segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

CRÔNICA DA CRIAÇÃO


          O boia-fria naquele dia havia recolhido muito algodão. Estava cansado, muito mesmo. Na hora do almoço fugiu. Comeu primeiro e depois foi, a passos largos e compassadamente rápidos, para o lado do morro.
           Olhou para vista bela e escultural que as montanhas desenhavam no horizonte. Uma brisa bem leve arranhou suas feições. Resolveu deitar no chão-terra. Ali ficou. Pensava em nada. Duas nuvens brancas e fofas fizeram com que se lembrasse da colheita. Refutou. Ficava ali.
           Dois azulões passaram sobrevoando sua cabeça, disso ele entendia bem, sabia até que era um casal, a fêmea era marrom e o macho azul forte e vivo. Pensou, agora sim havia tempo para pensar, que era hora de se casar. De ter alguém com quem voar, de fazer ninho, produzir crias, duas ao menos; hora de deixar raiz por ali. Teria que procurar na vila uma mulher...
            Como em frames, os rostos das moças da fazenda e da vila foram passando emolduradas pelo céu azul. Não; não; não; não; talvez; nem pensar; sim! Lembrou-se de como ela dançava bem na Festa de São João. Era bem ajeitada de rosto e corpo. Quase não falava e pouco sorria.
            Passou toda tarde por ali, construindo um amor que antes nem existia...
             O Sol a pino já havia saído do prumo central e rumava para oeste quando ele se deu conta do seu desatino. Na mesma carreira em que veio, voltou para a colheita. Embrenhou-se no meio do algodão. Ninguém havia notado sua ausência.
            Colheu. Recolheu. Juntou. Tudo agora fazia mais sentido.
 

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei o texto .
beijocas
Tia Mariza 25/02/2013

Valsa Literária disse...

Valeu Tia,
Beijão

DOIS AXIOMAS RALÉS

  AXIOMA AMOROSO Entender o outro É respeito Aceitar o outro: amor.   AXIOMA REVOLTO Ahhhhhhhhh! Ignorância É a matriz da acei...