O boia-fria naquele dia
havia recolhido muito algodão. Estava cansado, muito mesmo. Na hora do almoço
fugiu. Comeu primeiro e depois foi, a passos largos e compassadamente rápidos,
para o lado do morro.
Olhou para vista bela e escultural que as montanhas
desenhavam no horizonte. Uma brisa bem leve arranhou suas feições. Resolveu deitar
no chão-terra. Ali ficou. Pensava em nada. Duas nuvens brancas e fofas fizeram
com que se lembrasse da colheita. Refutou. Ficava ali.
Dois azulões passaram sobrevoando sua cabeça, disso ele
entendia bem, sabia até que era um casal, a fêmea era marrom e o macho azul
forte e vivo. Pensou, agora sim havia tempo para pensar, que era hora de se
casar. De ter alguém com quem voar, de fazer ninho, produzir crias, duas ao
menos; hora de deixar raiz por ali. Teria que procurar na vila uma mulher...
Como em frames, os rostos das moças da fazenda e da vila
foram passando emolduradas pelo céu azul. Não; não; não; não; talvez; nem
pensar; sim! Lembrou-se de como ela dançava bem na Festa de São João. Era bem
ajeitada de rosto e corpo. Quase não falava e pouco sorria.
Passou toda tarde por ali, construindo um amor que antes
nem existia...
O Sol a pino já havia saído do prumo central e rumava
para oeste quando ele se deu conta do seu desatino. Na mesma carreira em que
veio, voltou para a colheita. Embrenhou-se no meio do algodão. Ninguém havia
notado sua ausência.
Colheu. Recolheu. Juntou. Tudo agora fazia mais sentido.
2 comentários:
Adorei o texto .
beijocas
Tia Mariza 25/02/2013
Valeu Tia,
Beijão
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