os olhos viram ações errôneas?
Minhas opiniões problemáticas te tiraram
da zona de conforto, ou me colocaram na cova? Meu comportamento foi inadequado
ou você se viu no espelho?
É possível
parcelar as mágoas em pequenas prestações? Por favor, parcele minha angústia em
prestações para vida toda, para que eu tenha tempo de pagar essa dívida moral
comigo mesmo; para que eu possa acertar esse déficit a longo prazo e perdoar a
minha inadimplência com esse ser humano que é desprezível, que faz julgar e
sofrer tão facilmente. Por acaso todo esse descaso se deve ao fato de que não é
possível aceitar o que outro diz? Tem coisa que é inafiançável: a fome é
inafiançável, a morte, a pobreza. Não cabe aceitação. Você por acaso já sentiu
alguma coisa dessas? Se sim, então, parcele, por gentileza.
Não.
É possível
providenciar o cancelamento das minhas mágoas? É que o comprador se enganou na
compra, o produto veio com atraso e foi entregue em desacordo com o anunciado. Cancele, por
gentileza!
No vagão do trem lotado,
dois olhares se cruzam.
Dos olhares ali de todos,
esses,
eram os únicos
que se dispunham ao amor.
Era para ser um texto qualquer,
um poema, algo que mostrasse a que veio. O texto escrito inaugural, o introito
anual. O primeiro do ano, o primogênito, aquele que abre-alas para o restante
vir, não importa em que condições. Tudo que começa tem que ser único,
ohhhhhhhhh, porque se espera isso do começo, do empeço, porque se quer isso dos
inícios; era para ser original, isso original, algo nunca visto, algo nunca
escrito. Não veio. Passei os dias tentando escrever o poema, a crônica inicial,
o haicai do ano matemático de 2025, o romance que nunca existirá. Ninguém veio.
Nem a inspiração, nem a ideia, nem a chuva americanizada de brainstorming, nem
uma palavra sequer. Nada.
Assim como na vida, nada é o
original, assim, por aqui também não tem como ser.
O homem levanta os braços para o alto, com as mãos espalmadas,
trêmulas e pede “calma”. A massa de trabalhadores ruidosa e raivosa, olha para
ele. O burburinho continua de uma ponta a outra; no grupo de pessoas, umas
insatisfeitas e outras esperançosas, a falação é intensa. Ele grita novamente
pedindo muita calma, olho no olho, o homem sabe que precisa controlar a
situação; ele faz silêncio e olha novamente no olho de cada trabalhador que
veio até o sindicato para ouvi-lo.... Silêncio... agora o homem pode falar!
Na volta do trabalho a faxineira, cansada da labuta de
limpar, de secar o gelo diário, se depara com a sacola que se mexia num barulho
de choro. Sem hesitar, porque o pobre não tem tempo para isso, abre e vê a
ninhada de pequenos cachorros abandonados. Não sendo mulher de abandonar
ninguém, a senhora sai pela comunidade tentando achar novos donos, pois ela já
tem os seus vários bichos e pensa por um rápido momento “que essa gente é ruim
demais”.
O rapaz vem pensando que sua namorada estava muito triste,
triste mesmo de dar dó; sem conseguir mais uma vez entrar na tão sonhada
faculdade, ela teria mais um ano inteiro pela frente. Sem saber o que dizer, o
sofrimento dele no vagão do metrô também era de dar pena. “O que vou dizer para
ela”, repetidamente ele divagava. Uma menina para do lado dele e diz para ele
comprar um brigadeiro, “compra, por favor”, ela insiste que o brigadeiro que
ela faz, traz muita alegria para quem come. O rapaz compra os brigadeiros, ele
entrega o brigadeiro para sua namorada, e o dia segue mais feliz.
A escritora pensa em como pode escrever sobre os pequenos
gestos humanos, aqueles que nos trazem acalanto ou destruição, afáveis ou ignóbeis.
Lembrou de como cada gesto, acompanhado ou não de palavra, de ação, modifica a
história toda, numa avalanche sem volta. A mulher lembrou do livro que havia
ganhado quando ainda criança. Exatos seis anos; ganhou o livro com dedicatória
linda, mas lembrou que esse gesto ficara lá traz, junto com a criança que ainda
não entendia nada de gestos largos e lindos, porque só pensava em crescer.
A História dos Nossos Gestos, por Cascudo: “Os Gestos são
moedinhas de circulação indispensável e diária, mas ignoramos sua emissão no
Tempo. A crônica, segue para o amigo Mendes.
Sete bagos vou comer
Sete ondas vou pular
Peço sonhos infinitos
Para um deles vingar.
QUERIA PODER ESCREVER
ALGO QUE TE TROUXESSE DE VOLTA
COMO UMA ESPÉCIE DE ACALANTO
QUERIA PODER DIZER: PRUUUUU
QUERIA PODER ENTENDER
ESSE VAZIO QUE SINTO AGORA
QUEM SABE COMO O MEU PRANTO
ARREBENTA OS MUROS DO INFINITO
AS TANTAS FITAS DA SAUDADE
ESTÃO EM MIM
QUERIA MUITO UM POEMA
QUE TE ACHASSE POR AÍ, PERDIDA
COMO UMA ESPÉCIE DE SOPRO: PRUUUU
E TE FIZESSE PULAR DE NOVO
AS IMENSAS FITAS DA SAUDADE
FICARÃO EM MIM
QUERIA DEMAIS UM SONHO
QUERIA TANTO PODER ESCREVER
QUERIA MUITO UM POEMA, MIU ...
AS TANTAS, AS IMENSAS, AS COLORIDAS FITAS
TE LEVARAM PRO CÉU
EM MIM, O VAZIO.
Mote: Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos. (Saramago em As pequenas memórias) Qual alma não vacila? Oscila.....